Autor

Luís Pessoa

 

Data

29 de Agosto de 1993

 

Secção

Policiário [113]

 

Competição

Torneio Rápidas Policiárias

Prova nº 5 – Problema nº 3

 

Publicação

Público

 

 

O INSPECTOR FIDALGO E O CÃO MENTIROSO

Luís Pessoa

 

Realmente, parecia impossível que um tipo exótico como o Zeca, apesar de aldrabão, inventasse uma história como a que o inspector Fidalgo acabara de ouvir e presenciar!

Insistia o Zeca que o cão que tinha, o “Bilas”, era um mentiroso nato, capaz de ter as piores reacções para enganar quem não conhecia ou quem o seu dono mandasse enganar… Um espanto, em suma!

E quando lhe perguntavam a origem do nome, dizia, sem nexo, que era porque o bicho nascera com olhos amendoados e pêlo preto, como alcatrão, na Quinta das Amendoeiras, assim chamada por ter dessas árvores por todo o lado, ou melhor, como corrigia, só tinha dessas árvores… Podia chamar-lhe o “Amêndoa Doce”, porque os olhos eram meigos, mas parecia bebida alcoólica e nem pensar em confusões…. Portanto, graças à confusão e contraste entre o preto do pêlo e o branco das flores da amendoeira, afigurou-se-lhe que o nome certo era o de “Bilas”… E “Bilas” ficou!

Perceberam, não é verdade?

Mas não se ficava por ali! O cão tinha tratamento de luxo, com um bilhete de identidade onde havia nome, números vários, quer de contribuinte, quer de beneficiário da Segurança Social, signo do Zodíaco (que, por curiosidade, era, gabava o Zeca, dos fortes, o Touro, tal como ele), o grupo sanguíneo, os sinais particulares e mais uma imensidade de dados que ele garantia serem verdadeiros!...

E não valia a pena dizer-lhe que não era bem como ele pensava, porque o Zeca irritava-se a valer e atirava, sem grande propósito, que ninguém tinha nada com isso porque ainda o cão mal abria os olhos meigos e amendoados e nem sabia distingui-lo entre as demais pessoas e já ele, Zeca, o “toscava”, preto retinto no meio do branco monótono!...

Ninguém entendia a relação entre as coisas, mas o que é que se havia de fazer? O Zeca era assim mesmo!

Mas o teste, como era? O tal teste das mentiras…

Ora, explicava o Zeca, se eu o mandar mentir, ladrando a um tipo de que ele até possa gostar, ele fá-lo! Se eu o mandar ser meigo com o seu maior inimigo, ele é-o, sem pestanejar! Sabe obedecer e mentir!

O inspector Fidalgo ria-se…

Ria-se, vá, ria, você tem a mania de pôr nos seus Problemas que um cão ladrou de noite; portanto, foi um estranho que entrou ou então não ladrou e, portanto, foi um dos da casa… Mas se fosse com o “Bilas”", nada disso se passava porque, se eu lhe dissesse para não ladrar a estranhos, ele não ladrava mesmo!...

E o mais interessante de tudo isto era que o dr. Trancoso afiançava que tudo o que o Zeca dizia dos feitos do cão era verdade! Verdadeira! E o que estava no BI era certo, menos os números, claro!

O Zeca estava todo “"inchado”… O seu “Bilas" era um autêntico herói e sonhava vê-lo no cinema, como a Lassie ou o Rin-Tin-Tim

Foi então que se lembrou que era dia 25 de Abril, feriado nacional, e que o seu “Bilinhas” fazia anos no dia seguinte… Dois aninhos!

O inspector Fidalgo encolheu os ombros… Ele já percebera!

 

A – O “Bilas” não podia ter nascido no dia que se indica;

B – Os feitos do cão são todos falsos, sendo mentiras do Zeca para se gabar;

C – Apesar de ter fama de aldrabão, o Zeca não comete deslizes e daí o inspector Fidalgo encolher os ombros;

D – Apesar do cuidado do Zeca e da confirmação do dr. Trancoso, há um deslize, que origina o encolher de ombros do inspector Fidalgo.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO