Autor Data 11 de Agosto de 2013 Secção Policiário [1149] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2013 Prova nº 7 (Parte II) Publicação Público |
A MORTE DA CABELEIREIRA Paulo Narciso
Morais, maldizia a sua sorte. Depois de uma noite
sossegada, quando pensava que ia para casa dormir, viera aquela chamada. Parou
em frente do bloco de apartamentos onde fora solicitada a sua presença. Ao
entrar no prédio reparou que a porta da rua não fechava. A
vítima morava no 1º andar esquerdo, um apartamento T1 com algum grau de
desarrumação. O
corpo estava no quarto e a causa da morte era evidente. Uma faca ao lado do
corpo servira para executar a degola. Grande quantidade de sangue sujava o
chão. Duas
pessoas aguardavam-no à espera de serem interrogadas. Ouviu-as isoladamente
na cozinha. -
Chamo-me Manuela Rebelo e moro nesta rua, logo no início, com os meus pais.
Sou cabeleireira e era colega de trabalho da Luísa. Como todas as manhãs,
passei aqui para a vir buscar. Hoje cheguei mais tarde, cerca das oito e
meia, pois o meu carro não pegava. Estranhei
ela não estar à minha espera e como a campainha da
rua está avariada subi. Ao chegar à porta, vi o Arnaldo a sair com sangue na
roupa e nas mãos. Ficou assustado ao ver-me, disse que a Luísa estava morta e
que ia chamar a polícia. O Arnaldo é o namorado da Luísa, embora ela estivesse
a pensar acabar com tudo. Disse-me que ele era violento e que andava a
pedir-lhe dinheiro. Sei que por vezes ele passava cá a noite. Entrei
e vi isto. Pouco depois o Arnaldo voltou com a polícia. Narciso
Morais disse que, para já, não tinha mais perguntas a fazer. Mandou sair
Luísa e chamou o Arnaldo. –
O meu nome é Arnaldo Moura e trabalho num café aqui em Lisboa, embora more em
Almada. Moro sozinho. Saí de casa eram sete horas e apanhei o autocarro para
Lisboa. Embora o meu turno só comece às dez horas, vim mais cedo para falar
com a Luísa, que andava bastante preocupada. Tinha recebido telefonemas do
ex-namorado, um tal Luís Almeida, que lhe não tinham agradado. Cheguei aqui
eram quase oito e meia. Subi e vi que a porta estava aberta, o que achei estranho.
Eu conhecia bem os hábitos dela e sei que jamais deixaria a porta aberta.
Entrei e já sabe que a vi no quarto. Peguei-lhe para ver se ainda estava viva
e saí para chamar a polícia. Nas escadas encontrei a Manuela, que me pareceu
um pouco irritada ou nervosa. Não sei bem explicar. Narciso
Morais mandou-o sair. Viu
as horas. Dez e meia. Devia estar a dormir e ainda estava a trabalhar, mas já
que tinha começado também queria acabar. Dirigiu-se à sala, pegou no telefone
e contactou o seu chefe dizendo-lhe que tinha perdido o sono e que ia
continuar a tratar do caso durante o resto do dia. O
médico legista informou-o que a morte ocorrera já depois das oito. Mais
pormenores, só depois da autópsia. Chamou
novamente Manuela e Arnaldo de forma a obter alguns elementos que achou
necessário possuir para prosseguir a investigação. Em
casa dos pais de Manuela estes referiram ter a filha saído de casa às oito
horas ou talvez um pouco depois. No
local de trabalho de Manuela e Luísa disseram-lhe que tinha havido uns
mexericos acerca de roubo de namorados, mas que elas nunca tinham demonstrado
qualquer tipo de inimizade. Na
sede da Judiciária verificou que Arnaldo e Luís possuíam cadastro. O primeiro
fora condenado duas vezes por agressão. O segundo fora apanhado na posse de
droga mas não fora provado que fosse traficante. Apenas consumidor. No
local de trabalho de Arnaldo Moura o patrão referiu que nunca tivera qualquer
problema com ele. Por vezes chegava um pouco atrasado e cheio de sono, mas
nada de muito grave que afetasse o serviço. Chegou
a casa de Luís passava das duas da tarde. Luís vivia com os pais e quem lhe
abriu a porta foi a mãe. O filho estava a dormir e Narciso Morais teve que
esperar alguns minutos até que um jovem ensonado lhe aparecesse à frente. Quando
soube o motivo da visita ficou baralhado e durante alguns momentos não
conseguiu exprimir qualquer ideia. Quando finalmente acalmou, disse: –
Não é possível! Ainda há dois dias lhe telefonei. Tivemos um caso, mas a
amiga dela, a Manuela, estragou tudo. Ofereceu-se e eu aproveitei. A Luísa
soube e acabou tudo. Devia era ter-se zangado com a Manuela. Mas zangou-se
comigo. As duas continuaram amigas. –
A última vez que a vi foi há dois meses, no Terreiro do Paço, no concerto de
comemoração dos vinte anos do 25 de Abril. Já tínhamos terminado tudo, mas eu
continuo a gostar dela e ultimamente telefonei-lhe algumas vezes para tentar
recomeçar. –
Passei esta noite no Porto. Todos os anos vou lá passar a noite de S. João.
Fui sozinho. Já de manhã apanhei o comboio e cheguei a casa pouco antes da
uma hora. Agora estava a recuperar o sono. Como estou desempregado tenho todo
o tempo do mundo para mim. Narciso
Morais abandonou a casa de Luís Almeida, tendo já uma ideia precisa do que
teria acontecido Tal
como Narciso Morais também o leitor não tem dúvidas. Das
hipóteses seguintes, indique a que considera correta. Narciso
Morais acredita que… A
– Manuela é a criminosa; B
– Arnaldo matou a namorada; C
– Luís é o criminoso; D
– Nenhum dos três cometeu o crime. |
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© DANIEL FALCÃO |
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