Autor

Paris

 

Data

10 de Abril de 1994

 

Secção

Policiário [145]

 

Competição

Torneio Rápidas Policiárias 1994

Prova nº 10

 

Publicação

Público

 

 

A GRANDE MENTIRA

Paris

 

O Comissário Dubois estava de muito mau humor. Detestava que o chamassem quando já estava na cama e, ainda por cima, por causa de “artistas malucos”, como ele próprio costumava dizer. Saiu do carro e bateu à porta imponente do não menos imponente casarão, sendo atendido por um colega seu. Entrou e deu de caras com o amuado Insp. Lapointe. A seu lado estava sentada uma senhora, chorosa, que Dubois calculou ser a mais recente viúva de Paris. Num canto, dois homens e uma senhora de idade, em roupão, permaneciam muito calados.

– Explique-me o caso – pediu Dubois, após ter chamado Lapointe a outro canto da sala.

– Bem, chefe, o que se passa é isto: quando a Madame Calas acabou de tocar violoncelo na sala de música – ela é uma famosíssima violoncelista, como deve saber – e subiu para o quarto do casal, para se deitar, deparou, segundo afirmou, com o marido deitado em cima da cama, com um punhal espetado na região do coração.

Ficou horrorizada, como é de calcular, e todos os outros ocupantes da casa – três para ser exacto –, ouviram o seu grito terrível. Acho que será melhor despachar já a Madame Calas para a deixar descansar.

Parecendo ouvir o que diziam em surdina, Madame Calas levantou-se e dirigiu-se a eles com passos tão largos quanto a sua saia comprida e justa permitia:

– Por favor, descubram quem matou o meu marido…

– É o que esperamos – disse o Comissário Dubois. Entretanto pode dizer-nos o que fez esta noite, até à trágica descoberta do seu marido?

– Estive sempre a tocar violoncelo na sala de música, até cerca das 22h30. Depois arrumei o instrumento e subi, mas mal cheguei ao quarto deparei com ele naquele estado… Gritei e não me lembro de mais nada – disse, recomeçando a chorar.

Dubois mandou Madame Calas descansar um pouco e foi ter com os outros três personagens, empregados da casa, como veio a saber.

– Quero que me digam o que estiveram a fazer até ouvirem o grito da vossa patroa.

– Eu – respondeu a criada – estive a preparar um bolo para o pequeno almoço de amanhã. Depois fui para a cama, dormir.

– Eu tentava ler o jornal – disse o mordomo – mas não era possível com aquele horrível som do violoncelo. Fico irritado e só me apetece mandar tudo ao chão. Nem TV consegui ver.

– Eu, por mim, não me incomodo nada – respondeu o secretário de Monsieur Calas – estive a jogar xadrez com o patrão até pouco depois das 22 horas. Depois lembrei-me da agenda de amanhã e fui-me deitar.

Pouco depois de apagar a luz ouvi o grito. É tudo. Dubois afastou-se deles para ouvir o médico legista afirmar que a vítima morrera pela acção do punhal e, da boca de um seu assistente, que o relógio do morto parara exactamente às 22.45 horas, por ter batido violentamente na barra da cama.

– Então, chefe, o que é que acha deste caso? – perguntou Lapointe.

– Não sei ainda quem é o criminoso, temos de interrogar com mais pormenor, mas que há alguém que mentiu, isso há! Quem mentiu ao Comissário Dubois?

 

A – O secretário

B – Madame Calas

C – A criada

D – O mordomo  

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO