Autor Data 5 de Setembro de 1999 Secção Policiário [425] Competição Prova nº 1 Publicação Público |
D. CASCÁCIO INVESTIGA… Mister H Galopando a grande
velocidade, D. Cascácio sai do seu castelo, acompanhado do seu escudeiro,
dirigindo-se a um domínio vizinho para participar em mais um dos torneios que
existem entre a nobreza do corrente século XII. Percorrendo velozmente os
campos do seu domínio, D. Cascácio envereda por um atalho, para resguardar-se
da copiosa chuva que entretanto começara a cair, sendo forçado a abrandar
ligeiramente o passo, com vista a evitar os pinheiros e eucaliptos que nos
seus bosques abundam. Este abrandar foi o suficiente para D. Cascácio chegar
bastante atrasado, mas, para seu espanto, quando chegou pôde verificar que o
torneio tinha sido adiado devido a um acontecimento imprevisto: um dos
participantes apareceu misteriosamente morto. Sendo D. Cascácio o nobre mais
importante que se encontrava presente no torneio, e a vítima um dos seus
vassalos, prontificou-se a investigar e descobrir quem se havia atrevido a
matar um dos seus súbditos. A vítima foi encontrada nos
seus aposentos com uma espada cravada nas costas, acto possivelmente ocorrido
durante o último sono, mas, felizmente para D. Cascácio, o número de
suspeitos era muito reduzido, pois a vítima, segundo vários testemunhos,
havia-se fechado dentro do quarto, pelo que os suspeitos eram apenas os
possuidores de chaves semelhantes. Após experimentar todas as chaves, verificou
que apenas duas serviam, a do quarto de D. Luís, senhor do castelo, e a de D.
Antão. Após esta descoberta e a confirmação de que ambos possuíam a sua
chave, trazendo-as sempre com eles, ficou assente que o criminoso seria um
deles. Após breve interrogatório,
ficou a saber-se que a vítima se tinha retirado para os seus aposentos logo
após a última refeição. Seguiu-se um interrogatório aos dois suspeitos, em
primeiro lugar D. Antão. – Diga-me, D. Antão, onde
estava ontem após a última refeição? – Bem, eu saí para uma
breve caçada nocturna e regressei tarde, tendo-me dirigido para os meus
aposentos, de onde não saí. – E tem um álibi? – Fui visto a sair e a
entrar do castelo por muita gente, e uma criada viu-me entrar nos meus
aposentos. D. Cascácio avisou D. Antão
para não se ausentar nos próximos tempos e saiu dos aposentos dele. O
interrogatório a D. Luís seguiu-se de imediato: – Onde é que esteve ontem
após a última refeição? – Olhe, estive orientando
os preparativos finais para o torneio que hoje se realizaria e depois fui
reflectir para os meus aposentos. – Reflectir? – Sim, estive lendo um
pouco a Bíblia… Apesar de D. Cascácio lhe
lançar um olhar tenebroso, D. Luís respondia às perguntas com uma estranha
descontracção enquanto se deliciava comendo laranjas, para espanto de D.
Cascácio. Irritado, este encerrou o interrogatório e dirigiu-se para os seus
aposentos para reflectir. Começou a pensar sobre os
suspeitos. D. Antão era, tal como D. Cascácio, um estudioso, dominando várias
línguas para além da nacional, nomeadamente o latim e o grego. D. Luís também
não era nenhum inculto, pois sabia ler e escrever, mas apenas na língua
nacional. D. Antão era mais velho e também mais corpulento, tendo grande
experiência guerreira, enquanto D. Luís era um pouco mais novo e com menos
experiência no campo de batalha. Ambos os suspeitos eram portugueses, tendo
recebido títulos do rei português. D. Antão, contudo, era um barão, e D. Luís
visconde. Os interrogatórios a nada
tinham levado, pois qualquer deles podia ser o assassino, de modo que o
desenlace deste problema parecia estar longe. Mas D. Cascácio não desistiu e
prosseguiu com as investigações… – Então, alguém quer tentar
adivinhar quem é o assassino D. Luís ou D. Antão? De imediato se ouviram
várias vozes que apontavam D. Luís, enquanto outras se viravam para D. Antão.
É então que uma enorme
gargalhada interrompe a discussão. Era o empregado do café: – O que eu acho é que tu
não sabes do que falas. E eu pergunto porque é que
o empregado do café fez este comentário. Ou será que é o empregado do café
que não sabe do que fala? |
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© DANIEL FALCÃO |
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