Autor

Madame Eclética

 

Data

16 de Julho de 2017

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [27]

 

Competição

Torneio Policiário 2017

Prova nº 6

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

UMA VEDETA DO TEATRO MUSICADO NA TV GLOBO

Madame Eclética

 

Uma das maiores vedetas do teatro brasileiro aceitara o convite da TV Globo para fazer a sua estreia em telenovelas, havendo o compromisso de ambas as partes em manter sigiloso aquele acordo negocial até ao arranque da transmissão da novela, ainda sem data marcada. Mas apesar de todas as precauções, dois dias após o início dos ensaios técnicos no “plateau”, envolvendo apenas o realizador, três dos artistas com participação na gravação dos quatro primeiros episódios e os chefes de câmaras, iluminação, cenografia, guarda-roupa e som, um dos mais importantes jornais do Rio de Janeiro fez chamada de primeira página sobre o assunto, com extenso desenvolvimento no interior, onde se refere alguém da produção como fonte da notícia.

O diretor de produção foi imediatamente convocado pela administração do canal para dar explicações sobre o assunto, tendo-se declarado surpreendido com o sucedido, alegando em sua defesa não ter notado quaisquer sinais que o levem a suspeitar de alguém. No final da reunião, foi-lhe então recordado que todos os artistas, técnicos e demais colaboradores envolvidos nos trabalhos estão obrigados ao dever de confidencialidade, sujeitos ao acionamento de uma cláusula que pode determinar despedimento com justa causa, com uma forte indeminização associada face a qualquer incumprimento. E, em jeito de ameaça, foi-lhe dito ser imperioso que o autor do homicídio cometido no início da novela seja apenas desvendado no último episódio.

Um conceituado detetive privado foi apresentado no dia seguinte como fotógrafo de “plateau”. De máquina em punho, foi registando diversos momentos dos ensaios. E, ao fim da tarde, com o pretexto de oferecer a cada um dos intervenientes uma foto dos trabalhos, trocou algumas palavras com todos. A vedeta, a popular Betty Frank, confidenciou não concordar com o segredo sobre os ensaios. O ator que faz par romântico com a protagonista, de seu nome Tony Claro, admitiu também não lhe agradar o segredo imposto pelo canal. A atriz que interpreta a personagem que é assassinada no primeiro episódio, a veterana Neuza Cocker, reconheceu ser um exagero a confidencialidade exigida. E a jovem revelação televisiva Débora Motta também.

No que respeita aos técnicos de “plateau”, foi possível apurar que o realizador, Aguinaldo Azeredo, também não estava de acordo com a política de silêncio imposta sobre a produção da novela. O chefe de câmaras, Gilberto Nery, declarava-se focado nas suas funções e completamente nas tintas para a divulgação dos trabalhos. O chefe de iluminação, Botelho Nora, não estava interessado em fazer luz sobre a opinião que tinha sobre o assunto. O chefe de cenografia, Afonso Xavier, não estava nada preocupado com o cenário da situação. O chefe de som, Moniz Falcão, fazia orelhas moucas sobre o problema. E a chefe de guarda-roupa, Tânia Carvalho, não dava ponto nem nó acerca do tema, despindo-se de qualquer interesse sobre tal.

Na manhã seguinte, a novela foi outra vez assunto numa notícia do mesmo jornal carioca, onde se fazia saber, através de fonte não identificada, que a personagem interpretada pela veterana atriz Neuza Cocker é assassinada no primeiro episódio da novela, num texto ilustrado com uma foto de ensaio da respetiva cena. E a fonte da notícia foi imediatamente identificada pelo detetive, para satisfação da administração do canal e grande surpresa do diretor de produção, que ainda está por saber como é que ele soube quem passava as notícias para o jornal.

E o leitor sabe como é que o detetive descobriu quem passava a informação sobre os trabalhos de preparação da telenovela para o jornal carioca? Antes, porém, aqui fica o conselho de leituras atentas julgadas necessárias a uma correta interpretação do enigma.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO