Autor

Paris

 

Data

19 de Dezembro de 1999

 

Secção

Policiário [440]

 

Competição

Torneio “Fórmula 1”

Torneio “Detective Said

Prova nº 5

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

O LADRÃO QUE VEIO PARA JANTAR - O PRIMEIRO CASO DE STEVE ANDERSON

Paris

 

A partir do depoimento do casal York, ficamos a saber que todas as entradas para o apartamento, sejam elas janelas ou portas, estavam fechadas, quando foi descoberto o roubo da jóia, o que pressupõe que o criminoso fosse alguém que estivesse dentro de casa. Sabemos também que os convidados, voluntariamente, se deixaram revistar, o que indica que nessa altura já não tinham a jóia em seu poder. O roubo foi realizado, necessariamente, depois de os convidados terem visto a jóia (altura em que ficaram a saber também a combinação do cofre) e antes do fim do jantar. Como até à hora do jantar a sala foi ocupada pelos homens, nunca tendo ninguém ficado sozinho, resta-nos o espaço de tempo que vai desde o início do jantar, quando todos se dirigiram às casas de banho, até ao seu fim. Quem roubou a jóia foi quem se dirigiu à casa de banho que fim ao lado da sala do cofre. Temos então, pelo menos, dois suspeitos, Joan Brown e Anthony Simpson, ficando Sir Sidney Bird desde logo excluído por ser o único que sabemos não ter ido a essa casa de banho. No depoimento de Joan Brown não encontrámos nada que nos indique ser ela a ladra, além de que o ladrão esperaria que todos fossem à casa de banho de modo a que ele fosse o último. Como Anthony Simpson foi imediatamente a seguir a Joan, se ele a tivesse visto sair da sala, tinha logo feito saber isto. Como não o fez, podemos pôr Joan de parte.

Resta Anthony Simpson. Sabemos que ele fez um telefonema à esposa antes do jantar e que foi à casa de banho que fica ao lado da sala do cofre depois de Joan Brown. A sua esposa fez, contudo, uma revelação interessante. Disse que esteve toda a noite, até às 5h desse dia, a observar uma ave, sem nada que a incomodasse. Supondo que os Simpson tinham um telemóvel, ela nunca o levaria, pois o seu som, se alguém lhe telefonasse, poderia pôr em risco a sua observação. Mesmo admitindo a possibilidade de que o seu marido conseguisse contactar com ela, quando lhe telefonou de casa dos York, estando ela, portanto, ainda em casa, é impossível que ela soubesse, sem que alguém lhe tenha dito, que a jóia tinha sido roubada, o que significa que Glória estava a mentir. Como Glória sabia do roubo da jóia, então é porque tinha estado em contacto com o marido depois do roubo da jóia, ou então ela própria estava envolvida no roubo. Qualquer uma destas duas hipóteses deita por terra o seu álibi.

Se Glória mentia, então tinha como intenção não revelar o seu verdadeiro paradeiro nessa noite. Como quem roubou a jóia estava presente no jantar e no final deste a jóia já não estava no apartamento, então quem a roubou teve que contactar com um cúmplice seu que estaria no exterior, de modo que o ladrão abrisse o cofre, tirasse a jóia e, sorrateiramente, a deixasse cair pela parede, onde estaria o seu cúmplice para a apanhar (é preciso lembrar que já era noite e hora de jantar, pelo que as poucas pessoas que estivessem eventualmente presentes na rua àquela hora não reparariam ou não dariam importância, se tudo fosse feito com discrição).

Os únicos que tiveram contacto com o exterior foram Anthony Simpson e Sir Sidney Bird, que já foi ilibado. Resta-nos Anthony Simpson, que, como já vimos, preenche todos os requisitos para ser o ladrão. Se juntarmos a isto o facto de Glória Simpson ter mentido e ter dito coisas que, se estivesse inocente, não poderia saber, então estão encontrados os criminosos – o casal Simpson!

© DANIEL FALCÃO