Autor

Sete de Espadas

 

Data

10 de Abril de 1975

 

Secção

Mistério... Policiário [5]

 

Publicação

Mundo de Aventuras [80]

 

 

HÁ COISAS DE QUE NEM TODOS SE LEMBRAM…

Sete de Espadas

 

Vejam lá vocês que há dias, ao rebuscar em papéis velhos uma ideia que eu sei existir dentro dos meus montões de sobrescritos com apontamentos vários capazes de darem contos ou serem perdidos, por vezes ingloriamente, em problemas policiários, encontrei numa folha amarelecida de um bloco com linhas o seguinte esquiço:

a) A vítima e o outro…

b) O outro é um conhecido escritor, em investigações para um novo livro, na Biblioteca Municipal…

c) A vítima tem a meio da testa, muito lisa e algo rosada, nem parecendo já cadáver, somente o conhecido orifício provocado pela penetração de uma bala…

d) O escritor é patrão da vítima…

e) A vítima, que deve ter tido morte instantânea, está caída de costas, a meio do escritório…

f) O outro, segundo declarou, não quis dar aumento ao empregado quando, na noite anterior, este lho pedira…

g) A Biblioteca funciona todas as tardes, sempre com muita afluência de leitores…

h) O outro disse que se ausentara às 15 horas do seu escritório, indo directamente à Biblioteca…

i) A pistola, junto à mão direita da vítima, tinha somente as suas impressões digitais…

j) Segundo o patrão, a vítima tinha-o provocado na Biblioteca, armando barulho, o que o levara a obrigá-lo a retirar-se…

l) O outro, interrogado, confirma que a pistola é sua e é guardada numa das gavetas da ampla secretária…

m) A vítima fora encontrada pelo patrão quando este regressara da Biblioteca, pelas 17 horas…

n) A morte, segundo o médico presente, talvez viesse entre as 16 e às 17 horas…

o) Em casa do outro, não havia mais ninguém…

p) A vítima, tal como o patrão, viviam na vivenda, mas tomavam as refeições, separados, no «Restaurante Carvalhos»…

q) A bibliotecária, mais tarde interrogada, não se recordava de o escritor lá ter estado nesse dia…

r) O outro, interrogado sobre isso, declarou que é natural, porquanto como já não preenche ficha, vai logo direito, e no maior silêncio, ao lugar das consultas…

s) Ninguém se recorda de ter visto nesse dia alguém estranho na Biblioteca, nem a secretária do escritor…

Estes são todos os apontamentos esquiçados na velha folha amarelecida…

Relidos atentamente, achei que nem valia a pena estar a perder mais tempo com «floreados de retórica», porquanto estava ali tudo para um problema… Por isso, e com aqueles dados, eu posso perguntar:

01 – Acha que foi crime?

02 – Diga o porquê da sua afirmação.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO