Autor Data 7 de Dezembro de 1985 Secção Publicação Diário Popular |
O ROUXINOL O Gráfico Dedicado ao Rockman/77 e ao seu professor Certo
dia recebi um telefonema do meu querido amigo Inspector
M.M., convidando-me para ir passar um fim-de-semana a sua casa. Aceitei a
amabilidade e juntamente com o meu inseparável ajudam-te, o Lumafero, lá fomos confraternizar. Habitualmente, estas
reuniões sucedem-se ora em casa dele, ora na minha. No meio de uma
investigação precisamos de descansar as «células cinzentas» e conviver um
pouco. Conversa daqui, diálogo para acolá, os assuntos ventilados são, quase
sempre, os mesmos, ou seja, o relembrar de casos curiosos desvendados ou
presenciados por nós e… assim nos divertimos imenso. O caso mais engraçado
revivido nesta última reunião foi, sem dúvida, aquele que baptizámos
de «O Rouxinol» e que se passou, precisamente, quando éramos ainda
adolescentes e frequentávamos o liceu. Tínhamos
numa das turmas um rapaz amigo que imitava o suave cântico de um rouxinol na
sua mais completa perfeição… Artur Agostinho era um rapaz alegre e divertido,
bom companheiro, que fazia rir os colegas com qualquer gracinha, mas o seu
«prato forte» era imitar o cântico do rouxinol em plena aula. Os professores
nunca o tinham descoberto, julgando até que de um rouxinol autêntico se
tratava – tão perfeita era a imitação –, visto que o liceu era circundado por
belos jardins com frondosas árvores. Alguns limitavam-se a ouvir o cântico
sem fazer comentários. Outros chegavam a assomar-se às enormes vidraças das
salas de aula, espreitando para fora, tentando observar o pequeno pássaro
dentirrostro, no exterior, que tão bem cantava. Mas ninguém se lembrava de
investigar se, realmente, o bonito canto provinha da sala de aula… E o Artur
Agostinho ia-se deliciando! Até
um dia!... Estávamos em pleno Outono, princípios de Novembro, dezanove horas,
última aula do dia. O «rouxinol» começou a cantar. O professor, fazendo-se
despercebido, principiou por não ligar, mas, apercebendo-se de que o pássaro
apenas se ouvia quando ele estava voltado de coz-tas para os estudantes,
virou-se e de chofre perguntou quem era o autor da «brincadeira». O
«rouxinol» deixou de se escutar e os inquiridos mantiveram-se impávidos e
serenos. O professor voltou-se para o quadro e o «rouxinol» recomeçou a
cantar num som vibrante e suave simultaneamente… De novo o professor se
voltou para nós e fez a mesma pergunta, aconselhando o brincalhão a
identificar-se… Obteve a mesma resposta. Estava perante uma turma unida e
coesa. Todos nos mantivemos silenciosos. O professor resolveu, então,
dirigir-se a uma vidraça da sala, abriu-a e espreitou para fora… Nada. Fechou
a janela e, estando de costas para os alunos, ouviu novamente o trinar do
«rouxinol». Manteve-se assim, durante alguns segundos, enquanto ao «rouxinol»
se extasiava com o seu belo cantarolar. O
professor regressou ao quadro e quando acabou de passar o exercício deu
determinado tempo para o resolvermos. Estávamos tão concentrados com o
exercício que já nos esquecêramos do «rouxinol». Apercebi-me, no entanto, que
o professor começou a andar em nosso redor incidindo próximo do Agostinho.
Este, devido à presença do professor, olhava-me de soslaio e começava a ficar
inquieto… Então, bruscamente, o professor, que era um homem alto e bem
constituído, agarrou o Agostinho pelos colarinhos e suspendeu-o no ar!
Perante o olhar surpreso e aterrado do «rouxinol» e a nossa perturbação, o
professor proferiu: «– Olha, meu menino… se voltas a
gorjear aqui, nesta sala de aulas, sais disparado, não pela porta de entrada,
mas sim por aquela janela e… a VOAR! Entendido?...» – e apontou para uma das
vidraças da sala. Logicamente
que o professor não cumpriu a ameaça, mas que o Agostinho apanhou um grande
susto é verdade! Tão verdade que o trinar do «rouxinol» jamais se ouviu nas
salas de aulas!... Os dias que se seguiram à descoberta do «rouxinol» foram
de autêntico «massacre» contra o professor, porque queríamos que ele nos
explicasse como conseguira descobrir que o trilar provinha do Artur. O
professor limitou-se a dizer-nos que desconfiara de uma imitação porque não
podia haver nenhum rouxinol lá fora. O porquê de como «apanhara» o Agostinho
tivemos de ser nós a descobrir!... Mas conseguimos. Agora,
que todos os leitores têm conhecimento da história ponham a «massa cinzenta»
a trabalhar e respondem: a)
– Porque é que o professor afirmou que não podia haver nenhum rouxinol no
exterior? b)
– Como descobriu ele que o imitador era o Agostinho. |
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© DANIEL FALCÃO |
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