Autor Data 1 de Outubro de 2009 Secção Competição Problema nº 1 Publicação O Almeirinense |
Solução de: O MISTÉRIO DO PROBLEMA ROUBADO Rip Kirby Como
eu refiro, em menino, o meu grande sonho na vida sempre foi o de vir a ser um
grande escritor, sonho esse que jamais se concretizou. Passei depois a
contentar-me apenas com o consolo de escrever problemas policiários. Contudo,
continuei a sonhar. Agora, já não em ser um grande romancista; mas de vir a
escrever o problema policiário perfeito e, segundo afirmo, havia conseguido
alcançar esse desiderato. Contudo, um canalha, na minha opinião, havia
roubado as folhas onde eu imprimira a minha obra-prima e, como se isso ainda
fosse pouco, apagou o arquivo do computador onde eu a digitara. José,
o meu mordomo, nada entendia de computadores, pelo que, embora pudesse ser
ele o ladrão das folhas, não saberia como lidar com o computador, pelo que
fica desde já descartada a hipótese de ter sido ele o ladrão. O
Tadeu saiu comigo e só voltou já noite; portanto, também não foi ele o
ladrão. O
Cornélio, quando eu saí, já estava no jardim, entregue à sua paixão pela
jardinagem, onde ainda se encontrava quando eu voltei, como se pode entender
pelo facto de ter sido aí que eu o interroguei. Certamente
que ele não entrou em casa enquanto eu estive ausente; caso contrário, o José
teria dado por isso, pelo que também está eliminado do número de suspeitos. Resta-nos
o Jesuíno, mas, de acordo com o testemunho de José, ele saiu de casa quase ao
mesmo tempo que o mordomo, tendo-se dirigido, com um livro debaixo do braço,
para um pinhal próximo, onde é suposto ter passado a tarde a ler. O José viu
ele voltar, quando o sol já ia bastante baixo. Por
tudo isto, também não podemos afirmar que o ladrão tenha sido o Jesuíno.
Nenhum estranho entrou na propriedade, porque, se assim fosse, o José (que se
sentara num ponto estratégico para vigia) havia de ver essa possível invasão. Por
tudo isto, quem teria sido esse misterioso ladrão? Como
repararam, ninguém viu os papéis onde eu afirmo ter imprimido a minha obra e
que havia deixado sobre a minha cama. Certamente, repararam também que eu,
antes de sair, fechei a porta do meu quarto à chave e levei esta comigo. E,
finalmente, na porta do quarto, nada havia que me tivesse chamado a atenção;
pelo que se depreende que não foi arrombada. Então, como se entende o
desaparecimento das referidas folhas? A
conclusão a retirar só pode ser uma – essas folhas nunca existiram! Portanto,
não foram roubadas. Eu é que, para satisfação do meu amor-próprio, inventei
esse roubo. Se
eu afirmasse que tinha escrito uma obra-prima e, depois, sem que ninguém a
visse, dissesse que ela tinha sido roubada, jamais alguém poderia afirmar que
eu nunca conseguira o meu objectivo. |
© DANIEL FALCÃO |
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