Autor Data 5 de Março de 2006 Secção Policiário [764] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2005/2006 Prova nº 1 Publicação Público |
Solução de: MENTIRAS Procurador Incógnito Foram muitas as mentiras que
o nosso pai desnaturado disse para se desculpar por não ligar nada ao filho: Refere que andou dias e
dias sozinho pelas montanhas dos Andes, como se isso fosse tão fácil como
passear-se no Rossio, em Lisboa. As temperaturas baixíssimas, sobretudo de noite,
os temporais e as próprias dificuldades de acesso jamais lhe permitiriam
andar como diz e muito menos sem um guia especializado e competente. Os Andes ficam na América
do Sul, ou seja, abaixo da linha do Equador. Por isso, nunca ele poderia
orientar-se pela Estrela Polar que indica o norte e apenas é visível no
hemisfério norte. Na passagem do ano, refere
que a Lua era uma grande bola, pelo que estava em fase de lua cheia e
fazia-lhe recordar a cara bolachuda do filho. Isso quer dizer que por alturas
do Natal a Lua estaria a crescer e portanto em fase de quarto crescente, o
que ele associa ao nome do filho. Tudo estaria bem se ele não falasse da
Estrela de David, a estrela de seis pontas, revelando que o miúdo se chamava
David; a Lua não lhe podia recordar o nome do filho, porque no hemisfério sul
a Lua não é “mentirosa”: em quarto crescente aparece como um “C” e em quarto
minguante como um “D”. É precisamente ao contrário do que nós aqui vemos. Andou por florestas nunca
visitadas por brancos na Amazónia, onde conheceu tribos que nunca viram
ninguém exterior a eles. Mas a verdade é que o pai da história lhes contou e
ouviu histórias. Em que língua e por que forma, ninguém sabe e ele não diz.
Nunca poderia ter essa familiaridade e entender-se assim tão fácil e
amigavelmente com tribos desconhecidas. Diz que bem tentou
telefonar ao filho no dia dos anos, mas o azar bateu-lhe à porta porque não
havia telefone numa estação dos correios – como se isso fosse possível, e
ainda por cima por ser dia 5 de Outubro, feriado em Portugal por se comemorar
a implantação da República. Só que a história passava-se na Bolívia e não em
Portugal e lá não se comemora nada nessa data. |
© DANIEL FALCÃO |
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