Autores Data 22 de Abril de 2022 Secção Correio Policial [551] Publicação Correio do Ribatejo |
A MORTE NO PALCO Marvel – E agora,
senhoras e senhores, – anunciou o locutor – um caso policial apresentado em
desafio ao vosso raciocínio e perspicácia. Estrugiram palmas.
O pano subiu, deixando ver uma sala com duas portas laterais e uma central,
fronteiriça à plateia. Ouve-se uma voz: – Ante os
olhos dos senhores espectadores, acha-se o local onde o crime vai ser
perpetrado. Uma sala vulgar, alegre, inocente. Eis que alguém entra. Quem é?
A vítima. Notam-lhe quaisquer sintomas de preocupação? De medo? Não, move-se
com absoluta tranquilidade, como se o fim ainda tivesse longe. Não pode
adivinhar que… Olhem… reparem, senhores
espectadores, a porta direita… Uma mão armada
de pistola emergiu duma das saídas laterais, apontando para a vítima, de
costas junto da porta central. Da plateia, o insp.
Borges assentou o seu binóculo para o membro prestes a tornar-se assassino.
Analisava o mais precisamente possível os dois anéis que rodeavam igual
número de dedos daquela mão… Sentiu-se particularmente atraído pelo brilho de
um azul intenso que se desprendia da pedra de um deles. Um tiro… A
vítima cai… A mão desapareceu… – O crime foi
cometido à vossa vista, senhores espectadores. Assistiram a um crime frio,
cobarde e repugnante. Ouvem-se passos. Vão entrar os três suspeitos. Um deles
é o culpado. Mas cuidado! Não vos deixeis influenciar pelo que transpuser a
porta donde o tiro partiu. O assassino entrará por outra… Ei-los… Quase ao mesmo
tempo três homens entraram no palco, cada um pela sua porta. O insp. Borges dirigiu o seu binóculo para o que entrou
pela porta central, procurando-lhe as mãos. Examinou-lhe a esquerda. Não tinha
anéis. Em seguida fitou mais demoradamente a direita. O par de anéis desta
era maravilhoso. Decorreram alguns minutos. – Desvendem o
crime, senhores espectadores. Vinguem a morte daquele infeliz. Todos os dados
necessários vos foram expostos. A resposta foi
um silêncio. Um silêncio que se eternizaria se o insp.
Borges não chamasse a si a iniciativa. Pergunta-se:
Qual dos três suspeitos lhe parece ter sido o culpado?
|
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|