Autor

Mabuse

 

Data

17 de Novembro de 1977

 

Secção

Mistério... Policiário [140]

 

Competição

Torneio “4 Estações 77” | Torneio C – Verão

Prova nº 3

 

Publicação

Mundo de Aventuras [216]

 

 

Solução de:

SUICÍDIO OU CRIME?

Mabuse

Apresentada por Detective Misterioso

1 – Sem qualquer dúvida, o inspector Petronilho considerou ter havido crime, pois os factos são irrefutáveis nesse sentido, vejamos:

2 – a) A total ausência de impressões digitais da vítima dentro da caso de banho, prova não haver suicídio, porquanto, sabendo-se de antemão que o industrial não tinha luvas calçados, as suas impressões digitais teriam forçosamente de encontrar-se nos puxadores da porta, chave, etc., etc. Como tal não acontece, não resta qualquer dúvida que houve o cuidado de fazer desaparecer todas e quaisquer impressões digitais, antigas e recentes, que teriam de existir, tanto do industrial como de qualquer pessoa residente na vivenda. Como o candidato a suicida (caso o houvesse) não se preocuparia em fazer desaparecer as referidas impressões digitais, só nos resta concluir que isso foi obra de outra pessoa, e como tal, por alguém que teria todo o interesse em que as suas não fossem visíveis, porém, esse excesso de cuidados, foi quanto a mim um dos maiores erros dessa mesma pessoa, originando ter de pôr de parte a hipótese de suicídio.

b) Também o facto de a pistola só ter na coronha as impressões digitais da vítima, prova igualmente não ter havido suicídio, pois caso contrário, a arma apresentaria as impressões digitais do industrial por toda ela (arma), nomeadamente no gatilho, onde, implicitamente, o industrial teria de tocar para a fazer disparar.

c) A arma utilizada foi uma pistola, como esta arma, ao disparar expulsa a cápsula detonada, em caso de suicídio, a referida cápsula teria de estar caída, algures na casa de banho, como tal não sucede, fica mais que provado que o industrial foi assassinado, talvez até fora da casa de banho.

d) A não indicação de vestígios de sangue, pressupõe que eles não existem, pelo que, se considera mais uma prova, a juntar às outras, comprovativa do que na verdade não houve suicídio.

e) Diz o sobrinho da vítima que quando ouviu o tiro, bateu à porta da casa de banho, concluindo de imediato, que esta estava fechada à chave. Como pode ele ter chegado a tal conclusão se nem sequer tentou abri-la?

f) Consequentemente, como é que sabia também que a chave estava por dentro?

g) Um suicídio representa um tiro dado à queima-roupa, logo, é natural que a bala entre e saia do corpo, se acaso não encontrar pelo seu caminho um obstáculo que impeça a sua «viagem» (da bala, evidentemente), o que poderá ter acontecido neste caso, no entanto, e nisso nada o impediria, o local por onde a bala entrou, teria de apresentar vestígios de pólvora, se na verdade tivesse sido suicídio.

h) Um pouco estranho que em caso de suicídio, o industrial tivesse escrito um bilhete à máquina, e que somente o assinasse com as suas iniciais.

i) Igualmente estranho que o industrial pensasse em se suicidar de roupão de banho e chinelas de quarto.

j) Por outro lado, não é admissível que o sobrinho depois de ouvir o tiro e batido à porta da casa de banho, não a tivesse arrombado logo que não obteve resposta, para, caso necessário, prestar os primeiros socorros a seu tio, isto claro, se não tivesse sido ele a assassinar o tio.

Apresentadas que foram as várias provas destruidoras da hipótese de suicídio, resta apresentar como teria actuado o criminoso.

O sobrinho da vítima, por motivos que não posso aperceber-me (talvez dinheiros), resolve assassinar o tio. Para isso, alveja-o a tiro com uma pistola, fora ou dentro da casa de banho. Se foi fora, depois de consumado o crime, arrastou o corpo para aquela dependência, se foi dentro da mesma, só não teve de carregar com o corpo para lá, já que o resto se processou de igual modo.

Perpretado o crime, procedeu à sua encenação para fazer crer tratar-se de um suicídio. Para isso, fez desaparecer as várias provas que o pudessem incriminar, tais como, desaparecimento de impressões digitais, vestígios de sangue, etc., etc., colocando ao pé do corpo o bilhete dactilografado e na mão da vítima, a pistola assassina, só que a encenação foi demasiado eficaz, pelo que ele (sobrinho), foi vítima da sua própria encenação.

Feita a referida encenação, o criminoso fechou à chave, por fora, a porta da casa de banho, tendo em seguida arremessado pela frincha da mesma porta, junto ao chão, a chave, que ficou no local onde o inspector a foi encontrar. Depois foi o telefonema a comunicar o caso ao inspector Petronilho.

© DANIEL FALCÃO