Autor Data 12 de Março de 2017 Secção Policiário [1336] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2017 Prova nº 2 (Parte II) Publicação Público |
O COFRE DOS DIAMANTES Rigor Mortis Afonso
tinha tido uma vida extraordinariamente rica. Nascido
quatro anos antes da Grande Guerra, fugira de casa aos 14 anos, embarcando como
grumete num navio mercante que se dirigia a Angola e Moçambique. Chegado a
África, enamorado pelas magníficas paisagens, abandonara o navio e tentara a
sua sorte em terra. Saltando de sítio para sítio, foi calcorreando toda a
zona sul do continente, usando a sua inteligência arguta para se ir safando. Um
ano depois já era conhecido em muitas paragens, como o rapaz capaz de
conseguir fosse o que fosse. Passo a passo, foi-se atrevendo a aventuras
capaz vez mais arriscadas. E cada vez mais proveitosas! Discretamente, sem
alardes, foi acumulando uma fortuna considerável. Aos
40 anos, resolveu regressar à sua terra natal, a poucos quilómetros de
Lisboa. Casou
com Maria Antónia, teve três filhos – Carlos, Jorge e Deolinda – e cinco
netos – Alberto, Eduardo, Íris, Orlando e Úrsula. A
aventurosa vida que tivera não lhe permitira estudos formais. Foi a escola da
vida que o formou, estimulando dia a dia a sua inteligência e a sua
sensibilidade. Talvez
por causa dessa vida aventurosa, Afonso era um homem gentil, chegado à
família, apoiando cada um deles quer emocional quer materialmente. Sempre
irónico, sempre bem-humorado, sempre pronto a provocar os outros com alguma
adivinha simples e ardilosa. O
nascimento de cada um dos netos foi uma enorme alegria para ele, dedicando-se
gostosamente a acompanhá-los no seu crescimento. Consciente do que o levara a
ser Homem, Afonso procurou por todos os meios estimular a criatividade, a
inteligência e a sensibilidade dos pequenos. Sem descurar que eles tivessem o
benefício da escola formal, algo que ele nunca tivera. Afonso
faleceu aos 80 anos, deixando imensa tristeza na mulher e em cada um dos seus
filhos, noras, genro e netos. Deixando também a cada um deles um largo
pecúlio em herança. E
deixando um pequeno cofre fechado e uma carta. Nesse dia, os seus doze
familiares estavam juntos, para lerem essa carta. Assim rezava ela: “Olá! Hoje
não estou junto de vós! Mas estou, e estarei sempre, dentro de cada um de
vós! Felizmente,
a vida deu-me forma de vos poder deixar algo que materialmente assegurará o
vosso futuro, sem problemas de maior. Isso deixa-me feliz! Este
cofre contem 5 diamantes, que há muitos anos extraí com as minhas próprias
mãos do solo, nas minhas andanças pela África do Sul. É um para cada um dos
meus netos! A
sua limpidez, a sua transparência e a sua pureza representam o que eu penso
deve ser a vida de cada um de vós, em cada um dos seus dias! Mas
lembrem-se, a vida nunca dá nada de borla… Terão que descobrir o segredo do
cofre… Decerto
que o poderiam arrombar, ainda que com algum esforço… Mas tal não abonaria
nem a vossa inteligência nem a vossa honestidade! Acredito que não o farão,
porque acredito em cada um de vós! Estou
certo de que conseguirão abrir este cofre! Para tal, só terão que mentalmente
rodar quatro vezes as cinco vogais e que as saber somar… Boa
sorte!” Os
doze olharam para o cofre de segredo, pequeno, pesado e antigo, de aparência
extremamente sólida. Num dos lados, quatro pequenos discos, cada um deles com
os algarismos de 0 a 9. O
longo silêncio que se fez foi rasgado pela voz doce de um dos pequenos: –
Já sei! Caro
leitor, qual era o segredo do cofre? A
– 1111. B
– 6666. C
– 1234. D – 3342. |
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© DANIEL FALCÃO |
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