Autor Data 23 de Outubro de 1948 Secção Publicação O Século Ilustrado – nº 564 |
O MERGULHO FATAL Roussado Pinto Enquanto
o inspector Lorrimer interrogava mr. Jones, milionário, Lee Still, o
inteligente repórter, aproximou-se da prancha da piscina, construída em
cimento armado, no fundo da qual se via um cadáver, e retirou de lá um
relógio de pulso para senhora. Deitou um olhar à piscina vazia e não pôde
evitar um estremecimento ao contemplar a massa disforme em que ficara o corpo
de miss Doroty. Aproximou-se,
depois, dos dois homens e entregou o relógio ao dono da casa. -
É de Doroty! – exclamou aquele, ao receber o objecto. – Com certeza o tirou
antes de dar o mergulho fatal... Still,
inexplicavelmente, sem quase esperar o resto da resposta, apanhou uns sapatos
de borracha colocados na margem da piscina. Dentro de um deles havia um maço
de cigarros e um isqueiro. Olhou os objectos com atenção, voltou-se para mr.
Jones e, sem reparar na sua cara aborrecida, disse: -
Peço-lhe que me conte exactamente o que lhe aconteceu. O
milionário acentuou mais os traços de descontentamento, sacudiu os ombros e,
com um gesto de resignação, começou: -
Como já esclareci o inspector, sinto-me, indirectamente, culpado do que
aconteceu. Recebi hoje, diversos convidados que vieram passar o fim-de-semana
nesta minha propriedade, e todos, com excepção de Doroty, foram a uma festa
campesina numa aldeia próxima e ainda não voltaram. «Pouco
mais ou menos, às onze horas, eu e Doroty, que tínhamos estado a beber,
resolvemos vir nadar, a pedido da minha infeliz amiga. Ela deu uma corrida,
chegou antes de mim e gritou: «Jones!, as lâmpadas estão apagadas!». Faço
notar que Doroty conhecia bem a piscina… Fui verificar o quadro geral da
corrente. E, enquanto eu tentava examinar os fusíveis, ouvi nova frase: «Vou
mergulhar!». Lembrei-me, instantaneamente, de que era sexta-feira, dia que o
empregado reservava para retirar toda a água do tanque e limpá-lo. Dei um
grito de alarme, corri, mas… já era tarde. A minha querida e jovem amiga
jazia imóvel no fundo da piscina. Foi horrível. O
jornalista sorriu, passou a mão pelos cabelos e fitou o polícia, que olhava
dolorosamente o milionário, curvado ao peso do desgosto que tão bem
demonstrava. -
Então, inspector? – perguntou. -
Acidente, amigo, acidente bastante estúpido. -
Discordo levemente da sua opinião. – retorquiu Still, enquanto o milionário o
olhava com curiosidade. Miss Doroty foi assassinada…e o assassino é mr.
Jones. PERGUNTA: Que
levou Still a acusar o milionário? |
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© DANIEL FALCÃO |
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