Autor

M. B. D.

 

Data

28 de Novembro de 1999

 

Secção

Policiário [437]

 

Competição

Torneio “Fórmula 1”

Torneio “Detective Said

Prova nº 4

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

O PAI NATAL DESMASCARADO…

M. B. D.

 

Embevecido, com a netinha sentada nos joelhos, o avô Dinis ouviu as justificações desta acerca da maneira como desmascarara o Pai Natal.

Ficou a saber que não foi através de qualquer indício físico ou de vestuário, porquanto o disfarce tinha sido perfeito, impedindo que se vislumbrassem traços fisionómicos (borbulhas, verrugas, dentes partidos ou em falta, sobrancelhas e quejandos), tal como no referente às mãos (formato e características, corte das unhas ou anéis), pois efectivamente a “camuflagem” (capuz, barbas, luvas e botas natalícias) resultara em pleno.

Outrotanto, o tom da voz (propositadamente) roufenho, obstava o reconhecimento por essa via.

A Maria Inês começou a suspeitar da “tramoia” quando, pela falta de óculos, o Pai Natal precisou que lhe indicassem o nome dos prendados. Que diacho, ele tinha (deveria ter) poderes para saber a quem entregar os embrulhos. Portanto, para quê as etiquetas com o nome de a quem se destinavam?! Para quê, igualmente, estar a chamar os prendados (“Onde está…?”, “Quem é…?”), em evidente demonstração de não saber de quem se tratava?!

É que, se assim não fosse, se não tivesse esses poderes, como saberia quais as prendas desejadas?!… E ela fora contemplada com a tão desejada “Barbie”, assim como o Rafael recebera o “Action Man” com que sonhava… Todavia, soube destrinçar crianças (“menina Maria Inês”, “menino Rafael Henrique”) e adultos (“srª. Maria José”, “sr. Fernando Manuel”), apesar de a sua “assessora” ter referenciado estes com diminutivos (“Zezinha” e “Nando”), enquanto naqueles apenas indicara os nomes.

Normal seria precisamente o contrário isto é, que os diminutivos fossem alusivos às crianças e só quem estivesse ao corrente do âmbito familiar saberia que o casal Dinis mais idoso continuava a denominar os filhos do mesmo modo que sempre fizera, enquanto no referente aos netos seguira as pisadas dos pais destes, utilizando os seus nomes próprios.

Para além disso, a avó Lurdes tão só mencionara um nome para cada designado (Inês, Rafael, Zezinha, Nando) pelo que o adicionamento do outro (Maria Inês, Rafael Henrique, Maria José, Fernando Manuel) não estava em concordância com o desconhecimento de quem errar.

Depois, atentou noutros aspectos:

– Terem chamado a atenção das crianças para o batimento na porta (inclusive, insistindo com a Maria Leonor nesse sentido), circunstância invulgar, mais ainda àquela hora tardia.

– O Pai Natal ter entrado pela porta, pois, na sua concepção, deveria tê-lo feito pela chaminé (era isso que ela via nos anúncios televisivos), a qual nem sequer tinha sido estreada, pelo que estaria limpa e não se sujaria.

(O avô Dinis avaliou pertinente esta “lógica infantil”, rememorando o tal conto baseado na história da “Branca de Neve” que serviu de introito quando da apresentação do problema.)

Ora tudo isto buliu com a argúcia da Maria Inês, transmitindo-lhe a suspeição de o Pai Natal não ser o genuíno. Daí o motivo de ter olhado um a um, todos os participantes, dando pela falta do avô Manuel e concluindo, por isso, ser ele quem estava dentro da fatiota natalícia.

© DANIEL FALCÃO