Autor Data 22 de Novembro de 1986 Secção Sábado Policiário [51] Competição Problema nº 4 Publicação Diário Popular |
BRINCAR AOS DETECTIVES Repórter SOU EU A
secção policiária inserida no vespertino «Diário Popular», desde Novembro do
ano transacto, tem sido um autêntico viveiro de
novos policiaristas ou amantes da Literatura
Policial ou Policiária! Em
«Sábado Policiário», a sua secção «Problemística»
tem feito renascer numa grande quantidade de pessoas, que aos poucos vão
regressando às lides deste passatempo, e também nos novatos que agora se
iniciam, o interesse, a motivação e o gosto de estar a concorrer, sobretudo
conhecendo-se novas amizades! Além dos veteranos que voltaram ao nosso
convívio, como o Jartur, Big
Ben, Avlis e Snitram,
Mister Pond, Milena, entre outros, temos a registar
as caras novas ou os novos pseudónimos, que rapidamente se fixaram como
elementos de muito valor, prometendo, no futuro, que o policiarismo
continuará a primar pela sua regularidade. De entre muitos, salientamos, por
aquilo que nos foi dado conhecer, os seguintes: Mali, Inspector
Xeltox, Beribica, Freddy, Med Vet,
Molécula, Mafo, Crisal, Pajoca. Mantola, Vítor Jackson,
Ivo Guldrix, Inspector
Pevides, Carlos Franco, Falco, Coriolis, Mikas Spillane, Modesty Blaise, Gengis Khan, Nuno Hammer Jr., Sherlock Nunes, Dadá e Detective
Rosa. Imaginemos,
agora, que estes amigos e mais alguns, também nossos conhecidos, se juntavam
um dia, em determinado convívio e resolviam encenar ao vivo um problema
policiário…! A
ideia partira do Jorrod, que afirmara dirigir-se a
uma praia isolada e fingir-se de morto!!! Os
convivas, mais tarde, iriam procurá-lo e, conforme o seu estado, assim
concluiriam como ele morrera, havendo, igualmente, três ou quatro confrades
que arranjariam álibis, seriam interrogados por um inspector,
etc.… etc.… Pois
bem, feitos os preparativos, o Jorrod muniu-se de
uma faca, um bocado de cortiça, uma lata de polpa de tomate e partiu… Duas
horas depois, abalaram os outros convivas, em busca do «morto». Entretanto,
combinara-se que o inspector Xeltox
seria o investigador do caso e que Mali, Beribica,
Molécula e Lua Cheia seriam os «suspeitos» interrogados. Solicitou-se que
pregassem umas mentiras nos seus depoimentos para serem descobertas pelos
restantes convivas.
Ele
ali estava, impávido e sereno. Nem sequer abriu os olhos. Rapidamente foi
cercado pelos curiosos. Os mais atentos tomavam apontamentos sobre tudo o que
se encontrava em seu redor. O «morto», em pleno peito, uma vez que estava
deitado de costas, ostentava a faca cravada, como todos sabíamos, na cortiça
que tinha por baixo da camisa. Em redor da lâmina e sobre a camisa ali estava
o molho do tomate, bem fresquinho e brilhante. O «morto» estava na areia
molhada e húmida, praticamente num descampado, pois as primeiras rochas da
praia distavam uns bons setenta metros, bem como a linha de água. A maré
estava muito vazia, pelo que todos concluíram que vazara havia bem umas três
horas. Analisado
bem o «cadáver», veio a parte mais gira, o interrogatório dos «suspeitos». O inspector Xeltox tirou o seu
bloco de apontamentos e começou a anotar as declarações. A primeira a falar
foi a Mali: «Bem, eu nem sei porque sou suspeita deste caso. Lá por conhecer
muito bem a vítima e de vez em quando discutirmos por causa de negócios, não
quer dizer que eu o matasse! Se foi crime ou suicídio, também não sei. Hoje,
de manhã, por acaso vim até à praia e passei neste local, mas não vi corpo
nenhum! Aproveitei a maré vazia para apanhar umas lapas.»
Seguidamente
falou o Molécula: «Eu também não tenho nada a ver com isto. Pelo aspecto do corpo nota-se que a morte ocorreu há mais de
três horas, segundo os meus cálculos de detective!
E é mais que evidente que foi assassinado… Estou mesmo a ver… Vieram com o
rapaz para a praia, conversaram, etc. e tal e… pumba! Espetaram-lhe
a faca no peito. E eu até desconfio de dois tipos que vi hoje de manhã,
vindos deste local da praia. Quem eles eram? Ah, nunca os tinha visto noutro
lugar!» Por
último, disse Lua Cheia: «Não senhor. Este cadáver foi morto no mar e as
ondas, com a maré cheia, trouxeram-no até aqui. Depois, a maré vazou e aqui
ficou. Eu falo verdade porque fui a primeira a descobrir o corpo na praia.
Até o vi nas ondas aos trambolhões…» Após
as declarações dos «suspeitos», a «vítima» levantou-se, retirou a faca do
peito, limpou o molho de tomate e mesmo com a camisa um pouco suja foi
festejar o resto do convívio. Chegados
ao local da reunião almoçaram, e a organização do Encontro aprestou-se a
recolher as soluções escritas dos convivas, que entretanto tinham sido
completadas. Só os intervenientes no caso não puderam concorrer. Mais
tarde as soluções foram classificadas, entregaram-se os prémios, conviveu-se
em boa harmonia, mas o assunto do dia foi a discussão daquele problema
policiário ao VIVO! Então, não é que a maioria dos convivas não acertou
integralmente na solução!? Esqueceram-se que na solução de um problema
policiário é preciso explicarmos todos os pormenores para se conseguir os 10
pontos. Antes,
porém, de apresentarmos as perguntas da praxe aos concorrentes policiaristas da «Problemistica»
do «Sábado Policiário» sobre este caso, vamos prepará-los para elas, com algumas
indicações, dizendo-vos que se concentrem muito bem antes de elaborarem as
vossas soluções. Imaginem que estão perante um caso verdadeiro! Esqueçam o
molho de tomate e pensem que se tratava, realmente, de sangue a sério!… Não
veja no «morto» o Jorrod, mas sim verdadeiramente
um corpo morto. Depois disto, já podem responder ao seguinte: a)
Se estivéssemos perante um caso aparentemente verdadeiro, sem sermos
conhecedores da brincadeira, qual o pormenor relevante, provavelmente não
muito longe do corpo, que nos indicaria que não se tratava de crime nem de
suicídio? b)
Qual o pormenor comum a todos os depoentes que prova que todos estavam
mentindo nas suas declarações? c)
Indique e justifique as possíveis culpabilidades de cada um dos declarantes. |
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© DANIEL FALCÃO |
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