Autor Data 20 de Junho de 1999 Secção Policiário [414] Competição Prova nº 10 Publicação Público |
VIAGEM AO PASSADO Paulo Narciso Morais estava em
casa do seu amigo Miguel Andrade e Sonsa, descendente de uma linha da nobreza
portuguesa, mas cujos títulos tinham sido vendidos há muito. Restavam alguns
documentos guardados com cuidado, e que Narciso Morais, apaixonado por tudo o
que dissesse respeito à História de Portugal, não queria perder a
oportunidade de ver. – Este aqui – dizia Miguel –
é o mais polémico de todos. Nunca se soube se esconde um crime, ou se corresponde
à verdade. Tu que és polícia, quem sabe se passados quase 300 anos não vais
agora descobrir tudo. – Conta lá, que estou
curioso – disse Narciso Morais, olhando aquela folha de amarelo velho, que o
seu amigo lhe mostrava. – Em Novembro de 1706, os
meus antepassados Augusto Nóbrega e Sousa e Francisco Albuquerque e Sousa,
que se encontravam na Baía, no Brasil, meteram-se os dois pela floresta
dentro, em busca de fortuna fácil. Em fins de Janeiro de 1707
apareceu Augusto, muito abatido e doente, dizendo que o seu primo morrera
vitimado por febres. Tinham-se perdido na floresta, estiveram semanas sem ver
ninguém, perdidos, e após a morte de Francisco, ele tentara sozinho chegar à
civilização. Guiando-se de dia pelo Sol e orientando-se de noite pelas
estrelas, conseguira chegar a uma cidade, que agora já não me lembro qual
era, carregado de esmeraldas. Antes de morrer, Francisco
tinha escrito uma carta que o seu antepassado só mostrou quando já se
encontrava em Portugal. Narciso Morais pegou na carta e leu em voz alta com alguma
dificuldade. “Eu, Francisco Nóbrega e
Sousa, encontrando-me, em debilitado estado de saúde, declaro em nome de
El-Rei Dom João que cedo toda a minha fortuna a meu primo, Augusto
Albuquerque e Sousa, caso não consiga sair com vida desta selva. Desejo que esta minha
vontade seja atendida, que Deus me proteja e seja misericordioso com a minha
alma.” Seguia-se uma assinatura
onde se conseguia, com uma certa dificuldade, ler o nome de Francisco Almeida
e Sousa. – Que me dizes? – perguntou Miguel –Tu que além de seres polícia, gostas de
história… achas que a carta é verdadeira? – O que concluíram na
época? – Nunca acharam que a letra
fosse suficientemente diferente da do morto, para concluírem da sua
falsidade, mas também as técnicas de investigação na época não deviam ser
nenhumas. Narciso Morais olhou
pensativo para o pequeno papel, recordando o episódio narrado pelo seu amigo.
Aqui, interrompe-se a
narrativa para perguntar qual das seguintes quatro hipóteses poderá
corresponder àquilo que Narciso Morais pensa. A – Augusto mentiu, pois no
hemisfério sul não é possível uma pessoa orientar-se pelas estrelas. B – Augusto mentiu, pois o
seu amigo, nos meses em que decorreu a expedição, jamais poderia morrer de
febre. C – Augusto mentiu, pois se
Francisco estava doente, não escreveria uma carta, que o poderia “condenar à
morte” se o primo quisesse, e sem que viesse a sofrer qualquer consequência. D – Augusto mentiu porque
aquela carta jamais poderia ser escrita pelo primo. |
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© DANIEL FALCÃO |
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