Autor

Mister H

 

Data

9 de Julho de 2000

 

Secção

Policiário [469]

 

Competição

Torneio 2000

Prova nº 3

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

CRIME RURAL

Mister H

 

O assassino é Joe Lapovsky. À partida, este não era considerado um suspeito. No entanto, não há nada no problema que o exclua da lista dos suspeitos pois, como é referido, “a vítima era conhecida de longa data do investigador”. Quanto ao motivo, desconhece-se, mas é dispensável e não exigido na resolução do problema. Através dos depoimentos, Graxovsky coloca-se como sendo o principal suspeito pois Criadovsky e Maria indicam ambos a presença de um carro que arranca imediatamente depois do crime. Como só existem marcas dos pneus do carro de Graxovsky (fora as do detective), este aparenta ser o autor do crime.

Contudo, a análise das pegadas e marcas de pneus na lama indicam-nos que o criminoso é Joe Lapovsky. As pegadas não pertencentes ao detective estavam no sentido da casa e são (tendo em conta os depoimentos) de Graxovsky (as que vinham do carro) e de Peter Maquivsky (as que vinham do caminho de cabras), faltando as pegadas do criminoso (a chuva começara às oito horas e o criminoso chegou às dez, logo, se fosse um dos moradores teria de deixar as suas pegadas). Se atentarmos bem ao que diz o texto, notar-se-á que só as pegadas dos dois moradores são analisadas, existindo também as do detective, que, apesar de não nos serem descritas directamente, podem ser analisadas: no início do texto está referido que “Joe avançou pelo meio da lama em pequenos passos” e mais para o fim aparece que estava “avançando por cima das suas pegadas em passadas largas”. Logo, conclui-se que o fazia através de pegadas que não eram referidas no início do texto, tratando-se das que ele deixou quando saiu a correr do local do crime (daí que fossem passadas largas, evidenciando que saiu a correr).

Quanto às marcas de pneus, é indicada a existência de marcas dos pneus dos carros de Graxovsky e de Joe Lapovsky que se “sobrepunham mutuamente em sítios diferentes”. Ou seja, ora estavam as marcas de um por cima, ora de outro; logo, houve um que passou duas vezes por esse caminho, tendo o outro passado entre essas duas vezes. Sabendo que Joe chegou depois, ficamos a saber que estivera lá antes do outro.

O que se terá passado foi: por volta das 10h00, Joe Lapovsky chegou de carro e estacionou à beira da estrada. Então, Maquivsky, que já o esperava, abriu-lhe a porta. Entraram e ficaram cerca de uma hora a conversar no escritório. De seguida, por alguma zanga cujo motivo se não descortina, Joe matou Maquivsky, colocou-lhe a arma na mão esquerda e fugiu a correr para o seu carro, arrancando de imediato. Mais tarde, regressou com o objectivo fictício de investigar o crime, mas com a intenção real de encobrir os vestígios que poderiam apontar para si e que, na pressa da fuga, ficaram por disfarçar. Primeiro, colocou os pés precisamente onde os havia colocado quando ali chegara às 10h00 (“tendo cuidado onde punha os pés”). Segundo, ao chegar ao corpo da vítima e na presença de várias testemunhas agarrou na arma, justificando a presença das suas impressões digitais na arma, sob o fictício pretexto de a observar. Terceiro, ao sair à rua para observar as pegadas e marcas de pneus na lama, escolheu precisamente as suas pegadas no momento em que abandonou o local do crime a correr (“pelo facto de ter fugido a correr, justifica-se as passadas largas”).

Deste modo, encobriu todos os vestígios, com excepção das marcas dos pneus, que ora se sobrepunham, ora não, às do carro de Graxovsky.

Quando Joe se olhou ao espelho e abriu um sorriso, foi por saber quem era o criminoso (ele mesmo) e porque conseguiu encobrir (assim julgava) com sucesso as pistas que a ele conduzissem.

© DANIEL FALCÃO