Autor

O Gráfico

 

Data

2 de Agosto de 2023

 

Secção

Repórter de Ocasião

 

Competição

2º Torneio de Entretenimento de Problemística Policiária

Problema Policiário nº 4

 

Publicação

Blogue Repórter de Ocasião

 

 

INSPECTOR RODRIGUINHO EM BURGAU - UM CORPO À RABELETA

O Gráfico

 

No Algarve, mais propriamente em BURGAU, vivem-se momentos de tranquilidade quer seja Inverno ou Verão ou outra qualquer Estação! Sabedor desta calma e sossego o Inspector Rodriguinho, na companhia do seu fiel Ajudante Lumafero decidiram ir gozar uns dias de férias a esta Aldeia piscatória actualmente em progresso, muito evoluída, graças ao Turismo, mas como era época de Inverno as pessoas seriam em menor quantidade e a calmaria seria constante. No entanto, logo no terceiro dia de repouso…. o impensável aconteceu… na praia deserta, com o mar nada revoltoso, de poucas ondas que se desvaneciam na praia, mesmo em frente do habitual Restaurante – que funciona durante todo o ano! – um corpo foi encontrado, logo de manhãzinha, por volta das 7 horas, com uma faca de mato espetada no peito! Um homem aparentemente de meia-idade… encontrava-se de costas na areia, já cadáver, de peito para o ar… onde se via a enorme faca espetada na zona do tórax, com o sangue, ainda muito vivo que saíra da ferida… as roupas que vestia e as botas de borracha estavam encharcadas. Esta descrição foi visualizada pelo Inspector Rodriguinho e o seu Ajudante Lumafero quando chegaram junto do local cuja areia em redor do corpo já estava repleta de pegadas inconfundíveis… das pessoas que se aproximaram! Entretanto a maré vazara. Depois de se identificar e saber o nome do morto, Manel Sombrio, o Inspector pediu ao seu Ajudante para pegar no seu bloco de notas e tomar apontamentos, pois, iria conversar e recolher depoimentos de algumas pessoas da Aldeia, precisamente aos camaradas que mais confraternizavam com o morto, em jogos tradicionais, na pesca e na caça.

Joaquim Frenético Amador, pescador e caçador foi o primeiro a prestar declarações… porque foi ele quem encontrou o corpo do seu amigo. Disse ele: 

– Oh, pá, que coisa, ainda ontem à noite houve pagode entre a rapaziada e ninguém ficou marafado, uns com os outros, apesar do Manel Sombrio ter andando à cachamorrada com o Miguelito Boné Punhada, mas tudo não passou de brincadeira e uns lembefes entre eles até fez bem à moral! Tudo por causa do peixe alimado… um dizia que os charrinhos estavam mal cozidos e outro afirmava que não… e tudo passou porque màrrelé não existia entre os dois. Hoje, logo de manhãzinha, porque não tenho o sono dermente levantei-me cedinho e vim até à praia passear a minha canita… quando me apercebi, que andava um corpo de rabeleta à beira-mar! Aproximei-me e vi que se tratava do Manel Sombrio que tinha um grande bechoco no peito. Fiquei logo com uma ravasca… quem teria feito isto a uma pessoa amiga!? Entretanto aproximou-se o Miguelito Boné Punhada que me deu de vaia e as pessoas foram aparecendo enquanto a maré ia baixando.

Miguelito Boné Punhada:

(Pescador que adora Papas de Milho)

– Uf! Ainda ontem à noite andei à cachamorrada com o Manel mas somos ou éramos amigos… porque foi uma farsa… eu gosto muito de Xerém de Condelipas nas tejalas, mas o Sombrio queria que eu comesse o peixe alimado e não vou à bola com os charrinhos tão pequeninos! Depois do desaguisado entre nós acabámos a festa a dar à tramela, podem perguntar a toda a gente.

Tó dos Anzóis Lula Branca:   

(Pescador de Aparelho)

À rebendita decidi vir de manhã à praia depois das carcachadas de ontem, na festa, onde tarrincámos umas belas Alcagoitas e bebemos muita cerveja. Maquejeito, sou marraxo de Toneira e a alcunha do Lula Branca é que uma vez… pesquei uma de 5 kilos! Foi uma alegria aqui em Burgau com um enorme lavarito! Antes que venha buzaranha tinha de ter o aparelho pronto para ir ao mar, preparando bem os anzóis e por isso vim logo de manhã até à praia onde se encontra o material da pesca! Lamento a morte do Manel Sombrio porque fazíamos parte de uma unida moçanhada. Quando o vi, ali, espatarrado até me doeu o coração, de tristeza, e lembrei-me, logo, da sua moçaquena… coitada, ficar sem pai!

Perante as palavras destes três intervenientes, Joaquim Frenético Amador, Miguelito Boné Punhada e Tó dos Anzóis Lula Branca… foi muito fácil ao Inspector Rodriguinho culpar um deles pela morte, assassínio, do Manel Sombrio, porque mentiu nas suas afirmações e o notável Inspector nem necessitou de dar uma olhada nos apontamentos do Ajudante Lumafero! Apesar da confusão e interpretação do dialecto Algarvio… o caso foi desvendado… de caras! 

 

…Agora é a vez dos decifradores e solucionistas do Blogue do “Repórter de Ocasião” (RO), dizerem de sua justiça perante esta morte à beira-mar! Apresentem a sua resposta/solução de como tudo teria acontecido e indiquem o nome do culpado e o(s) pormenor(es) que o incriminam.

 

DIALECTO ALGARVIO UTILIZADO NO TEXTO:

Alcagoitas – amendoins

Alimado – a que se tira a pele depois de cozido

À rebendita – de propósito

Bechoco – ferida

Buzaranha – vento forte que aparece de repente

Cachamorrada – pancada

Canita – cadela

Carcachadas – gargalhadas

Charrinho – carapau miúdo

Dar à tramela – conversar

De rabeleta – a rebolar

Deu-lhe de vaia – cumprimentou-o

Espatarrado – caído, estatelado

Lavarito – algazarra, barulho de vozes

Lembefe – bofetada

Maquejeito – sem habilidade para fazer as coisas

Marafado – irritado

Marraxo – marítimo, pescador

Màrrelé – mau génio

Moçanhada – Rapaziada, um grupo de rapazes

Moçaquena – menina (moça pequena)

Pagode – divertimento

Ravasca – fúria

Sono dermente – sono profundo

Tarrincámos – mastigámos

Tejalas – tigelas

Toneira – aparelho de anzóis para pescar lulas

Xerém de condelipas – papas de milho com conquilhas

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO