Autor

Paulo

 

Data

27 de Maio de 2012

 

Secção

Policiário [1086]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2012

Prova nº 3 (Parte I)

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

A MORTE DO GENERAL

Paulo

 

Existem indícios que apontam Caio como assassino do tio:

– Discordância entre o local onde foi encontrado o projéctil e a trajetória de um disparo feito da janela;

– Características do orifício de entrada do projétil incompatíveis com um disparo à distância;

– Discordância entre a declaração de Caio sobre a perseguição feita ao fugitivo e a trajectória que as pegadas demonstram que ele efetuou;

– Características das pegadas do desconhecido que indiciam que ele caminhava. Apenas as pegadas identificadas de Caio indiciam corrida;

– Falta de tempo do fugitivo para esconder a arma.

a) A morte imediata faria com que o corpo caísse no local onde foi atingido.

Sendo o tiro disparado da janela, na direcção da porta, uma vez que o corpo está nesse eixo, nunca a bala poderia estar entre o corpo e a janela, à frente da secretária, mas junto da porta, à frente do sofá.

b) Os tapetes fofos que cobriam todo o chão não permitiriam o rebolar do projéctil, que mesmo assim com a energia cinética que possuía deveria rolar sempre para o lado da porta.

c) Temos um projéctil num local incompatível com um disparo feito do exterior pela janela.

d) O ferimento de entrada, ferida em estrela e queimadura, indica um disparo feito com a arma junto da cabeça.

e) Conclui-se que o tiro foi disparado dentro de casa, e nunca no sentido da janela para a porta.

f) A partir dos dados anteriores e do facto de as pegadas mostrarem que ninguém saltou para o exterior pela janela, a história de Caio fica sem consistência.

g) Não terá havido então nenhum atirador fugitivo.

h) A trajectória das pegadas não confirma Caio. O mais natural seria que ele corresse, em linha recta, em direcção ao homem que fugia, e não que descrevesse uma trajectória que passava primeiro pela janela.

Ele próprio afirma que foi atrás do fugitivo. A perseguição seria feita pela hipotenusa e não pelos catetos.

i) As pegadas de Caio indiciam corrida, pela evidência do tacão sobressaindo. Nas pegadas do presumível fugitivo, o pé completo indica marcha normal sem corrida, contradizendo a descrição de Caio.

O fugitivo não chegou nem partiu a correr.

j) Mais estranho foi o aparecimento da arma num buraco da parede. Como é que alguém perseguido esconde a arma e ainda coloca uma pedra a ocultar o buraco, com Caio a correr e a chegar junto ao muro? Não faz sentido, pois não teria tempo para o fazer.

l) Vemos uma história falsa que parece querer incriminar o Luís, como prova o uso da arma com as impressões digitais largada num local em que evidentemente seria descoberta.

m) As impressões digitais de Luís na arma são justificadas por frequentemente andar com ela.

n) A inexistência de impressões digitais de Caio na arma indica apenas que ele usou luvas.

o) Caio planeou o crime para a hora que sabia estar sozinho em casa: Eva na missa, Luís de folga e Cid no seu passeio habitual. Depois Cid, que ouvia mal, estaria como sempre a ouvir o seu programa na rádio.

p) Comos se passou o caso?

Poderá haver formas distintas de constituir uma cronologia dos factos, mas a mais óbvia e que terá que servir de base a possíveis variações, aponta para que Caio, sabendo que iria estar sozinho em casa, tenha assassinado o tio, depois do irmão e Eva saírem. Encostou-lhe a arma à cabeça, virado para a janela, e disparou caindo o tio junto do sofá. Pegou na cápsula e colocou-a fora da janela.

Saiu com a arma, que sabia ter as impressões de Luís, calçou umas botas antigas ou que arranjara em algum lugar, levou as suas na mão, contornou a propriedade, colocou a arma no buraco do muro, saltou sobre ele, dirigiu-se à janela e voltou para trás.

Colocou as luvas e as botas usadas no pinhal, calçou as suas novamente e regressou a casa. Esperou que o irmão estivesse em casa a ouvir o programa radiofónico, fez o trajecto da zona lateral da casa até à janela, da janela ao muro e novamente de regresso à janela em passo de corrida. Saltou pela janela e foi alertar o irmão que ele sabia não poder afirmar que não houvera disparo, dado os problemas auditivos.

Pensava ter cometido um crime perfeito, mas inventou uma história cheia de buracos.

q) O móbil terá sido a herança, mas os motivos políticos não seriam de espantar vindos de um germanófilo em plena ascensão bélica de Hitler, perante o apoio do avô à posição inglesa.

r) Finalmente uma observação para as fontes técnicas que utilizei. Os artigos de Artur Varatojo no ABC Policial e os textos que o L.P. escreveu no XYZ Magazine.

© DANIEL FALCÃO