Autor Data 16 de Maio de 1987 Secção Sábado Policiário [74] Competição Problema nº 3 Publicação Diário Popular |
CRIME NA PENSÃO Molécula Encontravam-se
hospedadas na Pensão Cisne Dourado, em Évora, várias pessoas, algumas de
passagem pela cidade histórica, outras por se encontrarem a trabalhar na dita
cidade. Havia
um grupo reduzido, permanente na pensão, que à noite se entretinha a ver televisão
e a jogar à «sueca» para passar o tempo. Numa
das últimas noites encontravam-se o Luís, empregado fabril, o Rogério, farmacêutico,
o António, ferroviário, e o Joaquim, pedreiro, todos eles jogando às cartas
em ameno convívio. Cerca
da meia-noite, a srª Rosa disse aos seus hóspedes que eram horas de se irem
deitar, pois os outros hóspedes não podiam ser incomodados. O Rogério,
dizendo que ainda tomava qualquer coisa antes de irem deitar-se, foi à
cozinha, encheu quatro copos de tinto e serviu a última rodada ao grupo. Pela
manhã, cerca das sete horas, a srª Rosa começou a bater às portas dos hóspedes
para que se levantassem e fossem para o trabalho. Porém, bateu várias vezes
na porta do quarto do Luís e este não respondeu: surpreendida, pois ele era
pessoa de sono leve, costumando acordar sempre à primeira banda, concluiu que
algo de estranho se passava. Avançou pelo corredor, encontrando o Rogério, a
quem contou o sucedido, e este prontificou-se logo a ajudar. Foram
os dois bater à porta e como não obtiveram resposta o Rogério resolveu arrombá-la,
o que fez de imediato. Ao entrar no quarto disse à sraª Rosa que não se
aproximasse. Ela ficou no corredor com um ar assustado e ele disse-lhe que
fosse telefonar à Polícia, o que ela fez prontamente. Quando
o detective Macário chegou deparou-se-lhe com o Luís deitado de costas sobre
a cama, com uma expressão horrorosa. Tinha um golpe de navalha na garganta.
Na almofada e numa toalha havia um charco de sangue. Depois de procurar pelo
quarto não encontrou navalha nenhuma. A porta estava trancada por dentro, bem
como as janelas. Como
não aparecia a arma do crime o detective Macário interrogava-se se teria sido
homicídio ou suicídio, tanto mais que tudo estava fechado por dentro, e um
suicida não conseguiria fazer desaparecer a navalha e deitar-se de seguida na
cama esperando a morte. Macário
decidiu interrogar as pessoas que tinham convivido com o morto nas últimas
horas. Depois de ter «apertado» um pouco com os suspeitos, conclui que teria
de prender o Joaquim, pois tivera uma briga com o Luís e não se falavam muito
bem, sabendo-se que proferira algumas ameaças de atentar contra a integridade
física do Luís. O
Joaquim foi preso e julgado e apanhou vinte anos de cadeia. Mas o
inexplicável aconteceu: o Rogério, com problemas de consciência, dirigiu-se à
Polícia e pediu a libertação do Joaquim porque este estava inocente e ele
próprio tinha cometido o crime. O
Rogério contou a seguir a espantosa verdade. Espero
que os amigos policiaristas digam como se deu a morte do Luís e resolvam este
problema. |
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© DANIEL FALCÃO |
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