Autor Data 16 de Outubro de 1948 Secção Publicação O Século Ilustrado – nº 563 VER “O BLOCO-NOTAS FALOU”, publicado na “Secção Policial”, de «A VOZ PORTALEGRENSE” em 12.03.1955 |
O SEGREDO DO BLOCO-NOTAS Roussado Pinto O
Inspector Lorrimer, ajustou melhor o cigarro na boquilha curta, e fitou a
jovem secretária, sentada na sua frente. A rapariga, inquieta, lançava-lhe
olhares de susto e obstinava-se num silêncio de morte. -
Esta pequena tem qualquer pecado a roer-lhe a consciência, mas não
desembucha! – resmungou o Inspector. Lee
Still, jornalista de um dos maiores jornais diários americanos, que entrava
nesse instante e ainda a tempo de ouvir as últimas palavras do polícia,
exclamou alegremente: -
Tem razão, inspector. Mas
o que ela esconde já eu descobri! Dois
dias antes, Bill Tompson, um dos sócios da Agência Internacional do Comércio,
saíra do escritório para depositar sete mil dólares no Banco e não aparecera
mais. Da sua pessoa ficara, unicamente, um bloco-notas, com diversos
apontamentos, que resumia o serviço, nesse dia, da sua secretária. Eis
o que lá estava escrito: -
Ir ao banco tratar da licença de importação para borracha. -
Brasil, City Company: suspender transacção. -
Dia 12: reunião dos sócios gerentes da Agência. -
Falar com Laurence, dos escritórios Collins. -
António Rodrigues: enviar-lhe cotações do trigo. -
Telefonar para Henry Morton. -
223.438, peças oleosas de sintético, para Jacques Lengy (França) - ordem
especial para o armazém. De
princípio, era ideia assente o rapto de Bill, mas logo foi descoberto que
este não só não fizera o depósito dos sete mil dólares, mas levantara ainda
mais quinze mil, antes de desaparecer. *
* * O
inspector Lorrimer olhou boquiaberto o jornalista e deixou que um clarão de
triunfo lhe perpassasse pelas pupilas amortecidas. -
Que descobriu, afinal, Still? – perguntou. Mas
o interpelado, sem lhe responder directamente, dirigiu-se para a jovem e,
apontando o bloco, perguntou: -
Estes apontamentos não lhe dizem nada? A
rapariga teve um sorriso apagado e concordou com a cabeça, dizendo: -
Naturalmente… é o meu serviço. -
O seu serviço… e o da polícia! – observou o jornalista. É desnecessário
mentir, pois já discerni a meada… Essas indicações dizem claramente onde se
vai encontrar com Bill Tompson… Não se espante, que a resolução é fácil. O
inspector avançou, embaraçado e, sem compreender, ouviu, então, a narrativa
de Lee Still. Já no fim, com um sorriso nos lábios, Lorrimer exclamou: -
E eu que não tinha pensado nisso!... Boa cabeça, meu caro, muito boa cabeça… E
enquanto fazia a prisão da jovem secretária, concluiu: -
Agora só nos resta ir buscar o coelho à toca! PERGUNTA: Qual
a mensagem oculta nos apontamentos que permitiu a Still resolver o caso? |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|