Autor Data 10 de Abril de 2011 Secção Policiário [1029] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2011 Prova nº 4 (Parte II) Publicação Público |
O MISTÉRIO DA BALA TRANSVIADA Penedo Rachado Aquele
mês de Julho corria rijamente acalorado. Frente
à esquadra da polícia havia uma fonte ornamental e, talvez para aproveitar a frescura
proporcionada pelos jorros de água, o Comissário Liberto Andrade
encontrava-se sentado na borda da fonte conversando com alguém das suas
relações. Um
pouco mais além, à porta da esquadra, discutindo as peripécias do último
Benfica – Sporting encontravam-se dois agentes da PSP. Talvez
devido ao calor abrasador que se fazia sentir, a Praça estava, com excepção dos elementos já citados, completamente deserta
e silenciosa, silêncio esse que, repentinamente, foi quebrado pelo som de um
tiro disparado a não muito longa distância da esquadra. O
comissário levantou-se como que impulsionado por uma mola e saiu correndo em direcção a umas das vivendas que parecia ser aquela de
onde viera o som do tiro. Os dois agentes que discutiam sobre o Benfica e
Sporting, esqueceram a sua conversa e saíram também
disparados atrás do seu chefe. Chegaram
junto da porta, bateram e, quase imediatamente, esta abriu-se e no seu limiar
surgiu a figura alta, mas terrivelmente aterrorizada de um homem já idoso.
Cabelo completamente branco e longas suíças. Tinha o aspecto
daqueles mordomos que costumamos ver naqueles filmes cuja acção
se passa no séc. XIX. “Que
se passou?”, perguntou Liberto ao homem. “Na…
na… não sei… Foi no escritório do patrão!”, respondeu,
gaguejando, o homem que parecia mais aterrorizado a cada minuto que passava. Guiados
pelo velho, o comissário e os dois agentes dirigiram-se ao escritório cuja
porta estava fechada por dentro. Era forte a porta e resistiu às três
primeiras tentativas de arrombamento, mas à quarta não resistiu ao movimento
perfeitamente sincronizado dos três representantes da lei. Imediatamente
viram à sua esquerda, caído de bruços sobre a secretária, o corpo do dono da
casa. Liberto aproximou-se, tomou-lhe o pulso e depois apalpou a jugular.
“Está morto!”, foi a informação lacónica que
forneceu. Depois desviou a sua atenção para o cadáver. Havia
um orifício de forma irregular com os bordos queimados e muito mau aspecto na têmpora do lado direito. Ao redor do ferimento
os cabelos, para além de chamuscados, apresentavam também resíduos de
pólvora. Na
sua mão direita, pousada sobre a secretária, o morto segurava uma pequena
pistola semi-automática, por cujo cano ainda saía
uma leve coluna de fumo. A
cerca de um metro da secretária, um pouco para a sua direita, sobre o tapete
que forrava o chão, foi encontrada a cápsula da bala que teria sido
disparada. O
comissário tirou a arma da mão do morto e retirou-lhe o carregador que
esvaziou. Contadas as balas, foi constatado que para além da que tinha
servido para o suicídio, já que era evidente que disso se tratava, havia
outra em falta. Liberto voltou a colocar as balas no carregador e este na
arma, deixando esta junto da mão do cadáver que antes a segurava. O
comissário pareceu não ligar muito à falta da bala e dedicou-se a percorrer a
sala. Esta parecia não ter nada que despertasse a sua atenção. A única coisa
que pareceu interessar-lhe foi a janela provida de veneziana que se situava
frente à porta por onde haviam entrado e que dava para a praça onde se situava
a esquadra da polícia. As
vidraças da janela estavam abertas de par em par, mas, as portas de veneziana
encontravam-se fechadas por dentro. Depois
desta observação Liberto virou-se para os seus subordinados e disse: “Um
de vocês vai ficar aqui e não deixa ninguém entrar nesta sala. Nós vamos
voltar para a esquadra e telefonar para a Judiciária.” “Então
e não procuramos a bala que falta?”, atreveu-se a
perguntar o outro agente. “Não
interessa! Se estiverem interessados nisso, os da Judiciária que a procurem.” Pergunta-se
aos nossos amigos, amantes de mistérios e enigmas se, no caso do pessoal da
“Judite” precisar de ajuda, algum é capaz de indicar o sítio exacto onde se encontra a bala em falta: A
– O carregador não tinha o seu stock completo? B
– Não foi disparada e encontra-se na câmara da arma? C
– Encontra-se sob o corpo do suicida? D
– A arma encravou-se e a cápsula não chegou a ser extraída? |
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© DANIEL FALCÃO |
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