Autor Data 15 de Abril de 2008 Secção Competição Problema nº 7 Publicação O Almeirinense |
Solução de: O MISTÉRIO DO RELÓGIO DE CUCO Rip Kirby Extrato da solução
de Avlis e Snitram “Braille”, Louis. Pedagogo francês
(1809-1852). Era cego. Inventou um alfabeto para utilização dos invisuais. A
escrita Braille, de uso
internacional, consiste em seis pontos assinalados em relevo, usados para
constituir 63 variantes, que formam o alfabeto; lê-se tocando os sinais com
os dedos” (in “Dicionário Enciclopédico” – Diário de Notícias – Vol. 1 – A a H págs. 262/263). A
tabela apresentada no fim do texto apontava para o alfabeto Braille. E, se
algumas dúvidas houvesse, a nota que se lhe seguia – “Estes pequenos círculos
eram pintados de negro, o que lhes dava um pequeno relevo” – desfazia-as de
imediato. (…) Feita a transposição, eis o resultado: ABSBJMO || LZROXOK ||
LOBILDF || LABZRZL Grande
desilusão! A mensagem que esperávamos mantinha-se bem escondida. O autor
utilizara uma escrita secreta, para tornar mais difícil a solução: Criptografia,
pela certa! Havia que pedir ajuda aos mestres. Do
ABC Policial nº 3, de A. Varatojo, respigo, a págs. 54: “3 – O género de
cifra empregado. Os métodos mais comuns são: O
de inversão: cada letra do texto substituída por um alfabeto convencional. O
de transposição: a ordem das letras é baralhada. O
de dicionário: cada palavra é substituída por um número, de acordo com um
código cifrado de que dispõem ambos os correspondentes”. Fiquemos,
para já, com o primeiro: o de inversão. Cada letra do texto substituída por… Substituímos
o A pelo B? O B pelo C? O S pelo T? Continuamos a zero. Vamos reler o
problema, com mais atenção, se possível. E algo salta à vista: “O professor, apesar de toda a sua
inteligência, tinha uma fraqueza supersticiosa pelo número 3 e pelo triângulo... ...
a força do cristianismo estava na
Santíssima Trindade ...
tinha um carinho especial pelo Eduardo
(Trindade) ...
o apelido que ele carregava consigo (Trindade) haveria de o levar longe na profissão.” Com
a ajuda do citado ABC Policial – e as linhas acima – desconfiamos que o
sistema utilizado foi uma conversão mono-alfabética
de cifra 3 – três lugares a seguir. Vejamos o resultado: Alfabeto
normal: ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVXYZ Letra
correspondente três lugares a seguir: DEFGHIJKLMNOPQRSTUVXYZABC Retomemos
a mensagem não entendida. Vamos substituir, na mensagem, as letras pela
correspondente três lugares a seguir – (ex.: o A passa a D; o B passa a E,
etc.): ABSBJMO
= DEVEMPR LZROXOK
= OCURARN LOBILDF
= ORELOGI LABZRZL
= ODECUCO Fez-se
luz! “DEVEM PROCURAR NO RELÓGIO DE CUCO” Era
a pista para a descoberta do testamento. Extrato da solução
de Nove As
instruções relativas à descoberta do testamento datavam de dois anos atrás. O
relógio de cuco, para onde elas apontavam, atrasava-se quase três horas por
dias, há mais de dois anos, sem que o professor Ludgero Silveira autorizasse
a sua reparação. Ficou assim estabelecida uma muito provável relação de causa
e efeito: o relógio atrasava-se por causa do testamento lá escondido e o
falecido nunca antes permitira a respectiva
reparação, porque isso levaria à descoberta antecipada do documento. (...)
A regulação dos relógios de cuco, que se atrasam ou adiantam, nunca é feita
através de qualquer ajuste das pinhas, nomeadamente por remoção ou junção de
quaisquer pequenos pesos. Para regular os relógios, vai-se à unidade
cronométrica, ao dispositivo de pulsar sempre igual e que, nos relógios de
cuco, é, quase sempre, um pêndulo. Subindo ou descendo o peso do pêndulo –
ou, por outras palavras, diminuindo ou aumentando a distância entre o centro
de gravidade do conjunto pendular e o eixo de oscilação – põe-se o relógio a
trabalhar mais depressa ou mais devagar e, o que é mais importante, sempre de
maneira regular. O
testamento colocado num ponto onde provocasse atrito, levando qualquer
engrenagem a andar um pouco mais devagar, não teria como resultado um atraso
sempre igual, todos os dias, ao longo de dois anos. A força de atrito não se
manteria constante, nem durante um dia. O comportamento, em princípio, seria
errático e culminaria, talvez, com uma paragem ou um feliz regresso à
normalidade. O
pendular atraso de um relógio, como o adjectivo
indica, só pode provir do seu pêndulo, ou de algo que o substitua. Um relógio
que se atrasa (ou adianta) o mesmo todos os dias e ao longo de dois anos terá
como único mal, portanto, a deficiente regulação da sua unidade cronométrica. Deste
modo, o Sargento Silveira teve de parar o pêndulo e tirar de lá o testamento
que estaria escondido atrás do seu peso. Da colocação do testamento resultou
um abaixamento do centro de gravidade do módulo pendular e daí um atraso
sistemático e sempre igual do relógio. |
© DANIEL FALCÃO |
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