Autor Data 3 de Março de 2013 Secção Policiário [1126] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2013 Prova nº 2 (Parte I) Publicação Público |
UM CASO DE ESPIONAGEM? Rubro Pálido O
general Arménio Teixeira estava uma fera. A cólera era tanta que o rosto
estava vermelho que nem um tomate e os olhos brilhantes pareciam chispar. Afinal
o que se tinha passado para que o chefe dos serviços secretos estivesse
naquele estado de irritação. Havia chegado pela manhã ao seu gabinete e
dirigira-se ao grande cofre de aço onde eram guardados os documentos secretos
que estavam em análise. Na véspera, antes de sair, tinha-os colocado no cofre
e agora não estavam lá. O
desaparecimento dos documentos punha em perigo a segurança nacional, mas pior
do que isso punha em perigo aquele tacho que lhe rendia cerca de 15.000,00
euros mensais. Por essa razão queria manter em segredo o desaparecimento dos
documentos, mas como conseguir isso. Pensando numa solução o general andava
no seu gabinete de um lado para o outro, rogando pragas, parecia uma fera
enjaulada. Andando
neste vai e vem lembrou-se do seu amigo o coronel Faria de Freitas diretor da
Polícia Judiciária Militar. Ele podia ajuda-lo a descalçar aquela bota e como
lhe devia uns favores até investigaria o caso sem deixar que nada do
acontecido saísse lá para fora. E se bem o lembrou melhor o fez, dirigiu-se
ao telefone e ligou para o coronel que se prontificou a ir falar com ele. Cerca
de uma hora mais tarde o coronel Faria de Freitas era recebido na sede dos
serviços secretos portugueses pelo chefe destes Arménio Teixeira que pôs o
seu amigo ao corrente daquilo que desejava. Quando terminou Faria de Freitas
perguntou: –
Quem possui a chave do cofre e quem conhece o código de segurança. –
A chave só eu a tenho quanto ao código de segurança para além de mim há três
outros oficiais que o conhecem só que, enquanto eu o conheço totalmente, eles
só conhecem duas letras cada um. Em todo o caso sem a chave eles não podem
abrir o cofre. –
E ontem não deixaste a chave abandonada em qualquer lado? Insistiu Faria de
Freitas. –
Impossível, sempre a trago ao pescoço num cordão de ouro, só a tiro à noite
quando me deito e deixo-a debaixo do travesseiro. –
Então quem são os oficiais que conhecem letras do código de segurança do
cofre? –
O tenente-coronel Alvarenga, o major Braz e o capitão Torquato. –
Manda-os chamar por favor. O
primeiro a chegar foi o tenente-coronel Alvarenga. Faria de Freitas sem mais
delongas dirigiu-se a ele e perguntou-lhe quase em jeito de afirmação:
Coronel o senhor ontem à noite ou hoje de manhã abriu o cofre do gabinete do
general Arménio Teixeira. –
Eu!?... Não estão bons da cabeça, respondeu
Alvarenga de modo colérico. Como ia eu abrir o cofre se não tenho a chave,
além disso só conheço duas das letras do código de segurança. Bem pode-se
retirar, se precisarmos de si voltaremos a chamar. Poucos
minutos depois, cantarolando, entrou o Major Braz. –
Então o que há? Mandaram-me chamar, precisam de um parceiro para a sueca? Ou
será para a lepra? –
Deixe-se de brincadeiras –, ordenou o coronel Faria de Freitas, e repetiu nos
mesmos termos a pergunta que havia feito a Alvarenga. –
O quê? Arrombaram o cofre do general? Ah! Ah! Ah! Devia ter sido alguém muito
forte ou então usaram uma bazuca! – Exclamou o major e continuou a rir. –
Deixe-se de risotas –, ordenou Faria de Freitas já irritado com a boa disposição
do Major. – Não foi arrombado nem usaram bazuca, foi aberto com a própria
chave. –
Com a própria chave! – Exclamou o Major. – Não pode ser. O General não
passava aquela chave nem para as mãos do avô e muito menos para as minhas
pelo que eu não podia abrir o cofre por não ter a chave e por necessitar de
alguns outros elementos. – Dito isto voltou a soltar nova e estridente
gargalhada. –
Saia imediatamente! – Ordenou o Coronel em tom colérico. – Saia antes que o
mande prender. O
Major dirigiu-se para a porta, mas não deixou de retrucar. –
Preso! Seria engraçado! – E saiu imediatamente antes que a ameaça fosse
cumprida. O
General Arménio Teixeira e o diretor da PJM ficaram conversando enquanto
esperavam a chegada do Capitão Torquato mas passados 30 minutos cansados de
esperar abriram a porta e perguntaram pelo Capitão ao funcionário que
trabalhava na sala ao lado. Este depois de consultar umas fixas respondeu: –
O Capitão não veio hoje. O
Coronel voltou ao gabinete do General dizendo: – Pronto já temos o nosso
culpado, não veio hoje e certamente não virá nunca mais, fugiu. Vou já fazer
a participação. – E sentou-se à secretária e iniciou o preenchimento do
imprenso próprio para esse efeito. Tão entretido o Coronel estava naquela tarefa
que nem deu pela entrada de um sargento na sala, que veio entregar uma pasta
de couro ao general dizendo-lhe que ele a tinha deixado na tarde anterior
sobre uma secretária num outro gabinete. O
General agradeceu e sorrateiramente foi meter a pasta numa gaveta da sua mesa
de trabalho. Em seguida foi até junto do Coronel Faria de Freitas dizendo: –
Deixa isso que eu faço a participação. Vamos até à cantina beber um Whisky. Será
que os nossos detetives nos contam pormenorizadamente o que ali se passou? |
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© DANIEL FALCÃO |
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