Autor Data 10 de Setembro de 2024 Secção A
Página dos Enigmas [38] Competição Problema nº 2 Publicação Blogue A Página dos Enigmas |
O MISTÉRIO DA REVISTA DESAPARECIDA Paulo Este
caso passou-se com o Jorge. Não havia ninguém na universidade que não o
conhecesse. O Jorge era um “passeador de livros”, ou melhor, passeava-se a si
próprio, pois das poucas vezes que ia às aulas nem um bloco de apontamentos
levava. Frequentava as aulas práticas, mas nas teóricas e teórico-práticas
raramente era visto. O
Jorge morava na Residência Universitária na companhia de muitos outros
estudantes e da sua enorme coleção de revistas, cuja temática não vem ao
acaso, que ele conservava em estado impecável. Como
ninguém é perfeito, aconteceu que o Jorge se esqueceu de uma das suas famosas
revistas na sala de convívio, e que, quando se lembrou da desgraça e
regressou ao local para a recuperar, apenas encontrou por lá o sítio onde ela
estivera pousada. Cerrou
as portas da Residência, juntou todos os que por lá estavam na sala e quis à
força saber quem lhe desviara a sua preciosidade. A
Residência tinha dois andares com dois apartamentos de cada lado e a sala de
convívio era no rés-do-chão, com uma porta que dava para o hall
de entrada. Uma televisão, vários sofás, cadeiras e duas pequenas mesas
constituíam o mobiliário. Uma enorme janela rasgava a parede quase
completamente, deixando entrar o sol naquela tarde amena de março. Na
sala de convívio apenas ficara o João. Estivera com o Jorge até as três e
meia, este saíra, e quando regressara ainda o amigo estava no sítio onde o
deixara, sentado num sofá, um boné ao lado, com as pernas estendidas e os pés
pousados numa cadeira onde o sol incidia. A revista ficara esquecida numa
pequena mesa baixa que se encontrava atrás desse sofá. O
Jorge não descansou enquanto não obrigou toda a gente que estava no edifício
a falar. Eram quatro e dez quando iniciou a sua investigação. O
Ricardo, com a sua gaguez indisfarçável disse: -
Eu, eu , estititive no memeu quarto a estutudardar mamatemática. Não estatavava lá
mais nininguém. Jájá lá
estou desdede as duuuuas
horas. Teenho mmmais que
que fazer que que andadar a ver as tu tuas
revistas. Não me me me
chateies! O
Severiano, o caloiro do grupo, não gaguejava, mas via-se que estava receoso. -
Eu cheguei ainda não há um quarto de hora, fui ao quarto pousar os livros e
depois estive na cozinha a comer alguma coisa. Quando vinha a entrar
cruzei-me com o Quim Alberto, que estava a sair, levava uma mochila e me
disse que ia para a aula de Literatura. Havia
mais um residente dentro do edifício e que era o Roberto. -
E que tal se não me chateasses? Eu não sei onde estive, de onde vim, nem para
onde vou. Quanto às tuas revistas estou-me nas tintas para elas. Já agora,
que diferença te faz essa revista? É igual a todas as outras que lá tens. Só
lhe faltava ouvir o João. -
Quando saíste, o sol estava a bater-me nos olhos e pus o boné. Estava meio
adormecido. Ainda me apercebi de um ligeiro ruído nas minhas costas e de
alguém que de lá projetou uma sombra sobre mim, mas quando olhei para trás já
não vi ninguém na sala. Depois ouvi a porta da rua a bater, mas não sei se
entraram ou saíram. O
Jorge percebia que havia alguém que não lhe estava a dizer a verdade toda. Já
sabia quem era e ia ter uma “conversazinha” particular com ele. Quem
é que estava a mentir e provavelmente teria “desviado” a revista. A
– O Ricardo, porque ninguém conseguiria estudar matemática tanto tempo. B
– O Severiano porque àquela hora não poderia haver aulas de Literatura. C
– O Roberto porque está a mentir de forma óbvia. D
– O João porque as coisas não poderiam ter acontecido como ele conta. |
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© DANIEL FALCÃO |
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