Autor

O Gráfico

 

Data

8 de Fevereiro de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [203]

 

Competição

Torneio “Detective Misterioso"

Problema nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [279]

 

 

PODIA TER ACONTECIDO!…

O Gráfico

 

Mas, realmente, não sucedeu! Foi, pois, uma festa onde todos puderam confraternizar. E todos trabalharam. Enquanto uns apanhavam canas e espadanas para a construção da «Esplanada» e «Quermesse», outros preparavam as ruas, enfeitando-as, para que aqueles dias 26 e 27 de Agosto, fossem convividos na maior alegria de sempre!

Outros preparativos foram necessários fazer, mas será desnecessário mencioná-los.

Falemos, agora, com um pouco de imaginação, do roubo que poderia ter surgido. Servirá para pôr os meus amigos do policiário a mais uma prova…

Dia 27. Domingo. Eram aproximadamente 9 horas da manhã e a «Alvorada», com o lançamento de foguetes, iria começar dentro em breve… Por isso, muita gente, ali no largo, onde se situava a «Esplanada», começava a agrupar-se!... O espectáculo era belo. A vista era bonita. Virados para o mar, tínhamos à esquerda, no cimo da rua, um velho forte em ruínas! Segundo os avós dos avós dos nossos avós… havia pertencido aos Mouros! O largo estava formidável, todo enfeitado de bandeirinhas… Isto, claro, fora trabalho das raparigas. Em todas as entradas e saídas das ruas, existiam arcos, constituídos por folhas de palmeiras. E, como não podia deixar de ser, à entrada da aldeia, no ar, entre dois postes, um enorme cartaz que dizia: «Bem-vindo à festa de Burgau». À nossa direita, lá muito no fundo, o enorme cerro que quase queria furar o céu. Em baixo, porque o largo ficava situado num topo, a linda praia dourada, com as suas ondas prateadas, que, mais ainda completava aquele segundo dia de festa!...

Os foguetes!! Nove horas em ponto… Eles aí vão em direcção ao céu! Pum! Pum! Pum! Era o barulho tremendo que se fazia sentir e ouvir! Toda a gente ria e batia palmas. Alguns, mais alegres, diziam, apontando com o indicador:

– Olhem aquele! Olhem aqueles… Foge… Foge… Ah, ah, ah!!

E as gargalhadas sucediam-se umas atrás das outras… Até que veio o silêncio. Silêncio este que não se fez sentir por muito tempo, uma vez que os altifalantes o romperam com a música repetida do dia anterior.

…Foi então, que, no decorrer da música, alguém do lado de dentro da «Esplanada» gritou:

– O dinheiro! A caixa com o dinheiro desapareceu!!

Com efeito, alguém com maus instintos, aproveitara o lançamento dos foguetes para se introduzir na parte de dentro do recinto e furtar a caixa do dinheiro!

Um dos organizadores logo disse:

– Tenham calma, porque se há-de descobrir o tratante! Até talvez fosse um miúdo, em virtude de na caixa se encontrar pouco dinheiro. Apenas algum para trocos, a fim de se iniciar um novo dia de festa.

Chamou-se o comandante da G. N. R., contamos-lhe o sucedido e chamaram-se os miúdos mais traquinas da povoação. Não queria dizer, com isto, que não tivesse sido um dos outros ou até mesmo um adulto, todavia, seria melhor começar por aqueles…

Em tom de amizade, sentaram-se numa mesa comprida da «Esplanada»: o comandante, os rapazes e alguns elementos da comissão. Assim como também gente do povo. Depois de porem os miúdos ao corrente do caso, eles começaram a falar… Disse um:

– Olhe, eu ‘tou-me nas tintas p’rá caixa do dinheiro! Na altura dos foguetes, estive lá em baixo na praia, a brincar com os meus cães! Eles até iam apanhar as canas que caíam ó pé de nós…

Prosseguiu outro:

– Sim, senhor. É verdade. Eu tava ó pé dos botes e vi ele com os cães a brincar!... Só não me cheguêp’ró pé dele, porque o cão preto não gosta de mim e podia-me aferrar alguma dentada…

Ia um terceiro a falar quando chegou o seu pai. Este disse:

– Mas o qu’é isto? Passa-se alguma coisa? O qu’é que fazes aqui? Já foste c’mer? – perguntou ao filho.

O guarda-fiscal contou-lhe o caso.

– O meu moço não foi! Ele teve c’migo a consertar redes. Levantámo-nos logo de manhãzinha e acabámos logo a seguir aos foguetes...

– Então e tu? – inquiriu de novo a autoridade junto de outro miúdo.

Este começou por dizer:

– É, quere lá saber do d’nheiro p’ra alguma coisa?! Quando deram os foguetes andava p’raí!... O ti Tóino pode dizer se na tive sempre aqui no largo ó pé dele…

Um outro afirmou:

– Ó senhor guarda eu cá, posso ser malandro, como me chamam, mas dinheiro na roubava! Portanto, não fui eu nem o Carlos! A gente e mais o Júlio tivemos brincando na estrada… A mãe do Paulo até viu a gente e disse: «Atão, moços, não vão ver os foguetes?» – disse Carlos, como continuando a conversa do amigo…

– Olhe que na fomos nós, senhor guarda! – disse, suspirando, Júlio.

Após um olhar do guarda em direcção a outro traquina, ele começou a falar:

– Eu, quando me levantei já a «Alvorada» tinha acabado. Ainda ouvi alguns na cama… E, pode perguntar ao ti Zé dos anzóis se quando ele me foi chamar, p’ra vir aqui, se eu não vinha a sair de casa!...

Disse o último, que estava no fundo da mesa:

– Eu tava no armazém do mé pai quando me foram chamar. Tive aqui a ouvir os foguetes e depois fui até lá, p’ra preparar a cana de pesca, p’rá tardinha ir ó sargo!...

Quando este terminou o comandante da G. N. R. mandou-os embora… Contudo, ele tivera muita paciência… Pouco depois disse quem roubara a caixa e mandou chamar os pais deles para estes convencerem os filhos a entregarem o dinheiro antes que no próximo dia o gastassem!... Sim… porque, pelas conversas, aquilo não fora «obra» de um único!...

E pronto, teria assim acontecido se realmente acontecesse!... Ou não? Não nos interessa. A imaginação está lançada e vou perguntar-vos:

 

1 – Quem foram os culpados?

2 –Como chegou o quarda-fiscal a essa conclusão?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO