Autor Data 17 de Janeiro de 2010 Secção Policiário [965] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2010 Prova nº 1 (Parte II) Publicação Público |
O COLAR DE ESMERALDAS Medvet A
Baronesa de Faial usou o seu famoso colar de esmeraldas no baile da gala que
abriu a temporada de festas da estação. Quando voltou para casa nessa noite, ou
melhor, de manhã cedo, tirou o colar antes de se retirar para o seu quarto e
deu-o a seu marido. O barão estava acompanhado do seu secretário particular,
o qual viu a baronesa entregar o colar e dirigiram-se os dois para o estúdio,
onde colocaram a jóia numa gaveta interior do
cofre; essa gaveta foi fechada com uma chave especial que nunca saía da posse
do barão. O cofre foi, então, fechado por Bastos, o secretário, e a
combinação refeita. No
dia seguinte o assunto das conversas acabou por girar em torno de jóias famosas e um dos convidados, um tal senhor Gomes,
que apenas chegara nessa manhã antes do almoço e era considerado um perito em
jóias de considerável reputação, pediu para ver o
famoso colar. O barão e Bastos, de acordo com o procedimento habitual, foram
juntos retirar o colar do cofre, com o secretário a fazer girar a combinação
e o dono da jóia abrindo a gaveta interior com a
chavezinha que usava dia e noite num fino mas robusto cordão pendente do
pescoço. Quando
voltaram para a sala, o barão disse rindo que apenas em ocasiões muito
especiais a jóia ficava na casa. Era retirada do
banco onde era guardada quando era preciso e devolvida ao banco no dia
seguinte. Uma vez que o baile de gala terminara muito tarde e toda a gente na
casa se levantara tarde nesse dia, o colar ainda estava no cofre, mas Bastos
levá-lo-ia no primeiro comboio da manhã para a cidade. O
sr. Gomes não fez comentários e tirou o colar das
mãos do barão; levantando ligeiramente as sobrancelhas, mas sem dizer nada.
Levou o colar para perto da janela, onde a luz era melhor, e examinou-o de
perto e com cuidado. O barão, interessado pelo escrutínio cuidadoso,
dirigiu-se para o seu convidado e perguntou a sua opinião a respeito da
famosa jóia. “Antes,
ainda tenho que o ver” – foi a resposta seca e o barão fitou-o espantado. “Ora,
homem, você tem-no nas mãos” – replicou, um pouco indignado. Gomes
fitou-o nos olhos. “Meu
caro Carlos, isto não é mais que uma imitação razoável. Para começar, as
gemas são de pasta.” “Tem
a certeza?” “Apostaria
a minha reputação profissional. Se não me acredita, chame o Bastos. Creio que
ele tem um razoável conhecimento de gemas.” O
secretário foi chamado e mostraram-lhe o colar. “Diga-me
o que pensa disto”, disse Gomes, de modo casual. O
secretário agarrou no colar com uma expressão perplexa, que não tardou a
mudar para assombro à medida que examinava a jóia. “Ora…
isto não é o colar – gaguejou. Não passa de uma imitação razoável, é tudo o que posso dizer.” “É
de admirar que não tenham notado isso antes!” – replicou
o barão. “Senhor,
esquece que há muito tempo que não lhe mexo.” “É
verdade, desculpe.” Bastos trouxera o pacote selado com o selo do banco e
fora o próprio barão quem quebrara o selo e abrira o pacote. Fizera isto na
presença do secretário, como sempre – a presença de Bastos era habitual
sempre que a jóia era posta ou tirada do cofre. Era
um caso nítido de substituição, mas uma vez que não havia sinais de vigarice,
o barão estava relutante em informar a polícia. No entanto, um antigo
polícia, um tal inspector Fagundes que morava
perto, era das suas relações. Assim, o barão, ansioso para esclarecer este
assunto, sem grande barulho decidiu chamá-lo e explicou-lhe o problema. Fagundes
tomou nota dos factos: o colar estava no banco desde a última vez que fora
usado, cerca de três meses antes. O pacote com os selos do banco fora trazido
por Bastos na véspera, o dia do baile de gala. O barão em pessoa abriu-o na
presença do secretário e ambos admiraram a jóia na
sua caixa. Nenhum lhe tocara e como de costume foram os dois pôr a caixa com
a jóia no cofre, onde ficou fechada até a dona a
pedir nessa noite. De novo foram os dois buscar o colar, com a diferença que
desta vez a caixa ficou no cofre, tendo o barão trazido a jóia
na mão. Ninguém notou nada de especial, nem a baronesa nem pessoa alguma no
baile –, mas estas talvez vissem o colar pela primeira vez. Aparentemente,
parecia que a substituição se dera entre o momento em que o colar fora
fechado no cofre nessa madrugada e a ocasião em que fora mostrado a Gomes.
Mas o cofre não tinha sinais de arrombamento; o secretário conhecia a
combinação, mas não tinha acesso à chave da gaveta. O barão tomara todas as
precauções possíveis para que a chave não lhe fosse arrancada do pescoço,
mesmo a dormir, já que tinha o sono leve. Além disso, a chave tinha sido
comprada havia três anos, isto é, mais de 18 meses antes de Bastos entrar ao
serviço. Bastos
não deixara a casa, de modo que, se por acaso fora o autor da substituição, o
colar estaria ainda por ali. Uma busca de todo o edifício nada revelou. O
próprio secretário alvitrou que se buscasse a jóia
nos seus aposentos, na sua bagagem e nele próprio. Nada apareceu, mas
Fagundes já estava convencido de que nada se encontraria. O barão poderia ter
sido o culpado, talvez para vender a jóia sem dizer
nada a ninguém; a baronesa não teria motivo (nem oportunidade). Quanto a
Gomes, só chegara a casa depois de a jóia estar
fechada no cofre. Havia mais dois convidados, um jovem chamado Santos que a
Fagundes pareceu ter a energia de um lagarto ao sol, tendo dito vagamente que
era primo da baronesa. A outra convidada, Elvira Raiva, era uma jovem atractiva e vivaz. Fagundes
ainda pensou que a troca se efectuara no baile, mas
a baronesa disse que não deixara ninguém tocar no colar, nem a jóia saíra da sua vista durante todo o tempo, até a dar a
seu marido para a pôr no cofre. Ajudem
o inspector Fagundes a navegar neste mar de
dúvidas. Quem foi a pessoa responsável pela troca? E como e quando esta foi
feita? |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|