Autor

Ponto PT

 

Data

23 de Novembro de 2014

 

Secção

Policiário [1216]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2014

Prova nº 9 (Parte I)

 

Publicação

Público

 

 

Solução de:

AS ÁRVORES DAS PATACAS

Ponto PT

 

A primeira conclusão a tirar, confirmada pelo próprio título do problema que se refere às “árvores das patacas”, é que a acção decorre no Brasil e, portanto, o Péricles Anacleto viveu as suas aventuras em Terras de Vera Cruz.

As “árvores das patacas” eram assim chamadas porque os emigrantes de outras épocas, ao regressarem a Portugal, traziam imensas fortunas, dizendo o povo que no Brasil as patacas cresciam nas árvores e era só abaná-las, para caírem. A pataca era uma moeda de prata que valia 320 réis. É claro que a esmagadora maioria dos emigrantes jamais regressava para contar como era, por lá ficando, por lá criando raízes, por lá morrendo, a maior parte das vezes na miséria…

A missão de Péricles Anacleto era a de visitar Viseu, Santarém e Belém, no cumprimento de uma promessa, o que parece ser despropositado, viajando para o Brasil, mas a verdade é que essas três cidades existem mesmo no Brasil, o que não acontece em Portugal, onde só existem duas delas: Viseu e Santarém.

Belém é apenas um bairro da cidade de Lisboa e não seria tratado no mesmo pé de igualdade com cidades. Ninguém diria “vou visitar Londres, Paris e Mouraria”, por exemplo.

Chegamos, pois, à confirmação de que o rumo de Anacleto é o Brasil, partindo de Portugal.

Uma vez que Péricles Anacleto partiu logo depois das “Festas”, dando corpo ao ditado “ano novo, vida nova”, terá largado o país em Janeiro, em pleno inverno, chegando ao Brasil, como é óbvio, em pleno verão, já que está no hemisfério contrário.

Isso está de acordo com a descrição que faz de uma copa frondosa de uma figueira, onde se terá escondido dos olhos do raptor, já que é uma árvore de folha caduca e portanto estaria bem composta de folhas no verão e completamente despida no inverno.

Provavelmente nunca saberemos se Péricles era um mentiroso ou não, mas a sua história tem tudo para ser verdadeira. O comportamento dele indica claramente que não é dado a gabarolices ou relatos de grandes feitos heróicos, ao reconhecer que esteve escondido na copa da figueira, quando podia inventar grandes feitos, o que faz pressupor que não é pessoa para rasgos de coragem ou valentia, tendo regressado de imediato e não se propondo ir cumprir o que teria prometido.

A assunção da sua pouca coragem para regressar ao local da acção, encaixa perfeitamente numa certa modéstia, que demonstra.

© DANIEL FALCÃO