Autor Data 16 de Julho de 2017 Secção Competição Prova nº 6 Publicação Audiência GP Grande Porto |
UMA VEDETA DO TEATRO MUSICADO NA TV GLOBO Madame Eclética Uma das maiores vedetas do
teatro brasileiro aceitara o convite da TV Globo para fazer a sua estreia em telenovelas,
havendo o compromisso de ambas as partes em manter sigiloso aquele acordo
negocial até ao arranque da transmissão da novela, ainda sem data marcada.
Mas apesar de todas as precauções, dois dias após o início dos ensaios
técnicos no “plateau”, envolvendo apenas o realizador, três dos artistas com
participação na gravação dos quatro primeiros episódios e os chefes de
câmaras, iluminação, cenografia, guarda-roupa e som, um dos mais importantes
jornais do Rio de Janeiro fez chamada de primeira página sobre o assunto, com
extenso desenvolvimento no interior, onde se refere alguém da produção como
fonte da notícia. O diretor de produção foi
imediatamente convocado pela administração do canal para dar explicações
sobre o assunto, tendo-se declarado surpreendido com o sucedido, alegando em
sua defesa não ter notado quaisquer sinais que o levem a suspeitar de alguém.
No final da reunião, foi-lhe então recordado que todos os artistas, técnicos
e demais colaboradores envolvidos nos trabalhos estão obrigados ao dever de
confidencialidade, sujeitos ao acionamento de uma cláusula que pode
determinar despedimento com justa causa, com uma forte indeminização
associada face a qualquer incumprimento. E, em jeito de ameaça, foi-lhe dito
ser imperioso que o autor do homicídio cometido no início da novela seja
apenas desvendado no último episódio. Um conceituado detetive
privado foi apresentado no dia seguinte como fotógrafo de “plateau”. De
máquina em punho, foi registando diversos momentos dos ensaios. E, ao fim da
tarde, com o pretexto de oferecer a cada um dos intervenientes uma foto dos
trabalhos, trocou algumas palavras com todos. A vedeta, a popular Betty
Frank, confidenciou não concordar com o segredo sobre os ensaios. O ator que
faz par romântico com a protagonista, de seu nome Tony Claro, admitiu também
não lhe agradar o segredo imposto pelo canal. A atriz que interpreta a
personagem que é assassinada no primeiro episódio, a veterana Neuza Cocker,
reconheceu ser um exagero a confidencialidade exigida. E a jovem revelação
televisiva Débora Motta também. No que respeita aos
técnicos de “plateau”, foi possível apurar que o realizador, Aguinaldo
Azeredo, também não estava de acordo com a política de silêncio imposta sobre
a produção da novela. O chefe de câmaras, Gilberto Nery,
declarava-se focado nas suas funções e completamente nas tintas para a
divulgação dos trabalhos. O chefe de iluminação, Botelho Nora, não estava
interessado em fazer luz sobre a opinião que tinha sobre o assunto. O chefe
de cenografia, Afonso Xavier, não estava nada preocupado com o cenário da
situação. O chefe de som, Moniz Falcão, fazia orelhas moucas sobre o
problema. E a chefe de guarda-roupa, Tânia Carvalho, não dava ponto nem nó
acerca do tema, despindo-se de qualquer interesse sobre tal. Na manhã seguinte, a novela
foi outra vez assunto numa notícia do mesmo jornal carioca, onde se fazia
saber, através de fonte não identificada, que a personagem interpretada pela
veterana atriz Neuza Cocker é assassinada no primeiro episódio da novela, num
texto ilustrado com uma foto de ensaio da respetiva cena. E a fonte da
notícia foi imediatamente identificada pelo detetive, para satisfação da
administração do canal e grande surpresa do diretor de produção, que ainda
está por saber como é que ele soube quem passava as notícias para o jornal. E o leitor sabe como é que
o detetive descobriu quem passava a informação sobre os trabalhos de
preparação da telenovela para o jornal carioca? Antes, porém, aqui fica o
conselho de leituras atentas julgadas necessárias a uma correta interpretação
do enigma. |
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© DANIEL FALCÃO |
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