Autor

Mikas Spillane

 

Data

27 de Dezembro de 1986

 

Secção

Sábado Policiário [55]

 

Competição

Torneio de Outono

Problema nº 6

 

Publicação

Diário Popular

 

 

MORTE AO VIRAR DA ESQUINA

Mikas Spillane

 

Estamos em Chicago em 1930.

A lei seca provocara há um ano uma agitação tremenda entre os vários bandos de «gangsters» e a Mafia.

O fabrico ilegal de álcool faz-se em cada barracão abandonado, e a Polícia, altamente corrompida te, não consegue pôr termo a tudo isto! É por isso que esta operação desencadeada pelo Coronel T é da maior importância. Após grandes esforços conseguira fazer infiltrar o Agente X numa das quadrilhas; mas haviam surgido alguns problemas…

Com efeito, o Agente X encontrava-se em maus lençóis. A quadrilha em que tinha conseguido infiltrar-se tinha começado a desconfiar dele, e, naquele preciso momento, três dos seus supostos «colegas» procuravam-no pela cidade.

No dia 3 de Agosto, um dia de calor seco e tórrido como tinha sido sempre até aí, o Agente X tinha ficado de se encontrar, ou melhor, de se instalar num hotel velho e de reputação suspeita, onde seria contactado pelo Coronel T que desejava saber quais os progressos que linha feito até aí. No entanto, o Agente X não se sentia seguro pois pressentia que era seguido! E realmente era! Três perigosos bandidos seguiam-no! Eram eles Jack, um assassino bruto e estúpido, mas extraordinariamente violento; Rick, um dos melhores atiradores que o Agente X alguma vez conhecera; e, finalmente, Harry, talvez o mais perigoso de todos, altamente inteligente, o braço direito do «Padrinho», que ele tentara enganar, e conhecido pela sua excentricidade.

Mas a tentativa de engano fora frustrada, pois o Agente X sentia que aqueles três não o procuravam para terem com ele uma agradável conversa social… No entanto, tinha de ir até ao fim e, desse modo, no dia 3, como combinado, instalou-se no Jones, o hotel onde tinha ordens para esperar até ser contactado pelo Coronel T.

Apesar de todos os esforços que fizera para não ser seguido, o Agente X sentia-se encurralado e foi talvez por isso que pediu um quarto no último andar do hotel, para poder fugir pelo telhado se necessário fosse. Se o hotel era velho e decrépito, o último andar era um horror! Não só tinha apenas três quartos, um dos quais fechado, de tão velho que estava, como também o tecto já ameaçava cair, os quartos eram grandes e bolorentos, e as portas, altíssimas, não eram todas de madeira, pois a meio metro do tecto tinham uma bandeira de vidro que deixava entrar toda a luz do corredor.

O quarto do Agente X ficava no fim do corredor, do lado esquerdo, ao lado era o quarto fechado e em frente deste o quarto nº 13. Depois o corredor virava para a direita, formando um «L», no extremo do qual havia um elevador que fazia uma barulheira infernal cada vez que subia.

Pressentindo que realmente algo não corria bem, o Agente X enviou uma mensagem ao Coronel T dizendo que suspeitava ser seguido e por quem, de modo que os seus superiores soubessem qual era exactamente a situação! Depois iniciou a longa espera receando, no entanto, que a sua mensagem ou não atingisse o destinatário ou não servisse realmente para nada! No 1º dia nada aconteceu, mas o Agente X estava cada vez mais nervoso; no 2º dia avistou de relance Jack, no «hall» do hotel, e Rick, um pouco mais tarde, no bar. Qualquer esperança de não ter sido seguido desvaneceu-se! Mas então que esperavam para acabarem com ele? O seu primeiro impulso foi fugir dali o mais rapidamente possível, mas o Coronel T tinha-lhe ordenado expressamente que esperasse ali quanto tempo fosse necessário. Que fazer? Cada vez mais aterrorizado, voltou para o seu quarto.

