Autor

M. B. D.

 

Data

15 de Outubro de 2000

 

Secção

Policiário [483]

 

Competição

Torneio 2000

Prova nº 7

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

UM CASO… AO ACASO

M. B. D.

 

Avisei-vos, meus caros: “O caso foi um dos mais curiosos e desconcertantes da minha carreira… Desconcertante, porque o seu desfecho teve algo de original e de imprevisto…

Perante isto, havia que estar com a “pedra no sapato”, como soe dizer-se. E os pormenores iriam saltando:

– Não é descrita a forma como se deu a morte;

– Em todo o texto, não se alude a crime, armas, ferimentos e quejandos;

– Os suspeitos atiram todos as culpas para cima de si próprios;

– “… apareceu o relatório do médico legista e tudo se esclareceu…”

Tendo em conta estas premissas e colocando as “cinzentas” a trabalhar – espero que o tenham feito de modo suave, sem atingir “voltagem” tão intensa que tivesse saltado a “tampa do recipiente” –, presumo óbvias as seguintes conclusões:

1ª – Uma vez que não é feita qualquer menção acerca de punhais, revólveres, pisto-lhas e coisas similares, nem tão pouco registado ferimento – proveniente de bala ou de faca –, círculo à volta do pescoço – asfixiamento – ou sangue, depreende-se que nenhuma dessas coisas existe, pois, segundo a mais elementar das lógicas, se existisse, seria feita a consentânea referência.

2ª – Dado que não se fala em crime, nem em criminoso, infere-se que o inspector – que ao passar o caso para as suas memórias era já sabedor do epílogo – evitou propositadamente essas palavras. E se o fez, lá tinha as suas razões, o mesmo sucedendo com a hipótese de suicídio.

3ª – Como os suspeitos atiram com as culpas para cima de si próprios – numa flagrante demonstração de que pretendem livrar de responsabilidades aqueles que o inspector acusa, embora se incriminem a si próprios –, aquilo que poderia parecer uma combinação entre os três suspeitos, a fim de “deitar poeira para os olhos” do investigador, demonstra cabalmente que nenhum era culpado, pois, se o fossem, não se iriam incriminar – antes pelo contrário, fariam o possível para escapar. Igualmente, não se tratava de eventual tramóia, porquanto, facilmente arranjariam outras respostas para a – genial! –“estratégia” utilizada pelo investigador.

Era, isso sim, um círculo de amizade: Barnabé tentando salvar a noiva; Francelina defendendo o futuro genro; Josefina procurando salvar a mãe.

4ª Finalmente, o relatório do médico legista esclareceu tudo, ao apresentar a grande “bomba”: A MORTE FORA NATURAL!

 

Enfim, bem vos alertei para o desfecho desconcertante, original, imprevisto…

© DANIEL FALCÃO