Autor Data 24 de Março de 2002 Secção Policiário [558] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2001/2002 Prova nº 7 Publicação Público |
Solução de: O OCUPANTE DO QUARTO 205 Natércia Leite 1 – A morte do Duarte
resultou da grave hemorragia causada pela perfuração do abdómen por objecto
cortante. A droga ministrada não era
de molde a causar a morte, ou seria dito: a ferida causada pelo tiro não
produziu a hemorragia que teria de produzir se fosse a causa da morte, pelo
que o tiro foi dado depois de morto; resta o ferimento no abdómen, para o
qual o Duarte não reagiu por estar drogado. 2 – Pretenderam matar o
Duarte: a Carlota, o gerente e a mulher do gerente. Esta última não passou de
uma tentativa frustrada. 3 – Nunca foi mencionado no
texto se os sapatos pretos estavam limpos. Poder-se-ia dizer que pareciam
estar esquecidos e não estariam limpos, tal como as meias usadas, no chão, a
camisa branca colocada ao acaso, enxovalhada e o “smoking” amarrotado. Tudo
incumbências da Carlota. Segundo Carlota conta,
quando ele a chamava, ela trazia logo um copo de água e uma aspirina, pedindo
nessa altura a refeição ligeira. Sempre que ela chegava com
o tabuleiro dessa refeição, o Duarte já tinha tomado banho, feito a barba,
estando de roupão vestido, sendo ela a abrir o reposteiro de Duarte o não
fazia antes. Na manhã do crime, conta ela, Duarte sentou-se à mesa a comer
tudo o que pediu, enquanto ela fazia a cama, mudava as roupas, etc. Logo, não há dúvida de que
todo o ritual anterior foi cumprido, ou ela referiria essa quebra de rotina.
Assim sendo, não tem lógica que Duarte depois diga que se vai deitar mais um
bocado, depois de fazer a barba e tomar banho e de a Carlota ter feito a
cama, trocando a roupa. A única explicação é a de que Carlota drogou-lhe a
água da aspirina ou a refeição e a sua reacção foi
essa, de se deitar. Uma vez sem reacção, foi-lhe
muito fácil matá-lo com o objecto cortante e
controlar a saída do sangue com toalhas a que tinha fácil acesso. Também Carlota mente no que
se refere aos sapatos. Nos hotéis é frequente deixar os sapatos à porta, à
noite, para serem engraxados pelo pessoal e estarem prontos de manhã. Nunca o
Duarte iria pedir à Carlota para deixar os sapatos aquela hora do dia. Foi
ela, sim, que os deixou lá – um hóspede vê os sapatos à porta às 15h30 –,
despreocupada, tal como com a roupa desarrumada e enxovalhada, porque já
sabia que ele nunca mais ia precisar de tais objectos! E não tinha lógica que
sendo Carlota a “responsável” por Alex, não o fosse avisar que estava
atrasado. Ela não foi porque estava à espera que alguém encontrasse o
cadáver. Depois, Carlota refere que
tem a certeza de que deixou a porta no trinco e daí ter rodado com decisão a
maçaneta e Alice ter reparado que Carlora franziu o
sobrolho e se quedou cismática. Aquilo não estava como ela deixara! E não estava porque mais
alguém tivera a ideia de fazer o que ela fizera. E esse alguém foi o gerente. O dia estava escuro,
Carlota correu os cortinados e fechou os reposteiros, segundo afirmou, antes
de sair para Duarte dormir mais um pouco, pelo que o intruso entrou na maior
escuridão, certamente pé ante pé, para cometer o crime. Dentro do quarto só
silêncio e daí ter-se dirigido ao reposteiro, abrindo-o – o texto diz que as
duas empregadas encontraram lá dentro uma luz difusa, os cortinados leves
fechados, mas os reposteiros abertos –, desferindo o tiro em Duarte já morto,
envolvendo a arma na almofada que por isso lá estava, já que Duarte nunca a
usava. E foi o gerente, porque tinha acesso à chave para abrir a porta, caso
fosse preciso e depois para a fechar – a chave do quarto estava lá dentro –
ao sair. E como lhe quebraram os óculos na noite anterior, a sua visão não
seria a melhor e daí abrir os reposteiros. A outra hipótese, Solange,
é posta de parte, porque não terá podido entrar no quarto, talvez por não ter
acesso à chave, só assim se justificando estar à porta a chorar e a falar,
entre as 16h00 e as 17h00, sendo vista e ouvida. Se a porta foi encontrada
fechada e a chave de Duarte estava dentro do quarto, quem lá entrou tinha uma
chave. Assim sendo, Solange não tinha que estar a chorar e falar à porta.
Entrava com a chave e fazia o seu trabalhinho. Finalmente, a mulher do
gerente pretendeu matá-lo na sala de jogo, apontando-lhe uma arma, mas foi
impedida. Nada a liga aos factos dentro do quarto. Quanto à hora do crime, ela
terá sido algures entre as 14h00 e as 15h00, uma vez que se fala “naquele
fatídica manhã”, logo antes das 12h00, e na autópsia havia restos de
alimentos. Como a digestão demora cerca de duas a 2,5 horas, chegaremos a
esse intervalo. E como às 21h00 já se registava alguma rigidez cadavérica e
esta se manifesta por volta das 6/7 horas após a morte, tudo está correcto. |
© DANIEL FALCÃO |
|
|
|