Passou-se o 3º e o 4º dial E nada do Coronel T! O Agente X já quase não deixava o seu quarto! Mas ao 5º dia decidiu-se! Se o Coronel T não ia ter com ele, seria ele a ir ter com o Coronel T! Nunca mais vira sinais de nenhum dos seus inimigos e tinha idealizado um plano relativamente seguro para sair do hotel com vida. Uma vez no «hall» do hotel já não corria grande perigo, devido à quantidade de gente que por lá andava.

O risco era chegar até lá!

Mas tinha umas ideias!

O quarto nº 13 podia representar um perigo até porque nunca tinha visto o seu ocupante, e a esquina do corredor outro!

Mas saindo silenciosamente do seu quarto, sem fechar a porta porque a faria ranger, deitar-se-ia no chão e rastejaria até à esquina. Deste modo, se alguém estivesse à espreita pelo buraco da fechadura do nº 13 não teria quaisquer possibilidades de o ver passar. Uma vez chegado à esquina já podia ver se alguém estava na varanda, que acompanhava toda a parede perpendicular ao elevador, ou se o caminho estava livre. Se assim fosse só lhe restava um único obstáculo: a esquina. Mas como se arrastara até ali sem fazer barulho, ninguém poderia saber que ali estava, e mesmo que um dos «gangsters» o esperasse do outro lado ele contava com o efeito da surpresa que a sua súbita aparição causaria no outro para disparar primeiro. Só não conseguiria fazê-lo se o outro soubesse que ele ia aparecer, mas se não fizesse barulho não havia maneira de o saber.

E foi assim que no dia 9 de Agosto o Agente X se decidiu a executar o seu plano. Por volta das 17 horas ouviu o elevador subir, depois passos e a porta do nº 13 abrir e fechar. O hóspede estava lá!

Seria realmente necessário rastejar pelo chão até à esquina. Esperou meia hora e saiu para o corredor, começando a executar o seu plano como previsto.

Tudo correu bem e já estava na esquina!

No momento em que a atingiu teve a noção de qualquer coisa que reflectia o sol que batia na varanda, produzindo um clarão. E foi a última coisa de que se apercebeu, pois uma bala disparada por um revólver com silenciador atingiu-o entre os olhos, matando-o!

Quando descobriram o corpo veio a Polícia e até o Coronel T que jurou vingar o seu homem. Passou-se o hotel a pente fino mas não sinais nem de Jack nem de Rick. Fotografias suas também não ajudaram o recepcionista a lembrar -se de nada, mas o Coronel T já calculava que ele não falaria. Revistaram o quarto fechado e viram que realmente ninguém lá entrava desde há anos. Mas ao fazerem o mesmo ao nº 13, houve importantes descobertas. Com efeito o Coronel T encontrou um saco cheio de tacos de golfe, de vários tamanhos e espessuras, estando a maior parte espalhados em cima da cama e pelo chão. Um espelho de bolso meio partido estava no cesto do lixo e havia bocados de cordel espalhados pelo quarto. Neste não havia uma única impressão digital mas descobriram-se algumas nos cabos dos dois tacos de golfe mais compridos, e eram… as de Jack!!!

Depois de uns delicados safanões, o atemorizado porteiro do hotel reconheceu fotografia de Rick como um homem novo, elegantemente vestido com um fato de linho, luvas de cabedal e óculos escuros que havia deixado o hotel por volta das 17,45!

Ao Coronel T não lhe faltava mais nada! Ao chegar à esquadra mandou emitir mandados de captura para Jack – «O Músculo» – Smith por cumplicidade num assassínio; para Rick – «Gatilho» – Jones por homicídio; para Harry – «Suspensórios» – Capone por autor material do crime.

 

PERGUNTA-SE:

1) O homem que matou o Agente X sabia que ele ia virar a esquina? Como?

2) Porquê aquelas acusações específicas para cada um dos «gangsters»?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO