Autor

Rip Kirby

 

Data

Outubro de 2005

 

Publicação (em Secção)

O Lidador… das Cinzentas [18]

 

 

Solução de:

OITO À MESA

Rip Kirby

Solução apresentada por Dic Roland

PRIMEIRA PARTE

 

1

Está morto o Januário!

Camisa cor de lilás,

Fato bege, de bom corte…

Dos “Leões” é partidário

Tão ferrenho, que só traz

A gravata que dá sorte…

 

Sentado a meio da mesa,

Tendo à esquerda o anfitrião,

A todos causa surpresa,

A dormir no cadeirão!!

 

Mas não dorme, nem é manha!

Desta vez não vence; perde,

Que a Sorte não acompanha

A bela gravata verde…

 

2

Quem matou? Será, decerto,

Um dos “amigos” mais reles,

Mas que brilham como sois!

Há quem aponte o Alberto

Que, em verdade, é um daqueles

Que só pensa em futebois

 

O fato é da cor dos céus,

A camisa lembra a Lua,

E a gravata – meu Deus! –

É do Sol a imagem crua!...

 

Oiro, vermelho, azulado

(Ironias do Destino!...):

À dextra do assassinado,

As três cores do assassino!...

 

3

Ao Vítor, que é diplomata,

Vão as minhas condolências

Antes do lauto jantar.

Fato, camisa e gravata

De luto, são evidências

Que nos cumpre respeitar. 

Anfitrião diligente,

Afável e generoso,

Não merecia tal presente

Cem por cento venenoso.

 

Com a vítima à direita,

Quem havia de dizer

Que outra morte o espreita

Sem de tal se aperceber.

 

4

Num dos topos, Francelino

Tem Felisberto à canhota

E Óscar logo a seguir;

À cabeceira, Etelvino

Com Paulo à dextra, denota

Certo gosto em presidir.

 

Mas quando tudo se apresta

Para início da função,

Surge alguém que estraga a festa

Com peremptória objecção!

 

Tem sotaque brasileiro

E é castiço no falar:

“Ninguém janta sem primeiro

Do terno se despojar!”

 

5

A todos, com mil bravatas,

Foi sacando as vestimentas

A coberto do negrume.

“Fatos, camisas, gravatas,

É o preço das ementas”

Dizia, com azedume…

 

Depois, entre dois trovões,

Ouviu-se uma gargalhada.

(No céu fulgiam trovões

Sublinhando a trovoada…)

 

Houve um que reconheceu

Aquele riso trocista.

“É Rip Kirby!” – gemeu,

Mas ninguém lhe pôs a vista…          

 

SEGUNDA PARTE

 

1

O temporal abrandou

E a luz, em pleno ocaso,

Finalmente lá voltou

Com meia hora de atraso.

 

A um canto, em pandemónio,

O vestuário despido

Que o fantasma (ou demónio…)

Ali deixara estendido.

 

É então que Mestre-sala

Põe à prova a sua argúcia:

A roupa a todos regala

Com rigorosa minúcia!...

 

Senhor de boa memória,

Toma nota, num caderno,

Da cor e peça acessória

Que notara em cada terno.

 

2

E é desse apontamento,

De preciosa valia

Que se extrai o documento

Cedido por cortesia:

 

 

TERCEIRA PARTE

 

1

Graças ao zelo e ao tino

Deste mordomo “a valer”,

Nada mais é necessário:

Se o Alberto é esquerdino,

O outro é (tem de ser!)

O da esquerda – o Januário!

 

Mas Januário, afinal,

É problema em discussão;

É aquele para o qual

É urgente a solução.              

Mas ouvi-lo, para quê,

Se de tudo está ausente?

E, se morto – já se vê –

Não diz verdades nem mente?...

 

2

A bala entrou na barriga,

Da direita para a esquerda,

Alojando-se no rim;

E não houve mão amiga

Que evitasse a forte perda

Sanguínea… e foi o fim!

 

O ângulo, bem medido,

Da trajectória perfeita

Indica o dedo atrevido

Do vizinho da direita.

 

Dedo que já se munira,

De forma nada legítima,

Co’a pistola que retira

Na residência da vítima.

 

3

O crime foi consumado

A coberto do fragor

Da noite tempestuosa.

Momento bem calculado,

Sob o manto protector

Da mesa silenciosa…

 

Será que o crime compensa

Contra a Justiça e a Moral?

Quem mata, é isso que pensa

Porque só pensa no mal…

 

Entretanto, de mansinho,

Na outra parte do Mundo,

Ouve-se o riso escarninho

De Alguém, no Brasil profundo!....

 

Imagem retirada da solução apresentada por K.O.

Digitalizar0002

© DANIEL FALCÃO