Autor

Rip Kirby

 

Data

13 de Março de 2011

 

Secção

Policiário [1025]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2011

Prova nº 3 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

DESVIARAM UM AUTOTANQUE

Rip Kirby

 

Eu não sei de nada, eu não estava lá, eu não vi nada.

O que sei é aquilo que me contaram, mas não posso afirmar que isso seja verdade.

A história que me contaram foi que um autotanque carregado de vinho havia saído, às 12 horas, da Vidigueira com destino a Setúbal. Trinta minutos depois de ter saído da Vidigueira, Armando Garrocho, 30 anos, motorista do autotanque, residente perto da Vidigueira, telefonou para a adega de onde saíra para informar que o veículo lhe havia sido roubado.

As autoridades foram imediatamente alertadas e em breve as estradas das redondezas eram percorridas, em todos os sentidos, por carros da Brigada de Trânsito da GNR. Também patrulhas desta corporação a pé e a cavalo vasculhavam todos os recantos desse imenso Alentejo.

Interrogado sobre o incidente, o motorista disse que tinha parado num café para beber uma bica e comprar tabaco quando de repente ouviu o motor do seu veículo a trabalhar.

Correu até à porta do café mas já não lhe foi possível impedir o roubo.

A uma pergunta que lhe foi feita nesse sentido respondeu que os assaltantes eram três e que ainda os conseguiu reconhecer, passando a citar os seus nomes:

Joaquim Carranca, 40 anos, motorista desempregado; Manuel Bailador, 25 anos, sem profissão e desempregado crónico; e Francisco Parreirinha, 28 anos, carteiro, todos residentes na Vidigueira.

Interrogados, Carranca disse que tinha ido a Arraiolos de manhã cedo só tendo regressado depois das 18 horas. Não era para ter demorado tanto, mas estivera esperando uma boleia do seu compadre António Bonifácio, o que este confirmou.

Bailador afirmou que tinha passado toda a manhã na Ribeira tentando apanhar uns peixinhos que lhe dessem para comprar tabaco. Não viu ninguém e também lhe parecia que ninguém o tinha visto, pois estivera sempre abrigado do sol debaixo de um chaparro.

Parreirinha contou que estivera desde as 9 horas na estação dos Correios separando a correspondência para a entrega. Às 10 horas, como de costume, iniciou o seu giro entregando o correio parando aqui e ali para dois dedos de conversa com alguns amigos que ia encontrando aqui e ali.

Às 12 horas terminou a volta tendo regressado à estação onde prestou contas do seu serviço, o que demorou cerca de 45 minutos. A funcionária com quem tinha que acertar as contas do dia estava a ser sempre interrompida ora por clientes ora pelo telefone, o que demorou mais o serviço.

Estas declarações foram confirmadas pela funcionária da Estação do Correios. Quando saiu dali foi almoçar.

Finalmente, depois de três ou quatro dias de buscas, a unidade tractora do autotanque apareceu escondida sob um pinheiro enorme, mas do reboque nem sinais. Para tentar encontrar pistas foi chamada a polícia científica que encontrou o interior da cabine impecavelmente limpo. Não havia qualquer sinal de poeira.

Em todos os objectos em que normalmente o condutor teria que tocar por este ou por aquele motivo – volante, alavanca de mudanças, travão de mão, porta-luvas, etc., etc. – não havia qualquer sinal de impressões digitais.

Sobre o banco do condutor foi encontrado um pano de flanela e depois de mais algumas buscas acabaram por ser descobertas uma impressão digital, de uma mão relativamente pequena sobre o assento do condutor, e outras semelhantes no manípulo exterior da porta do lado esquerdo.

As impressões encontradas foram comparadas com a de todos os suspeitos, mas não tinham semelhança alguma.

Falando meio a brincar meio a sério, um dos polícias lembrou:

“Então e se comparássemos essas impressões digitais com as da mulher do Garrocho?”

Pergunta-se: quem teria desviado o autotanque da sua rota?

 

A – Armando

B – Joaquim

C – Bailador

D – Parreirinha

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO