Autor Data 29 de Março de 1957 Secção Competição Problema II Publicação Flama [473] |
O CASO SEM PORMENORES Mr. Dartur Nasce,
silenciosamente, o dia 10 de Setembro de 1954. O sol espreita, lá longe,
sobre o tecto da ermida. Nas águas
calmas do Tejo, com as velas branquinhas erguidas para o céu azul que começa
a iluminar-se, um barquito voga, velozmente, impelido pela brisa matutina.
Dentro dele, dois rapazes… Marcos Dias
vai ao leme, pondo à prova os seus bastos conhecimentos do desporto náutico.
Inclinando-se na borda, para dar mais estabilidade à embarcação, vai o outro…
este vosso amigo. Várias horas
assim navegámos, conversando animadamente de tudo e por tudo, até que a fome
nos ataca, e o passeio fluvial termina. Quando
encostámos ao cais, esperava-nos um homem que entregou a Marcos um pequeno
bilhete, pedindo-lhe para se dirigir àquela morada, onde um senhor o aguarda.
Entramos no
«Mercedes» e atravessamos Lisboa em grande velocidade, sem contudo
desrespeitar as regras de trânsito. Parámos junto
à porta do edifício indicado e, recebidos pelo mordomo, fomos depois
conduzidos ao gabinete. Ali, fora praticado o crime. O homem estava
morto, bem morto! Forte pancada vibrada na nuca lhe tirara a vida e, segundo
a opinião médica, isso acontecera cerca das nove horas desse dia. Não havia no
gabinete sinais de luta, nem impressões digitais, nem qualquer objecto que denunciasse o criminoso. Procurámos incansàvelmente um pormenor por onde pegar, mas tudo em
vão. Marcos Dias
chamou então os familiares do assassinado e perguntou-lhes, se acaso sabiam
de qualquer pessoa interessada na morte do milionário. – Ninguém! – disseram eles –. Fernando Durão não tinha inimigos!… – E amigos? – perguntou o detective. – Sim, isso
tinha! – foi esta a resposta –. Além de nós, que
fomos os seus maiores amigos, há ainda um ou dois que poderemos mandar
chamar, se vós assim o desejardes. Marcos
agradeceu mas recusou que os chamassem, pois nós mesmos os visitaríamos. Antes de
abandonar o palacete, o meu amigo interrogou os sobrinhos do falecido, que
eram dois, primos entre si. Começando por
Francisco, este disse que saíra de casa às 8 da manhã, regressando só à hora
em que encontrou o tio assassinado. O outro, de nome Merciano, afirmou que
quando o primo saíra ele subiu ao sotão, com o mordomo,
para ambos apartarem uns objectos. Só dali
desceram, quando Francisco os foi chamar aos gritos, dizendo que encontrara o
tio morto. Após este
interrogatório resolvemos sair, para ir ouvir os amigos da vítima, indicados
pelos sobrinhos. Eu fiquei em
casa do Virgílio Pais, enquanto o meu amigo continuava para visitar Mário
Coutinho. O homem
recebeu-me muito bem, levando-me para o seu gabinete, onde me fez instalar còmodamente. Enquanto o visitado me preparava uma bebida,
entretinha-me eu com uma «Flama» que encontrei sobre o «maple».
Sorri com a fotografia da capa e imaginei--me o heróico
alhandrense vencedor da «Mancha», ali fotografado. Entretanto, o homem
regressou ao compartimento. Serviu-me o refresco, e eu logo tentei saber
aquilo que o meu amigo me diz-se que investigasse. – O seu amigo
Durão, – comecei eu – foi hoje assassinado, por volta das nove horas. Pode o
senhor dizer-me, onde estava àquela hora? – Aqui, a
dormir! – respondeu o homem. – Cheguei do México
ontem às dez horas da noite e, do aeroporto vim direito a casa, donde ainda
hoje não saí, pois estou bastante maçado. Fiz ainda
algumas perguntas sem interesse e saí, despedindo-me do homem. À porta, já
Marcos Dias me esperava, pois foi mais rápido do que eu, e o seu interrogado
morava a poucos metros dali. Entrei também
no carro e, durante a viagem que fizemos até à Polícia Judiciária, contei a
Marcos, tudo o que vi e ouvi em casa do Virgílio. Depois, foi a vez do meu amigo contar, o que averiguara em casa do
outro. Disse-me ele, que aquele suspeito passara a noite no casino,
dirigindo-se para casa só às seis da manhã, em companhia dum amigo. Não mais
saíra do casa e, quando acordou, não era ainda meio dia,
e o carteiro não passara antes à sua porta, pelo que ele o esperava, junto ao
quarto do porteiro. Entretanto,
chegámos à P. J. e fomos recebidos pelo director, a
quem Marcos Dias entregou a solução do caso. Aquele achou-a perfeita e, outra
não seria de admitir, polo que felicitou o detective.
Mais uma vez,
como sempre, o crime é castigado… E não foi
ainda desmentida, aquela frase feita, cada vez mais afirmada. O CRIME NÃO
COMPENSA! Pergunta-se:
Qual a solução dada pelo investigador?
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© DANIEL FALCÃO |
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