Autor

Quinto Pedro

 

Data

28 de Outubro de 2012

 

Secção

Policiário [1108]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2012

Prova nº 9 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

UM CASO DE SEQUESTRO

Quinto Pedro

 

Johnny acabou por confirmar as suspeitas que já existiam em seu redor, depois de algumas diligências e perguntas.

O seu caso parecia tão estranho que ninguém se atrevia a dar crédito àquilo que parecia ser uma enorme conspiração.

O Johnny revelou que era um pacato cidadão, que levava a sua vida com toda a normalidade. Iletrado, sem conseguir sequer assinar o seu nome ou dizer com precisão o que fazia ou quem era, com quem vivia ou onde vivia, revelava só, numa espécie de brasileiro difícil de entender, que desde pequeno lhe diziam que vivia na “terra dos quatro pedros” e que um dia, ao sair de casa, bem pela manhã, sem saber porquê, foi raptado e levado com os olhos vendados para um local completamente às escuras.

Pensou ter sido sequestrado, mas pobre como era, não podia ser para que recebessem algum resgate. Só podia ser para trabalhar como escravo ou coisa assim, porque ouvia falar que era um negócio que ultimamente estava na ordem do dia.

Ficou preso num compartimento escuro e húmido durante muito tempo, muitos e muitos dias, porque por uma pequena fresta apercebia-se da sucessão dos dias e das noites e como balançava sem cessar, sabia que estava no mar, a bordo de um barco. Uma vez por dia aparecia alguém que não lhe dirigia uma única palavra e não se mostrava, que lhe deixava comida e água e um balde para as suas necessidades, que ia substituindo diariamente.

Quando finalmente o suposto barco se imobilizou, muitos e muitos dias depois, não sabia quantos porque acabou por perder a conta, ainda permaneceu por lá durante alguns dias.

Finalmente, um dia o seu visitador descurou a vigilância e ficou uma fresta maior na porta e assim conseguiu ver de relance o seu vigilante, que ostentava um farfalhudo bigode grisalho, um nariz ligeiramente encurvado e pouco cabelo, caindo em madeixas desordenadas sobre a testa. Pela mesma fresta, conseguia ter uma visão mais alargada. Estava num porto, ao seu redor havia outros barcos e ao fundo uma torre de controlo que indicava “Abril 2012”. Bem se esforçava por ver o dia, mas não conseguia, de maneira nenhuma.

Nessa noite, olhou para o céu e notou que a Lua estava em quarto crescente. Forçou mais a porta e verificou que ela foi cedendo, lentamente e com algum barulho, o que o obrigava a empurrar muito devagar.

Lamentou não haver Lua Nova, para poder fugir sem ser visto, mas mesmo assim arriscou, deu a volta à cabine onde estava sequestrado e gatinhou até à amurada do barco, que galgou cautelosamente para saltar para o barco ao lado e assim sucessivamente até ser apanhado por um vigilante de um dos barcos, que o conduziu à polícia.

Depois de activada a acção policial, deram com um barco sem ninguém, mas com vestígios evidentes da presença do homem sequestrado.

Investigações posteriores, baseadas nos dados fornecidos, levaram a polícia a deter quatro indivíduos, todos susceptíveis de poderem ser responsáveis, mas seguramente um deles era aquele que o homem conseguiu vislumbrar.

Todos com aspecto físico muito semelhante, cada um deles deu as suas razões e explicações para o mês de Abril, em que ocorreram os factos, no porto.

O Joca, mostrou-se muito surpreendido com a situação e demonstrou que apenas esteve alguns dias em Portugal, entre os dias 3 e 6, para a sexta-feira santa.

O Zeca, apresentou provas de que apenas por cá esteve entre os dias 12 e 15.

O Naír fez o mesmo, o que confirmou que apenas esteve entre os dias 26 e 30.

O Juca provou que só esteve cá entre os dias 20 e 23.

A polícia confirmou estes dados, sem margem para dúvidas, o que aumentou as suas hesitações, sem conseguir estabelecer com clareza o que se passou e pediu ajuda à comunidade policiária.

Quem seria o visitador do nosso sequestrado?

 

A – O Joca.

B – O Zeca.

C – O Naír.

D – O Juca.

 

SOLUÇÃO (não publicada)

© DANIEL FALCÃO