Autor

Luís Pessoa

 

Data

15 de Agosto de 1993

 

Secção

Policiário [111]

 

Competição

Torneio Rápidas Policiárias

Prova nº 5 – Problema nº 2

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO EM PEDROGÃO!...

Luís Pessoa

 

O inspector Fidalgo continuava em repouso na praia de Pedrógão, com algum sol, areia fina e mar bravo e frio, para seu desespero, já que tanto aprecia mergulhar e nadar até apetecer…

Os gémeos, uma menina e um menino, foram-se tornando autênticos “astros”", capazes de despertar todas as atenções, atirando essas atenções, por tabela, para o próprio Inspector, o que, manifestamente, lhe não agradava.

Os dias iam passando, monótonos, chatos, mas nem por isso repousados. E ainda por cima este mês de Agosto de 1993 não estava a corresponder ao que dele sempre se esperava…

O Tiago aproximou-se dele e, muito a medo, perguntou:

– É o Inspector Fidalgo?

– Quem quer saber?

– Chamo-me Tiago e o meu pai pensa que o reconheceu por causa dos seus gémeos… Ele leu algures que vinha para cá e que tinha um casal…

– Está bem, sou eu…

– Ainda bem, porque temos uma pequena questão por resolver. Bem, como não temos nada que fazer, inventámos um jogo, muito simples em que cada um conta uma pequena história, do que lhe vem à cabeça, e os restantes tentam decifrar e resolver os enigmas… Parece estúpido, não é verdade?

– De modo nenhum! Digamos que estou desempregado e já tenho saudades de um bom desafio… Sei que andam por aqui sete ou oito concorrentes ao Policiário, mas ninguém aparece, não sei por onde andam… Vamos a isto!

– O que se pede é a resolução do enigma daquela velhota que entrou no jogo e que está a “dar água pela barba”… Repare só no que ela veio para aqui contar:

“Nem sou nova nem velha, nem gorda nem magra, nem alta nem baixa; o que penso que sou é o que aqui podem ver! Faço este ano a idade centenária e, como podem ver, estou como estou! Cem anos de mistério, recheados de histórias que ninguém foi capaz de contar, como quando o meu avô brincou comigo gozando o Napoleão e o meu pai, já bem entradote, regressava da I Grande Guerra, mais destroçado que inteiro, sobretudo psicologicamente, pela vida imunda e ridícula das trincheiras, ao mesmo tempo que corria ao meu lado pelos areais desertos, que nessa altura ninguém, ou pelo menos quase ninguém ia para as praias e eu, feliz e contente por correr a seu lado, ao lado de um combatente, meu herói, também meu pai… Meu Deus, como me orgulhava por ir ali, com o meu biquini preto, bastante discreto, que os tempos obrigavam, e ele numa “cavalgada louca”, como que possuído por uma febre de viver ou, simplesmente, com a força de quem foge de algo que nem ele sabia o que era! Tempos bons, que não retornarão mais….”

O Inspector olhou para o moço e logo a seguir para o vazio do mar revolto… Parecia vê-los correr pelo areal, cabelos soltos ao vento, corpos recortados no horizonte, com o pôr do sol em pano de fundo… O Inspector Fidalgo sorriu…

A – Nunca o avó podia ter gozado o Napoleão.

B – Nunca ela poderia andar como dizia, correndo ao lado do pai.

C – Nunca o pai poderia ter passado por tão grandes privações na I Grande Guerra.

D – Nada do que foi contado se poderia ter passado.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO