Autor

Mota Curto

 

Data

28 de Julho de 1977

 

Secção

Mistério... Policiário [124]

 

Competição

Torneio “4 Estações 77” | Torneio C – Verão

Prova nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [200]

 

 

UMA FACA SEM IMPRESSÕES DIGITAIS…

Mota Curto

 

Noite calma. O luar ilumina uma casa grande, de dois andares, metida num jardim. Subitamente, a cortar o silêncio da noite, um grito feminino… Estridente, de medo…

A causa do grito fora a descoberta de um cadáver, pouco antes do relógio da torre começar a badalar a meia-noite. A Polícia é chamada.

O corpo fora descoberto numa das salas do primeiro andar, com varanda de sacada, onde a janela estava aberta… Presa aos ferros uma escada de corda até ao jardim… Via-se também, com um ligeiro movimento de brisa, a ponta de uma corda que devia estar presa algures, por cima do telhado…

A vítima era o criado da casa. Trinta e seis anos de idade, um metro e oitenta e dois de altura, cabelo preto. Uma faca de cozinha atravessava-lhe o coração, estando o cabo preto perto do queixo… No cabo, não havia quaisquer impressões digitais… O criado estava deitado no chão, de costas, com os pés perto da sacada e os olhos abertos como se pretendesse olhar o luar lá fora…

Na altura, naquela casa, encontravam-se apenas cinco pessoas que o inspector apontou como Pai, Tio, Filho, Filha e Cozinheiro. Havia uma quase completa ausência de senhoras por estarem a ajudar os preparativos da festa de umas amigas, a cerca de dez quilómetros, e de onde regressariam pela uma hora.

Segundo o médico legista que acompanhava o inspector, o crime dera-se, muito provavelmente, entre as vinte e três horas e as vinte e três e trinta. Mais pormenores, só depois da autópsia.

Mais tarde, no bloco do inspector já eram visíveis os seguintes apontamentos:

1. PAI – Quarenta e um anos de idade. Alto, um metro e noventa e sete, e quase careca. Forte. Com cadastro. Há muitos anos alguns roubos de jóias comprometeram o seu nome. Desde aí não se tornara a ouvir falar dele. Ultimamente uma vaga de assaltos invadira a cidade. Quase sempre jóias…

2. TIO – Trinta anos, casado, industrial, estando a férias em casa do irmão há duas semanas. Um metro e setenta e quatro de altura, bem-parecido, verdadeiro «Casanova» que, aproveitando o olhar desatento da esposa, ou a ausência desta, anda por aqui… e por ali… à procura de sarilhos.

3. FILHO – Dezasseis anos, um metro e setenta de altura, cabelo castanho comprido, metido em histórias de toda a espécie… Já estivera preso devido a uma zaragata. Anda sempre sem dinheiro…

4. FILHA – Dezassete anos – quase dezoito – e fizera há pouco o 7.o ano do liceu com média de dezoito… De um louro que dá nas vistas, passa no entanto a vida a ler e a estudar… Toca piano. Participa em vários Concursos de revistas, rádio, etc. Anda sempre com dinheiro e tem no quarto um cofre com jóias… que só ela sabe onde está!... Um metro e sessenta e dois de altura… Delgada…

5. COZINHEIRO – Quarenta e cinco anos muito bem conservados… Salário razoável… Um metro e setenta e oito de altura. Sorridente e sempre bem disposto, simpatizo com quase todas as pessoas da casa. Tem o hábito de sair entre as vinte e três e a meia-noite, diz ele, que, para ir até ao café e jogar e conversar com os amigos.

No mesmo bloco, e depois daqueles ligeiros apontamentos, ainda mais as seguintes declarações de cada um deles:

PAI – Algum sarilho que ele arranjou, ou então surpreendeu alguém a entrar cá em casa… Servia aqui há perto de quinze meses.

TIO – Conhecia-o mal, pois só o vira este ano. No entanto, e como criado, quanto a mim, não me parecia muito bom…

FILHO – Um tipo fixe! Quando veio de férias trouxe-me um chapéu…

FILHA – …ele parecia muito amigo do pai… visto saírem juntos muitas vezes…

COZINHEIRO – …Há um ano o ordenado dele era igual ao meu… Actualmente ele ganha seis mil e eu cinco mil…

No prosseguimento das investigações, apurou-se que sob a corda pendurada, na terra fofa do jardim, havia vestígios de sapatos de ginástica, ou ténis, mas impossíveis de modelar para conferir… Também se apurara, afinal, que todos eles tinham no Banco as suas contas em movimento… Uns mais e outros menos… Mas duas delas chamaram a atenção: Uma, por elevada, em função do seu titular… A outra, também elevada, e donde, certos levantamentos, coincidiam com depósitos naquela… Eram dois movimentos estranhos…

A faca, foi confirmada que pertencia à cozinha e ao cozinheiro…

Nenhum tinha álibi completo, mas todos justificaram a ocupação do tempo entre as vinte e três e a meia-noite dentro de casa… Todos podiam ter cometido o crime…

 

1 – Quem?

2 – Porquê?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO