Autor Data 18 de Abril de 1957 Secção Quem Foi? Competição Torneio “detective sem nome” IV Problema Publicação Mundo de Aventuras [401] |
O DOMINÓ ESCARLATE Mr. Jartur Dedicado a Big-Ben 4 DE MARÇO – CARNAVAL DE
1957 No acanhado compartimento
que serve de gabinete à direcção do «Clube do
Aranhiço», quatro indivíduos, jovens ainda, fumam, enterrados em confortáveis
maples estratègicamento
dispostos, um em cada canto do aposento. É profunda a escuridão que os envolve,
mesmo tendo em conta os pontos luminosos dos cigarros. O silêncio é absoluto.
Apenas se ouve o ruído metálico do velho relógio de parede. De vez em quando
chegam até ali as gargalhadas e gritos de mascarados e daqueles com quem se
intrometem. Os jovens amigos não falam.
Cada qual estuda a melhor maneira de viver aquela noite de folia. Mas, eis
que o telefone toca, cortando o pesado silêncio. Foi Marcos Dias – o nosso
conhecido «detective» amador – quem atendeu: – «Clube do Aranhiço»! Sim,
sou eu mesmo! Mas… com muito gosto! Honra-me muito o convite! Estarei aí em
breve! A luz inundou a pequena
sala, e Marcos Dias dirigiu-se aos rapazes, informando: – «O nosso velho amigo
Cerqueira Novo acaba de me convidar a tomar parte no baile de máscaras que
está oferecendo a seus amigos em sua casa. Aconteceu, também, que um dos
convivas resolveu deitar a mão à sua valiosa colecção
de jóias, pelo que a minha presença quase se impõe…
Estava escrito, meus queridos amigos, que eu iria passar uma noite
divertidíssima! Apresentar-me-ei mascarado de Sherlock Holmes
e, para que a cena seja mais sensacional, um de vós acompanhar-me-á
disfarçado de Dr. Watson. O Cargueira vai rir a bandeiras despregadas, apesar
de lhe terem extorquido as jóias… Vejamos quem é o
felizardo que me acompanhará. Foi Jartur
o bafejado pela sorte. Os dois jovens prepararam-se ràpidamente,
e logo deixaram o clube. Chegados à casa apalaçada
de Cerqueis Novo, um criado, impecável na sua libré, veio abrir a porta do
«Mercedes». Ao reconhecer os dois rapazes habituais visitas da casa – o
serviçal apressou-se a conduzi-los ao salão, indo avisar Cerqueira da sua
chegada. Após afectuosas
saudações, o dono da casa introduziu os seus amigos na biblioteca, onde lhes
contou pormenorizadamente o sucedido. Pouco antes do início da festa, alguém
se aproveitara do facto de ele estar ocupado em receber os seus convidados
para se introduzir ali e roubar as jóias. Um dos
criados lembrava-se de ter visto no corredor, momentos antes de se descobrir
o roubo, um «dominó» negro. Nenhum outro mascarado passara por ali antes do
roubo, e o corredor era a única via de acesso à biblioteca. O pretenso Sherlock pediu a
Cerqueira Novo que os apresentasse aos seus convidados para melhor poderem
interrogá-los, tendo o dono da casa concordado plenamente com a ideia. Entretanto, o falso Dr.
Watson examinava atentamente a porta do aposento. Esta era sólida, de boa
madeira, e era evidente que havia sido arrombada à força de encontrões. Por sua vez, Cerqueira Novo
olhava tristemente a vitrina estilhaçada, donde tinham sido retiradas as suas
valiosas jóias. Cerqueira pediu a Marcos
que tentasse resolver o caso o mais discretamente possível, sem provocar
escândalo, pois, à excepção do gatuno, todos os
seus convidados eram pessoas de comprovada respeitabilidade. Já no salão de baile,
passeando o olhar pela ruidosa assistência, Marcos notou que predominavam os
dominós negros e os de cor escarlate, além das vestes de fantasia, em que os
rostos de quem as envergavam estavam a descoberto. Cerqueira apressou-se a
informar: – «Os homens são os de
escarlate, e as senhoras os de negro…» Posto isto, Marcos resolveu
entrar em acção. Começou por pedir a Cerqueira que
lhe arranjasse uma boa porção do bombons e, já com as algibeiras cheias,
iniciou uma volta pela sala. Às três da madrugada, já o
jovem investigador tinha dançado com todos os dominós negros, e ainda seis
dos saborosos dropes de que se munira jaziam num dos bolsos. No decurso de pequeno
intervalo, Marcos Dias aproximou-se da fila de cadeiras destinadas às damas
e, esboçando o seu mais encantador sorriso, atirou um dos bombons que lhe
restavam para o colo de um dos dominós. Às quatro e meia da manhã o
«detective» amador chamou a polícia que, posta ao
corrente dos acontecimentos, deu voz de prisão a um dos dominós negros. A elegante festa terminou
cerca das sete. Sherlock Holmes e o seu ajudante Dr. Watson – ou melhor: Marcos
Dias e Iartur – deixaram a casa, acompanhados até ao
carro por Cerqueira Novo, que se não cansava de agradecer a Marcos o seu
magnífico trabalho. Ainda hoje Marcos Dias
guarda a mais grata recordação daquela noite carnavalesca: um meigo olhar,
mas que olhar… PERGUNTA-SE: – Qual o truque empregado
por Marcos para desmascarar o gatuno? Exponha o seu raciocínio. |
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© DANIEL FALCÃO |
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