Autor Data 5 de Setembro de 1993 Secção Policiário [114] Competição Prova nº 6 – Problema nº 1 Publicação Público |
ENIGMA AO JANTAR O Falcão Não era a primeira vez que se reuniam para
jantar. Também não era novidade, para nenhum dos elementos do grupo, que
todos tinham que seleccionar um dos casos que lhes
tinham ido parar às mãos. Esses casos selecionados seriam, como era habitual,
apresentados como antidigestivos aos presentes, para que procedessem à sua
decifração. É neste ambiente de salutar
convívio que encontramos os inspectores Fidalgo e
Rodriguinho, e os detectives Mário Zamith e Jorge Direito. Depois do delicioso repasto a que
nenhum dos presentes gosta de se furtar, surgiu o momento da exposição dos casos
e respectiva decifração. Escusado será dizer que o que está em
jogo é definir quem há-de despender a quantia,
relativamente significativa, de modo a que não tenham que ir todos lavar os
pratos. Como sempre, depois da indefinição sobre quem haveria de começar, o detective Jorge Direito deu o pontapé de saída. Para este jantar, resolvi
inventar um caso que poderia ter ocorrido há já uns anos, mais exactamente em Outubro de 1988, encontrava-me eu a gozar
uma semana de férias na ilha da Madeira. Estava uma magnífica manhã,
o que é habitual naquele paraíso, quando acordei. Depois dos preparativos
matinais, desci do quarto do hotel em direcção à sala
onde servem o pequeno-almoço. Quando passava pelo “hall”, apercebi-me dum burburinho, em que estavam
presentes, para além de alguns turistas, o gerente do hotel e o recepcionista. Após me identificar como detective da polícia, o gerente contou-me que um dos
hóspedes, o sr. Augusto Fontão,
acusava o recepcionista de lhe ter furtado uma
pequena mala contendo as jóias da sua esposa.
Naturalmente, que este negava peremptoriamente ser
o autor do furto. Em face da situação,
escutei as declarações de cada um dos envolvidos. O primeiro foi o sr. Fontão: – Isto é incrível. Acabamos
de chegar e já fomos roubados. – Conte-me tudo o que
aconteceu, desde que chegaram ao hotel até dar pelo desaparecimento da
maleta. – Assim que chegámos ao
hotel, descarregámos as malas do táxi e dirigimo-nos ao balcão de recepção. A minha esposa traz sempre com ela a pequena
mala com as jóias, que desapareceu. – A sra.
pousou a mala em algum lugar? – perguntei
à esposa do sr. Fontão. – Oh, não sei que lhe diga…
Desde que aterrámos que não me sinto muito bem. Estou muito baralhada, não me
lembro do que se passou… – Bom, bom, não se
preocupe. Acalme-se – disse-lhe eu, enquanto me dirigia até junto do recepcionista. – Como é que se defende da acusação? – Estou inocente. Reparei
quando o casal chegou e, apercebendo-me de que a senhora não se estava a
sentir bem, amparei-a na entrada e sentei-a num dos sofás; depois, ajudei a
trazer as malas do táxi. Quando me preparava para lhes indicar o quarto, o sr. Fontão começou a acusar-me de lhes ter furtado uma
mala. Mas eu não fiz nada disso – assegurou o recepcionista.
– Durante esses momentos,
passou muita gente pelo “hall”? – Não. Só saiu o hóspede do
quarto 123. Como vê, ainda tenho a chave do quarto em cima do balcão. Com a
confusão, ainda não a arrumei. – Obrigado. O sr. acha que o seu recepcionista é de confiança? – perguntei
ao gerente do hotel. – Na minha opinião, é,
embora já tenha havido, há uns meses, um caso semelhante que o envolvia e que
não se conseguiu desvendar – respondeu o gerente, afastando o detective do balcão de recepção
–, mas devo avisá-lo de que ele tem cadastro na polícia. Como estava ansioso por
arrumar o assunto e ir tomar o pequeno-almoço, voltei a dirigir-me ao recepcionista e perguntei-lhe: – Reparou na matrícula do
táxi? – Sim, sim. Agora que se refere à matricula, lembro-me que era das novas, aquelas em que os
números aparecem antes das letras… Digam lá a vossa opinião sobre o caso. A – O recepcionista
é culpado, porque o facto de já haver dois casos semelhantes e de ter
cadastro na polícia é determinante. B – O recepcionista
pode não ser o culpado, pois tudo o que diz pode ser verdade. C – O recepcionista
pode ser o culpado, pois nem tudo o que diz pode ser verdade. D – O hóspede do quarto
123, aproveitando a confusão, ficou com a mala das jóias. |
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© DANIEL FALCÃO |
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