Autor Data 30 de Novembro de 1985 Secção Publicação Diário Popular |
O MENDIGO ROUBADO O Gráfico Estávamos
na capital deste nosso belo país que muito estimamos. Propriamente no
Terreiro do Paço, onde se ergue a Estátua de D. José I, O Reformador, que foi o vigésimo quinto rei de Portugal, sendo
filho de D. João V e da rainha D. Mariana de Áustria. Neste domingo de
Outubro, o dia apresentava-se muito primaveril, com um sol radioso, convidando
as pessoas a saírem à rua. Nós, residentes no outro lado do Tejo, cá na outra
«banda» – como os olissiponenses dizem – decidimo-nos ir passear até Lisboa.
Bastava-nos atravessar o rio, através do cacilheiro, para, depois, andarmos
por lá, gozando de algumas maravilhas que a cidade nos proporciona.
Regularmente fazemos isto, porque a carestia da vida não nos permite grandes
voltas. Em Cacilhas estivemos tentados a comprar um matutino, mas
decidimo-nos a não fazê-lo, embora os jornais da manhã se mostrassem bastante
tentadores. Chegados
ao Terreiro do Paço, estranhámos ver um aglomerado de pessoas que discutiam
qualquer coisa que tinha acontecido. Curiosos,
aproximámo-nos e ficámos a saber o que se passara. Um velhote, pedinte, fora
assaltado, relatavam as pessoas. A «vítima» proferiu na presença do inspector
Rodriguinho – que por casualidade passara por ali e se dispunha a descobrir o
malfeitor – que levara uma forte pancada na cabeça (e mostrou o hematoma) e,
antes de cair desmaiado, ainda distinguiu que o seu assaltante tinha um
enorme bigode preto! Só isto… Após
uma busca minuciosa Lumafero, o ajudante do inspector, apurou dois suspeitos
com as características apontadas pelo assaltado, com possibilidades de o
terem roubado. Na presença do inspetor Rodriguinho, proferiram: JOÃO,
cinquenta anos, indivíduo corpulento: «– Não fui eu.
Logo de manhã, vim de Almada, passear até Lisboa. Comprei o «Diário Popular»
de hoje, para levar aos meus filhos que gostam de o ler. Eu não o leio porque
sou analfabeto. O jornal?... Ora, perdi-o no meio
desta confusão.» BENJAMIM,
cinquenta e dois anos, sujeito alto e possante, de raça negra: «– Eu também não fui. Deve haver engano por aí!...
Realmente, já por mais do que uma vez fui culpado de roubos e até estive
preso por isso, mas desta vez estou limpo. Além disso, estava calmamente a
ler um jornal desta manhã quando o seu ajudante me abordou.» O
inspector Rodriguinho franziu o nariz, olhou de soslaio para um dos suspeitos
e acusou-o de ter agredido e roubado o ancião. Perguntamos: 1)
Quem roubou o mendigo? 2)
Explique o porquê da sua dedução? |
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© DANIEL FALCÃO |
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