Autor Data 3 de Maio de 1957 Secção Competição Problema VII Publicação Flama [478] |
O ROUBO NO BOSQUE Mr. Dartur As ruidosas
gargalhadas dos meus companheiros, misturando-se com o sussurro do arvoredo e
o chilrear dos pardais, acordaram-me por fim. Os raios do
sol nascente, coados pelo tecido da «semi-canadiana»,
produziam no interior da tenda uma agradável claridade, que emprestava ao
ambiente um tom surpreendente. Quando saí da
tenda, já a refeição matinal tinha sido preparada pelos companheiros, que por
mim esperavam, junto à mesa improvisada dum tronco de árvore caída. Terminado o
almoço e depois de lavar a loiça – a mais aborrecida das tarefas no campismo –
nas calmas águas do ribeiro, resolvemos dar um passeio pelo bosque, até ao
«Lago de Musgo». Antes, porém,
de começar a digressão aproximamo-nos da «Roullot»
do casal de franceses que connosco acampara e convidámo-los para o passeio.
Eles, com muita pena rejeitaram, dizendo ter que fazer uma arrumação no
interior do atrelado, o que lhes ocuparia toda a manhã. Além disso, a saúde
de «madame» Françoise não andava muito boa… Entre anedotas
e risos começámos o passeio que terminou junto do pequeno lago. Num abrigo de
verdura, atapetado de musgo, vestimos a indumentária própria e, sem cerimónia
ou receio mergulhámos nas quietas águas do lago. Brincámos na
água límpida, em amigável competição, até que o apetite nos forçou a
regressar ao acampamento. Pelo caminho
sinuoso, através do bosque onde predominava o aroma a eucalipto, apesar da
fome, não nos faltou alegria. E, «Los Paraguaios» sentir-se-iam embaraçados ao
ouvir-nos cantar, fraudulentamente, a sua tão querida «Malagueña».
As nossas
vozes, desafinadas, mais gritavam… que cantavam: …Y dizirte nina hermosa que eres linda y feiticera que eres linda y feiticera como el canto duma rosa. Si por pobre
mi disprecias yo te concedo razon
yo te concedo razon
si por pobre me… A voz
morreu-nos nos lábios, ao entrar na clareira. O sítio onde acamparam os
franceses, estava agora deserto. Efectivamente «monsieur» Lyon e sua
esposa haviam abandonado o acampamento, levando consigo os veículos
pertencentes. Na esperança
de que o casal nos tivesse deixado algum recado, íamos então dirigir-nos à
vivenda do caseiro que ali morava perto. Ao caminho, apareceu-nos o «homenzinho»
acompanhado dum guarda, ao qual dizia ter sido roubado pelos franceses que
abandonaram o bosque. Marcos Dias, o
jovem investigador que fazia parte do nosso grupo logo se adiantou,
pretendendo saber tudo acerca do caso. O homem,
respondendo às perguntas do detective, afirmou nervosamente:
– Estava eu no
jardim, ali à frente da casa, quando ouvi qualquer ruído vindo do seu interior.
Contornando a casa dirigi-me para a porta das trazeiras,
a única que estava aberta, mas não fui com muita pressa, pois imaginava que o
ruído tivesse sido feito pelos gatos ou pelo cachorro. Nessa altura, porém,
vi o carro dos franceses sair pelo caminho do bosque, recuando velozmente. «Logo a
seguir, com bastante surpresa, vi a mulher sair de minha casa a correr e
saltar para o carro que logo se afastou velozmente pela estrada, na direcção da cidade. Adivinhando o que se passara corri
para casa indo encontrar uma gaveta aberta, da qual haviam desaparecido uns objectos de valor e o dinheiro que nela guardava». Marcos Dias
fez ainda algumas perguntas, e, nada mais adiantou, além da informação de que
o dinheiro e os objectos roubados,
haviam sido recentemente herdados dum parente, e as partilhas deveriam ser
feitas, no sábado seguinte. Em face deste
caso Marcos Dias resolveu actuar imediatamente, pondo
a sua inteligência e todo o seu dinamismo ao serviço da justiça. E o certo, é
que o culpado não foi o último a rir. Na povoação
próxima, foi encontrada a família Lyon. E no acampamento, foi festejada a
vitoriosa solução. PERGUNTA-SE Como actuou Marcos Dias? O que explica
tal solução?
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© DANIEL FALCÃO |
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