Autor Data 28 de Maio de 1981 Secção Mistério... Policiário [313] Competição Torneio
“4 Estações 80” | Mini C – Verão Problema nº 7 Publicação Mundo de Aventuras [398] |
Solução de: UM CASO PATERNO Pires Kid Solução
apresentada por Zé Penso
que este problema se resolve jogando com o factor
chuva, o que é mau. É mau para o solucionista porque «quem anda à chuva… molha-se»
e lá estamos nós sujeitos a «meter» água»… Oxalá
assim não aconteça porque me parece estar diante de um problema honesto,
prejudicado apenas pelo facto de haver uma «gralha» no texto. Algumas vezes
se cita o nome de João Figueiras. Porém, na última linha da 1.' coluna, surge o nome João Figueiredo. Acredito, porém, ser
gralha. Como tal o interpreto. Vamos,
agora, aos quesitos: 1
– O Inspector conclui que não houvera suicídio pela
configuração da ferida do tiro. Bastaria o facto de se tratar de um orifício
para não poder haver suspeitas de suicídio, já que uma ferida de um tiro
suicida apresenta como aspe-tos fundamentais: «Ser grande, irregular,
dilacerada, chamuscada». Ora dos 4 itens presentes só se apresenta um, «irregular»,
o que invalida a hipótese. Não entro em especulações sobre a distância a que
o tiro foi disparado porque, como o «Sete» vê, «profundo mas irregular
orifício› é vago e algo contraditório. Vestígios de pólvora? A menos de 80
cm/1 m eles deveriam lá estar. Estarão, não estarão? Calibre e tipo de
pistola? «Nikles»! Valerá a pena arriscar? Penso
que não. Aliás, o que se pede é se há ou não suicídio. Embora a descrição da
ferida seja vaga, não pode ser considerada tal hipótese. A
posição do tiro não diz nada. Um orifício um tanto à esquerda não significa
nada. Se o homem voltar a cabeça para a direita, rodando o pescoço, e
encostar a arma à fronte, pode fazer o tiro onde quiser, e frontal!!!
Logo… a relativa inexperiência do produtor talvez tenha querido insinuar que
um tiro à esquerda teria de ser um tiro em diagonal, com orifício de saída
junto ao parietal do mesmo lado. Porém, não é um facto provado. Registemos
apenas a estranheza da posição do orifício. Mais nada! Se o pescoço estiver
direito, um tiro na fronte teria de ser dado com o polegar (logo a arma não
estaria segura na mão que a dispara). Porém, se o pescoço estiver voltado
para a direita, o tiro pode ser dado com o indicador e em qualquer local. A
descoberta até nem é minha… Acontece que, neste momento, na minha bagagem
policiária estou a estudar (num livro francês e outro inglês), trajectórias e venenos. Logo… Se
o autor jogou com o local de entrada do tiro – nada a fazer — azar dele! Se
jogou com o aspecto da ferida, correcto
mas vago e incompleto. Se
jogou com o facto de o morto segurar a arma na mão direita – muito
discutível. A maior parte dos bons autores considera que, em caso de
suicídio, o suicida nunca segura a arma. Outros afirmam (mais poeticamente,
quanto a mim) que segura, agarrando-se à última coisa que o liga ao mundo. A
situação, porém, entra muito no campo do foro nervoso – espasmos, local de
tiro, psicologia do indivíduo. Logo… nada a fazer neste caso. Aponta-se a
situação para não parecer que houve esquecimento. Mas não se resolve por
falta de elementos e pendor especulativo da situação referenciada. 2
– Suspeita de crime. Sem
dúvida que as há – as mesmas que invalidam a tese cio suicídio. Mais do que
dúvidas – certezas! E
seria possível ficar por aqui, já que o autor não pede mais. Mas não se podem
deixar as coisas em meio. Há que apontar o criminoso, até porque, com o seu «aparecimento»
mais factos surgirão à luz do dia. E
um facto novo aparece com as declarações de um dos suspeitos. Analisemos
ambas: João
Figueiras não tem nada que o incrimine. O seu carro apresenta-se, àquela
hora, enlameado. Não tem nada de anormal. Tinha chovido, mas já não chovia,
como se conclui do intróito e da descrição da
chegada de Mafu à casa paterna. Logo, durante a
viagem a Vila Rainha e regresso, Figueiras encontrou a estrada com poças e
lama. Logo, tem o carro enlameado. Se o não tivesse é que era problema.
Quando deixou de chover, a lama agarrou ao carro e lá ficou, até que nova
chuvada a disfarçasse. Logo que secasse um pouco, ela reapareceria! Quanto
a Fragoso, a chuva vem traí-lo. Veja-se que Fragoso mente ao dizer que molhou
as calças, do joelho para baixo, à frente, quando veio para Águas Boas… Ora
isso é mentira. Mafú também veio para Águas Boas e
o vento batia-lhe por trás, indicando-lhe o caminho. Isto quer dizer que a
chuva bateria de frente em Águas Boas. Assim, se Fragoso se molhasse para
Águas Boas, molharia as traseiras das calças e não a frente. Se molhou a
frente, molhou-se ao sair de Águas Boas. Ao sair é porque já lá tinha estado
antes. Antes?... Quando matou o cunhado! Ó
«Sete»; e se o vento tivesse mudado no espaço de meia hora, como é tão
frequente? Lá estava o problema arrumado! Cale-se bem caladinho que eu
também. Pode ser que ninguém ponha esse problema. A
mim também não me convém nada pô-lo, porque fico sem suspeito… E isso era uma
chatice! |
© DANIEL FALCÃO |
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