Autor

M. Constantino

 

Data

12 de Dezembro de 1993

 

Secção

Policiário [128]

 

Competição

Supertorneio Policiário 1993

Prova nº 9

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

QUANDO O FEITICEIRO INVESTIGA…

M. Constantino

 

Mong, o feiticeiro, observou a entrada da gruta onde o gamo fora depositado e viu as ervas esmagadas – gramíneas e aliárias. Poderia ter deduzido que o ladrão lhes tinha colocado uma pele por cima para ocultar as suas pegadas, mas, por outro lado, também poderiam ter sido os rapazes que espezinharam as ervas. Assim, decidiu recorrer à psicologia inata de todos os feiticeiros e usar a sua dança acusadora para assustar o culpado e conseguir um gesto de denúncia. Mas ao aproximar-se de cada homem (tinha a certeza que nenhuma mulher ou rapaz individualmente teria força para empurrar a pedra que servia de porta da caverna), ameaçando-o com as garras aduncas, pisando-lhe os pés, notou as marcas vermelhas dos frutos do sabugueiro nos pés de U-ai-ai. Quando viu que aquelas coincidiam com o desusado cheiro a alho que provinha de U-ai-ai, devido às aliárias espezinhadas, não teve dúvidas sobre o culpado. De facto, aquelas ervas, quando esmagadas, deixam um forte cheiro a alho… e a pele que contactara com aquelas conservou o cheiro activo. Ali estava o seu homem! O culpado acabou por sucumbir à tortura… e abateu-se na poeira, incapaz de suportar o medo e a culpa. Depois a confirmação: não só a carne vomitada, como as pequenas marcas circulares vermelhas nos pés, que adquirira ao pisar as bagas do sabugueiro: as pequenas bagas negras, quando maduras, contêm um interior vermelho-arroxeado e, quando são pisadas, deixam marcas vermelhas.

© DANIEL FALCÃO