Autor

MDV

 

Data

15 de Setembro de 2025

 

Secção

Momento do Policiário

 

Competição

1º Torneio Policiário Português Suave - Simplex

Problema nº 8

 

Publicação

Blogue Momento do Policiário

 

 

A CULPADA É A VODKA

MDV

 

Leonardo dobrou a esquina da casa de Borges a rastejar. Ele movia-se com cautela, mas de um modo algo instável. Já tinha bebido meia garrafa de vodka na companhia dos amigos e sentia-se muito bêbado. Borges nunca trancava a porta das traseiras e guardava as bebidas alcoólicas num armário logo ali. Quando espreitou pela janela Leonardo viu Borges guardar a garrafa de vodka na prateleira do meio. Por esta altura, Borges já teria desmaiado na sala, em frente ao televisor, que era o modo como ele passava todos os fins de tarde do longo e frio inverno. O plano de Leonardo era entrar em casa de Borges pela porta das traseiras, roubar a vodka e voltar para sua casa antes de Borges acordar.

O programa de televisão que estava a dar era daqueles reality shows ridículos. O volume estava tão alto que poderia acordar os mortos, mas Borges devia estar a ressonar. Leonardo girou a maçaneta devagar e empurrou a porta, que chiava, até abrir o suficiente para se esgueirar para o interior. As suas botas cobertas de neve deixavam poças no chão mas o velho Borges nunca repararia. Fosse como fosse, desde que a mulher dele morrera, a casa inteira parecia uma pocilga.

Mais uns passos. Uma das tábuas do chão estalou. Leonardo parou esperou, não ouviu nada e prosseguiu. Depois, abriu o armário, procurou lá dentro e pegou na garrafa da vodka. Devagar exclamou: «Boa!» Depois, virou a garrafa para dar um gole.

Uma luz brilhante inundou a cozinha. Borges estava na entrada da porta; pelos do peito cinzentos e encaracolados espreitavam pela abertura do seu roupão de flanela.

– Miúdo! Põe isso onde estava! – gritou ele.

Leonardo puxou de um canivete.

– Afasta-te de mim, velho!

Borges atacou Leonardo, atirando-se a ele e à garrafa ao chão, e conseguiu agarrar o canivete. Eles lutaram no chão durante um bom bocado. Borges mantinha Leonardo imobilizado, até que ele se libertou e desatou a correr para fora da casa, sangrando de uma única ferida no peito.

Já no exterior, Leonardo pegou no telemóvel para ligar para o 112.

– Ajudem-me – gritou ele. – O Borges esfaqueou-me no peito. Leonardo foi levado para o hospital e, num dos lados do peito, os médicos da urgência encontraram um ferimento com um formato irregular, que era mais largo que profundo. Uma cirurgia de imediato e os cirurgiões que o operaram salvaram-lhe por isso a vida.

Tendo em conta a história que Leonardo contou depois de ter recuperado, bem como o relatório dos médicos que o operaram, a Polícia chegou à conclusão de que Borges não tinha de forma alguma esfaqueado o Leonardo. Mas não teria sido esta uma conclusão errada? Ou teria o Leonardo sido mesmo esfaqueado pelo Borges?

 

Dê o seu parecer, justificando-o…!

 

 

© DANIEL FALCÃO