Autor

Mr. Dartur

 

Data

19 de Abril de 1957

 

Secção

O Gosto do Mistério [5]

 

Competição

Torneio Policiário da Flama

Problema I

 

Publicação

Flama [476]

 

 

 

 

 

 

 

Solução de:

O TÁXI MISTERIOSO

Mr. Dartur

Solução apresentada por Inspector Madeira

Sem dúvida que Mário Barata mentiu, simulando o roubo, para conseguir o dinheiro da Companhia de Seguros que lhe cobria as joias.

Mentiu, deduzo eu, porque:

a) – Nunca se podia ter apresentado «impecável no seu fato azul», pois lá fora a chuva caía, miúda mas persistente. Se Mário Barata estivera cerca de uma hora desmaiado no chão, a apanhar chuva, lògicamente apresentar-se-ia encharcado e em desalinho, «não só o cabelo», mas também o vestuário.

b) – Nunca poderia apresentar «a pasta fechada» sobre os joelhos. Ora, o motorista tinha-lhe roubado as joias e, portanto, «aberto a pasta», ou na pior das hipóteses, esta já se encontrava «aberta». Quando M. Barata recuperou os sentidos, teve o cuidado de não tocar na pasta senão com um lenço para não apagar as impressões digitais. Logo, não a «fechou». E só uma pessoa pouco inteligente pensaria haver impressões digitais numa pasta de cabedal, depois de estar durante «uma hora à chuva». Também seria pouco provável que o motorista perdesse tempo em «abrir a pasta e lhe tirar as joias». Um ladrão levaria a pasta. Seria muito mais prático.

c) – Não acha Mr. Dartur, que este caso de «contar» ao motorista que na pasta levava tal fortuna, é forte? Só um homem que não medisse as responsabilidades… e nunca um «negociante de joias, com mais de meio século de vida».

d) – Os carros onde é preciso inclinar o encosto, para sairmos dos lugares posteriores, são aquelas que apenas têm duas portas. E esses, «não existem» nas nossas praças de «taxis». São proibidos por lei.

e) – É extremamente difícil, se não impossível, fazer «desmaiar por uma hora» um homem, tanto mais tratando-se de «um homem forte». Ora, para esta agressão seria preciso um objecto duro e pesado, por exemplo um ferro, qualquer ferramenta do carro. Mesmo assim há dois casos a considerar: a pancada é tão violenta que lhe tira a vida e lhe abre o crâneo; ou então, a pancada é menos violenta e ele daí a poucos minutos acorda, tando mais estando ali deitado à «chuva».

f) – O motorista contornara o carro, abrira a porta e inclinara o encosto. Para isto, empregam-se normalmente as duas mãos. Se o condutor tivesse uma das mãos ocupada com o objecto da agressão, teria de fazer uns movimentos complexos e anormais, que por força atrairiam a atenção de Mário Barata.

g) – Quando a mim, seria mais normal o agredido, depois de voltar a si, ter pedido auxílio do seu amigo Pelim, tanto mais «estando já ali, à porta dele».

h) – Também já foi muita sorte encontrar um taxi poucos momentos depois de recuperar os sentidos, sabendo-se que o sítio era pouco movimentado, a tal ponto de «ninguém ter passado durante uma hora».

i) – A ansiedade de Mário Barata ao pedir que o detective ao menos lhe conseguisse provar o roubo, era suspeita, ainda mais tratando-se de joias valiosas e raras.

© DANIEL FALCÃO