Autor Data 5 de Março de 2006 Secção Policiário [764] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2005/2006 Prova nº 2 Publicação Público |
Solução de: O CANTAR MARAVILHOSO DO TENTILHÃO Onaírda Quando se refere que
estamos num ano muito seco e vai haver um défice previsível de 6,8 por cento,
vê-se que estamos no ano de 2005. E igualmente quando Tempicos
traz um ramo de flores, mas que são papoilas e espigas porque era um dia a
preceito, também se vê que estamos em quinta-feira da Ascensão, vulgo
quinta-feira da espiga. Então o dia é o 5 de Maio de 2005. A partir das declarações do
empregado da cervejaria, sabe-se que o homem branco tentou impedir que o
empresário fechasse a porta do seu automóvel. Por isso deu liberdade de acção para que o negro entrasse pelo lado direito da
viatura e executasse o golpe na garganta, confirmado por que só uma pessoa
deste lado podia desferir o golpe da direita para a esquerda. Garçôa tem possibilidades de obter a identificação dos
indivíduos, não só porque tem as suas impressões digitais nos copos de
cerveja ainda no balcão mas especialmente tem as do negro na nota de cinco
dólares. E não nos vamos esquecer que o indivíduo branco também deixou
impressões digitais no vidro e porta do lado esquerdo. Dada a natureza do crime e
não tendo o furto como móbil, facilmente se constata que era um ajuste de
contas levado a cabo por profissionais. Assim, era previsível que ambos
tivessem cadastro e que já tivessem estado presos. A sua situação de estarem
em liberdade era devid a que já tivessem cumprido
pena adequada ou então que estivessem a gozar uma “condicional” E no caso
concreto do individuo negro, que por ter sotaque afrancesado não deveria ser
nacional, seria mais fácil a sua identificação através do SEF. Identificado
um, facilmente se chegaria ao outro. O laboratório da polícia
científica trabalhou todo o dia de sexta-feira na digitalização de todas as
impressões digitais. Trabalhando com os computadores do Ministério da Justiça
e recorrendo-se ao cruzamento de dados, depressa se chegou a Arnaldo Camarão
e Mifiná Siké. Prova
deste facto foi a presença da agente Cristina no laboratório nessa
sexta-feira, providenciando que não houvesse tempos mortos na procura de
resultados. Tendo a certeza de que
estes dois tinham sido os criminosos (para o efeito, Garçôa
tinha a presença do empregado da cervejaria, que numa sala anexa, e através
de um vidro espelhado que o tornava invisível, identificou afirmativamente os
assassinos), o inspector recolheu as suas
declarações, sempre obrigatórias, com o objectivo
de procurar uma confissão espontânea. As declarações de Arnaldo
Camarão foram um rosário de mentiras porque: a) Já se sabe que o crime
ocorreu na quinta-feira da espiga e que no concelho de Mafra, a que pertence
a Ericeira, é dia de feriado municipal. O porto de pesca da Ericeira fica
totalmente inactivo no que se refere a serviços prestados pelo Clube Naval,
proprietário da grua de bota abaixo e de alagem, assim como dos tractores de arrastamento.
Logo, seria impossível a Arnaldo entreter-se a ver a grua na sua função
habitual dado que ela estava recolhida. b) Quanto ao treino do
tentilhão, este até seria possível, mas neste caso a gaiola teria de estar
envolta e tapada com um pano branco, condição indispensável para que o
tentilhão cante sem se assustar com o ambiente à sua volta e para não se
espantar. Portanto, se as pessoas viram o bico azul do pássaro (o que é
normal na Primavera) é porque ia destapado e deste modo não se podiam deliciar
com o canto do tentilhão. Quanto às declarações de Mifiná Siké, Garçôa analisou-as e concluiu: a) Mifiná
referiu que desatracou o barco às 09h00 e que depois seguiu para as bandas do
Samouco para apanhar minhocas para a pesca. Até aqui tudo bem, mas a apanha
das minhocas só se pode fazer com a maré vazia (mais concretamente uma hora
antes da baixa mar e até que a água suba) e nesse dia 5 de Maio a baixa-mar
foi às 06h43 e portanto cerca de três horas depois já não era possível
apanhar minhocas, nem no Samouco nem em parte alguma que dependesse das
marés. b) Em relação à pesca nas
valas de Vila Franca, é uma declaração despropositada, mas em todo o caso
incongruente, porque as espécies de peixes referidas, na data de 5 de Maio
estão em época de reprodução, portanto nem é a altura ideal, nem é permitida
a sua captura. Com estas
declarações tanto Arnaldo
como Mifiná mentiram e, mais grave, não
apresentaram álibis consistentes que comprovassem que não estiveram no
Restelo naquele dia 5 de Maio. Deste modo, Garçôa tinha todas as condições para fundamentar o seu relatório
e enviá-lo para o tribunal. |
© DANIEL FALCÃO |
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