Autor Data 29 de Novembro de 1979 Secção Mistério... Policiário [245] Competição Torneio
“Detective Misterioso" Problema nº 16 Publicação Mundo de Aventuras [321] |
O LIVRO ABERTO Professor Sanctus Dedicado a
Tony Cooper Um
pouco antes das seis horas da manhã, o inspector
Castro, da brigada de homicídios, esboçou uma atitude de alívio ao ver entrar
no palacete o homem que esperava. –
Ora ainda bem que veio, meu caro Tony Cooper. Esta
manhã acordei com uma enxaqueca dos diabos e tenho a paciência a zero graus.
Venha daí. Por
entre um cordão de polícias, o inspector encaminhou
Tony Cooper para o local do delito. O «Enxaquecas»,
como mais tarde o jovem Cooper o cognominara, informou-o
também de que não houvera roubo e, o presumível autor do crime, teria de ser uma das três pessoas encontradas na casa. A
vítima, o doutor Ernesto Sommel, de 55 anos, actualmente presidente honorário do Instituto Geral de
Astronomia e grande impulsionador da astrofísica no país, jazia deitado na
sua cama, com um pequeno punhal cravado mortalmente no peito. Numa das mãos,
cujo braço pendia inerte para fora do peito, apertava tenazmente um livro
aberto. Tratava-se de uma obra erótica intitulada: «No Mundo da
Prostituição», sem gravuras, no entanto. –
Aí está um facto estranho – atalhou Cooper. – Conheci
muito bem este homem e não o concebo a perder tempo com este género de
literatura. Era um homem íntegro, austero nos seus princípios, na verdade um
tanto ou quanto antiquados. –
Tem razão, o livro não lhe pertence. Veja isto, meu caro. Com
efeito, na primeira página branca do livro, estava escrito a esferográfica
esta incompleta dedicatória: «Ao caro flaviense, Doutor…». O restante estava
ilegível. –
O crime perpetrou-se cerca das quatro da madrugada de hoje, Tony, e só
existem neste caso três pessoas suspeitas. O melhor será irmos ouvir o que
têm para nos dizer. Passaram
a uma grande sala. O inspector pediu que cada
pessoa se identificasse e justificasse a sua presença no palacete. Principiou
por falar a governanta da casa: –
Chamo-me Justina e trabalho nesta casa há cerca de vinte anos. Ontem, como
estava com gripe, passei o dia na cama. Talvez por isso, ainda estava
acordada quando me pareceu que o senhor doutor me chamava. Vi luz no seu
quarto e dirigi-me para lá. Então, quando cheguei à porta, tive de fugir,
horrorizada, pois logo vi que o senhor doutor estava a esvair-se em sangue e
tinha qualquer coisa cravada no peito. Julgo que gritei bastante antes de
desmaiar. Depois, só me lembro de estar aqui. E aqui tenho estado. De
seguida adiantou-se um homem de meia-idade: –
Chamo-me Leopoldo Duque, parente afastado do doutor Sommel.
Sou advogado. Cheguei ontem à tarde de Chaves, onde resido, para, a pedido do
doutor, elaborar o seu primeiro testamento. Dialogámos até cerca das duas da
manhã e depois o doutor indicou-me o quarto. Acordei mais tarde aos gritos da
governanta e corri a inteirar-me do que se passava. Ajudei a trazer a senhora
para esta sala e, de seguida, telefonei para a Polícia. Por
último, o mais jovem dos presentes, declarou: –
Chamo-me Flávio Sommel, sobrinho do doutor Sommel. Sou professor liceal e cheguei ontem à noite de
Lisboa, porque meu tio pretendia falar comigo. Como era já tarde quando cheguei,
o meu tio indicou-me o quarto e adiou a nossa conversa para o dia de hoje.
Acordei também com os gritos da senhora Justina e ajudei o doutor Leopoldo a
trazê-la para esta sala. Mais
uma vez, o inspector dirigiu-se à governanta: –
Minha senhora, como está nesta casa há tantos anos, pode informar-nos se,
ultimamente, notou no doutor Ernesto gosto pelo género de literatura que
estava a ler? –
Nunca, senhor inspector! Esses vergonhosos livros
nunca entraram cá em casa. O senhor doutor era uma pessoa séria. Visivelmente
perturbado, Flávio Sommel interrompeu: –
Não vejo, inspector, que relação possa ter esse
livro… Mas,
com ar grave, também o doutor Leopoldo decidiu intervir: –
Esse livro, inspector, veio ontem para esta casa e
posso dizer-lhe quem o trouxe… –
Antes de mais – cortou o inspector – agradeço que
nos diga se o testamento foi ontem elaborado. –
Bem… não! Falámos bastante sobre o assunto, mas seria hoje que se faria o
documento. Após
estas palavras, o silêncio reinou durante alguns minutos. Tony Cooper, que aparentemente estivera todo o tempo
distraído, ignorou o olhar de censura do inspector
e bateu-lhe amigavelmente nos ombros, dizendo-lhe com uma voz ainda
sonolenta: –
Vou aliviar-lhe a dor de cabeça, meu caro; o livro já nos indicou o assassino.
QUESTIONÁRIO: 1 – Quem foi o assassino? 2 – Como é que o livro indicou
o assassino a Tony Cooper? |
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© DANIEL FALCÃO |
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