Autor Data 1 de Abril de 2007 Secção Policiário [820] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2006/2007 Prova nº 4 Publicação Público |
Solução de: UM CADÁVER NA PISCINA Mr. Ignotus Ambrósio declarou que nada
alterara no cenário do crime: ora a borda da piscina estava impecavelmente
limpa e o carrinho com as ferramentas não estava à vista. Logo, estava a
mentir, pois apagara os vestígios existentes no mármore (nem apresentava
marcas da retirada do corpo) e as ferramentas estavam arrumadas. Também
descurou outros pormenores: o fato-macaco estava completamente molhado;
deixou a faca sob o corpo da vítima; é insustentável a narrativa do que fez
em 12 minutos. Ora quem mente… Tal como Dolores, também
afirmou não conhecer a vítima, quando sabiam ambos que se tratava de Honório.
Tudo se começou a esclarecer quando o Inspector obteve a confirmação de que
sábado chegara na TAP, procedente do Brasil, um passageiro chamado Honório,
cuja descrição física correspondia à do morto. Na loja do centro comercial
onde fora vendida a faca também se lembravam que o cliente era brasileiro. Estranho era também que
Dolores tivesse ido dormir a casa quando os patrões estavam no estrangeiro e
ela podia ficar com o seu Ambrósio… O casal deve ter sido alertado de madrugada
por qualquer ruído estranho. Ambrósio enfiou a primeira peça de roupa que
tinha à mão (o fato-macaco) e foi ver o que se passava. Inquiriu o vulto que
divisou, que lhe deve ter dito que queria falar com a Dolores. Suspeitando
logo de quem era e ao que Honório vinha, serviu-se do conhecimento que tinha
do terreno para o atacar de forma segura, empurrando-o para a piscina. A
vítima, ao cair de costas, bateu com a nuca no rebordo e ou desmaiou ou
ofereceu pouca resistência ao jardineiro, que também mergulhou para o afogar.
Acto consumado, tirou-o da água e, como nem deve ter visto a faca, também não
reparou que lhe estava a pôr o cadáver em cima. Só o preocupava deixar o
menor número de indícios possíveis de luta, pelo que procurou pôr o corpo no
local onde o atacara. Disse a Dolores para ir para casa e afirmar que nada
sabia. Despojou a vítima de identificação (na esperança de que tivesse
entrado clandestinamente) para dificultar ou impossibilitar o reconhecimento
e montou o cenário para, de manhã, chamar a polícia e contar a sua história,
que, desde logo, se afirmou também pouco credível: 12 minutos para se
levantar, arranjar, comer, estender o fato-macaco, ir buscar o carrinho da
ferramenta, chegar à piscina, retirar o corpo da água e telefonar à polícia…
nem a jacto! Confrontados com estas
evidências, ambos acabaram por reconhecer o crime, que, como é fácil
conjecturar, tinha outras vítimas previstas, pois o Honório não viera a
Portugal (como o comprova a escolha da faca e ir pela calada da noite em
demanda da Dolores) só para cumprimentar a mulher que o abandonara e traíra,
como certamente soubera, bem como da sua morada, através da correspondência que
a brasileira trocava com a mãe. |
© DANIEL FALCÃO |
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