Autor Data 4 de Março de 2001 Secção Policiário [503] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2001/2002
Prova Preliminar Publicação Público |
O INSPECTOR FIDALGO E A MORTE DO VELHO PADEIRO Luís Pessoa O velhote fazia parte do folclore
daquela terreola e daí que quase toda a gente tenha estado presente no seu
funeral. No fundo do cortejo caminhava um indivíduo que ninguém conhecia e
que ali estava para investigar a morte triste do padeiro. Suspeitava-se e era
afirmado em surdina, que havia sido o sobrinho ou o filho, ou ambos que
tinham feito o trabalhinho ao velho, mas tudo não passava de conjecturas. O velho era um homem de
hábitos e tinha a mania pouco saudável de fechar janelas e portas enquanto
fazia o pão num forno que funcionava a gás. Foi o gás que o matou. O forno
ter-se-á apagado e o gás espalhou-se pelo compartimento, terminando com a
vida do velho. Mas dizia-se que tinha
havido ajudinha… Que o forno não se apagava assim… Que o sobrinho era um
malandro de tal ordem que até ao velho batia… Que o filho era um jogador de
batota e que todo o dinheiro que apanhava ficava no jogo… Que o velho tinha
um desgosto terrível e estava farto da vida… Dizia-se! O Inspector
Fidalgo foi ouvindo aqui e ali, foi alinhavando as suas ideias… Certo, certo,
apenas que o velho morrera intoxicado pelo gás. O sobrinho: Quero lá saber
do velho… Era um grande chato mas não tenho nada que ver com a morte dele… Já
o tinham avisado para ter cuidado com o gás, mas era teimoso como um burro e
estava-se mesmo a ver que tinha de acontecer uma coisa destas… Que coisa? Um
acidente, pois então?!… Não, nunca bati ao meu tio e muitas vezes fui eu quem
o acordou às tantas da matina, quando se deixava adormecer no banco onde
morreu agora… O filho: Não quero saber de
nada disso… O que interessa é que está morto e enterrado e não chateia mais
ninguém, principalmente a mim… Estive fora quase toda a noite, no princípio
num baile na aldeia de cima e depois andei a passear pelos campos, sozinho, a
apreciar a noite calma… Sim, fui eu que descobri o velho morto, mas isso não
quer dizer que o tenha morto, não acha?… Só sei que eram quase cinco da manhã
quando entrei em casa. Não dei conta de nada de especial porque estava tudo
às escuras… Puxei de um último cigarro e foi quando acendi o isqueiro que
reparei que o meu pai estado deitado no chão e que cheirava a gás que mal se
respirava… Corri até á janela e abri-a para arejar e fiz o mesmo com a porta…
mas para o pai era tarde… Não sei se ele se matou ou se foi um acidente, o
que sei é que morreu e sou o herdeiro dos seus bens… O Inspector
fechou a sua revolta num cerrar de pálpebras e recapitulou lentamente, em
pensamento… A – Apenas pode ter sido
acidente; B – Foi o velho que se
suicidou por causa do ambiente que tinha em casa; C – Foi o filho que o matou
para herdar os bens; D – Foi o sobrinho que o
matou porque estava farto de aturar o velho e de o acordar a meio da noite.
|
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|